Obra oportuna

Diferente da Câmara e do Senado que não se entendem sobre uma das situações básicas defendidas pelo povo nas manifestações de junho, a luta contra a corrupção, da qual o voto secreto é um dos principais instrumentos, o STF vai cumprindo uma missão que todos achavam impossível: punir corruptos. Até agora, sob silenciosos aplausos populares, vem confirmando as punições impostas no julgamento dos envolvidos no mensalão, que se não é o maior escândalo em volume de dinheiro desviado dos cofres públicos, é o que conseguiu mais notoriedade. Pela importância dos personagens envolvidos. Algumas das figuras mais notáveis do PT, enquanto governo. Entre os quais, o mais fulgurante personagem do governo Lula em sua fase inicial: José Dirceu, notabilizado por suas peripécias desde o nível universitário, por sua vocação para o poder. Não estranha pois que, com sua capacidade de subverter a ordem das coisas, esteja hoje ironizando o fato de ser preso. Apontado como o chefe da organização montada para comprar os apoios ao governo do ex-presidente Lula que, apesar de ter Dirceu ao seu lado diuturnamente não sabia de nada, ao invés de realizar na prisão o que se propõe, cozinhar e lavar roupa  para ter direito à redução da pena no regime fechado, poderia aproveitar sua inegável condição intelectual para  retomar o tema de um livro que foi sucesso editorial no Brasil: Memórias do cárcere, Viria bem a calhar no ano em que a obra de Graciliano Ramos, editada postumamente em 1953, completa 60 anos. Com uma diferença fundamental: Ramos foi preso por suas convicções, contrárias ao regime ditatorial de Getúlio Vargas. Não por estimular a corrupção!

Prisões imediatas

Com o possível fim do julgamento dos embargos declaratórios pelo STF,(ontem faltavam apenas dois), hoje podem ser julgados os embargos infringentes. Como esse recurso não é previsto em lei, apenas no regimento interno do Supremo, pode ocorrer a decisão de que podem ser rejeitados todos de uma vez. Com isso estará aberta a possibilidade de as prisões  serem imediatas, como pretende a Procuradoria Geral da República.

Engenharia em crise

A alta taxa de evasão nas faculdades de engenharia, ao redor de 57% dos que ingressam no difícil curso, é a responsável pelo déficit de profissionais da área no setor. Estudos indicam ainda que apenas 48% dos que chegam ao fim do curso, atuam na área.  A desistência dos que abandonam o curso é resultado da baixa qualificação em cálculo, resultante da falta de base, enquanto os demais não se habilitam a trabalhar no setor pela baixa remuneração oferecida mo setor público que, em matéria de salários sempre beneficiou no Brasil os que seguem as carreiras oriundas do Direito.

Alvo errado

Como acontece hoje com os médicos, o governo estuda importar engenheiros formados no exterior para atuar nas prefeituras brasileiras. Alvo errado, na medida em que a referida baixa remuneração é a causa principal do abandono da profissão. Tanto quanto na categoria médica, a falta de um plano de carreira é apontada também pela representação de classe como um desestímulo ao ingresso de engenheiros na vida pública.

Não à baderna

Custou para que medidas começassem a ser tomadas contra os baderneiros que prejudicaram com suas ações, o objetivo das manifestações populares e democráticas do povo de inúmeras cidades, em junho passado. A decisão tomada no Rio de Janeiro de tornar obrigatória a identificação de quem comparece mascarado, sob pena de prisão, aliada à prisão de alguns organizadores das participações violentas, certamente desestimulará novos arruaceiros.

Em choque

Enquanto Câmara Federal e Senado não decidem que modelo de extinção do voto secreto adotar, estendendo a decisão automaticamente  a Assembléias e câmaras municipais, a de  Curitiba deve votar na segunda-feira, em primeira discussão, a sua extinção na capital.