Seja lá como for

Seja lá o que for, faça esperando acertar, se preparando para errar”.

Frank Betin

Seguir um outro caminho, apenas para conhecer outras sendas, experimentar aventuras sem controle, rumo.

Deixar na distância do espaço e do tempo, os trajetos seguros, tantos percorridos.

Eu tonto e tanto.

Assim faço, agora, mais do que o diferente, ao contrário do tudo.

Poderia não escrever, ou, se escrito, não enviar para o Jornal.

A Coluna então não ficaria em branco, se faria o certo, outro texto – a Tribuna a Livre – ocuparia este lugar. Mas, seja lá o que for, uma vez pronto, vai o desapontado/desafrontado texto, sem ideia que o texto deve primar.

Retomo o que está escrito na primeira linha: outro caminho, senda percorro, sem saber e disposto a ignorar bagagem, bússola, hora, andar por andar.

Como o caminho é desconhecido por completo, sem ainda disposto a saber, só a dar passos, ligo o computador, não lerei notícia alguma, algo que costumo fazer, agora, não.

É como se nada tivesse acontecido.

Não descortino nem abro a janela, que inspiração alguma venha lá de fora, assim decepção alguma virá quando não se tem inspiração.

Em vez do silêncio, ele que me faz ouvir o pensamento que logo iria aparecer na tela do computador, sintonizo uma emissora de rádio que só toca músicas clássicas antigas.

Mais do que não ouvir o pensamento, as músicas me transportam para velhas estradas repletas de lembranças, pessoas, e até mesmo do que não vivi.

O que me resta escrever, que ainda não escrevi nessas mais de três décadas?

Claro que não escrevi tudo… Claro que não escrevi nada… Reescrever é modo de corrigir, eliminar/colocar palavras, expor ideias, conceitos, opiniões.

O mais difícil é escrever sobre o nada em si mesmo e que o caro leitor logo percebe, conclui nas primeiras linhas, abandonando-as; ou vai até a última, palavra para a mesma conclusão, decepcionado ou intrigado do tipo, o que ele quis dizer? Vai ver (ler) que nem ele mesmo sabe!

Paro por inteiro, sem que uma palavra eu digite, indigitado no completo abandono.

Descuido total com o que não penso absolutamente em escrever, seguro que ninguém me acompanha, que ninguém lerá, e, a propósito, eu também não lerei, não revisarei, e quando for publicado, na página impressa ou na virtual, ignorarei.

Pois afinal, saio da estrada/estada das e de reminiscências, pego outro atalho de veredas que não sei onde elas me levarão.

Noto bem, não irei apenas com meus passos, é o caminho sem direção, horizonte perdido que me levará, pode até ser a caminho nenhum.

A sensação é que eu atalho os meus atalhos, como as prosas que tenho, as mudo, abandono, retomo, a cortar palavras, frases inteiras, parágrafos completos que faço desaparecer, agora.

Espera aí: caminho nenhum? Eu já estava sem caminho e quis percorrer o desconhecido…

Certo é que, se a Coluna e eu passarem em branco, este espaço não ficará sem ser preenchido, e, assim, esconderá o meu vazio.

Fases de Fazer Frases (I)

Fragilidade humana desaparece com a compaixão.

Fases de Fazer Frases (II)

Não indague o que não gostaria de responder. A não ser a ti mesmo.

Olhos, Vistos do Cotidiano

Além da janela fechada, portas também. Mensagens se avolumam no celular, desligado, sequer as horas que ele aponta, elas me desapontam.

Deste modo, como no texto que abre a Coluna de hoje, me fecho, me ponho e me mantenho desse modo, sendo capaz de me esforçar para ser menos inútil do que tenha sido e sou, sem abandonar as gargalhadas, se não minhas, as alheias.

Farpas e Ferpas (I)

A sobriedade não é própria de quem não bebe.

Como a lucidez não é própria de quem não é louco.

E a verdade não é própria de quem a conhece.

O propriamente não dito é dito pelo silêncio.

Farpas e Ferpas (II)

Não convém tecer comentários sem fio.

Mas não se fie em quaisquer comentários.

Reminiscências em Preto e Branco (I)

Seja lá como for, a história acontecerá, ao acaso, de casos, dos casos, com personagens, inclusive desconhecidos por quem registra ou conta, por desconhecimento ou por algum motivo.

Reminiscências em Preto e Branco (II)

Ter medo da história? Deixar que ela aconteça por si só? Não arriscar em fazer parte da história é ser feito nada por ela, ela que irá riscá-lo.

José Eugênio Maciel | [email protected]