Música para (do) o Jabor

“A Rita Lee fez uma música com a letra tirada de um artigo que escrevi, sobre amor e sexo.
A música é linda, estou emocionado, não mereço tão subida honra, quem sou eu, quase
enxuguei uma furtiva lágrima por estar num disco, girando na vitrola sem parar
com Rita, aquela hippie florida com consciência crítica, aquela hippie
Paródica, aquela mulher divinamente dividida….(….)

Arnaldo Jabor morreu na terça passada, aos 81 anos, devido a complicações de Acidente Vascular Cerebral que sofreu no ano anterior. Cineasta, roteirista, diretor, dramaturgo, crítico, escritor e jornalista, o legado dele é imenso para a cultura brasileira. Se nos meios filmográficos e literários era muito respeitado e conhecido, no âmbito popular ganhou destaque como comentarista televisivo, principalmente no Jornal da Globo. Para o escrevinhador aqui, a característica maior do Jabor era o paradoxo, nos filmes e sobretudo nos textos, ele usava muito bem e claramente a figura de linguagem, mas que tinham o sentido da complementariedade e ponderação, e não a da contradição em si.

Rita Lee fez a música e tão bem a interpreta, Amor e Sexo foi sucesso em 2003, ela usou uma crônica escrita por Arnaldo Jabor em 17 de dezembro de 2002. Logo a baixo do título de hoje, Jabor escreveu um pouco da sensação de ter um texto dele virado música. E a crônica citada ele se inspirou numa conversa de duas amigas que ele encontrou no Leblon, Rio de Janeiro.
Segue a letra da música, belíssimo paradoxo:

“Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema

Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia

O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa-nova
Sexo é carnaval

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom….
Amor é do bem….

Amor sem sexo,
É amizade
Sexo sem amor,
É vontade

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes,
Amor depois

Sexo vem dos outros,
E vai embora
Amor vem de nós,
E demora

Fases de Fazer Frases
Olhar é cúmplice só do que vê.

Olhos, Vistos do Cotidiano
Normal é o relógio na parede, as horas, não. Ponteiros apontam a vida.

Farpas e Ferpas (I)
Em meio a miséria só o luxo não é mísero.

Farpas e Ferpas (II)
Liberdade não é problema. Língua solta, sim.

Reminiscências em Preto e Branco
Referência ao texto principal da Coluna de hoje, a música Amor e Sexo, usei a letra no conteúdo de uma prova para que os estudantes de Direito (Disciplina Metodologia, Ensino e Pesquisa), fizessem análise, interpretação e opinassem. Embora existissem os de bom conteúdo, não foram poucos os alunos que não souberam – nem faziam a menor ideia – do que fossem, bossa-nova, latifúndio ou prosa e poesia.

José Eugênio Maciel | [email protected]