Procura-se a lanterna

Do único lugar em que se tem obtido notícias boas nestes últimos anos, à medida que as máquinas colheitadeiras avançam, informações preocupantes aparecem. Pior é que os relatos de perda de produtividade  nas lavouras de soja no Centro-oeste, não sensibilizam a Bolsa de Chicago que continua a puxar para baixo os preços do produto. Com  lavouras ampliadas ao redor do mundo e previsão otimista para o próximo ciclo da oleaginosa, a demanda ainda firme, mesmo sinalizando para a desaceleração, mantém em baixa o preço.  A se confirmar  uma quebra na produção nacional, ainda teremos safra recorde. Assim, com o agronegócio que sempre socorreu a economia do país, também não dá para contar. Dos outros setores, cantados na campanha eleitoral  em prosa e verso como pessimismo da oposição, hoje nada resta. Do superávit de R$ 99 bilhões não conseguimos sequer os R$ 10 bilhões anunciados ao final do ano. Ao revés! A quarta-feira confirmou através a voz autorizada do Banco Central: R$ 104 bilhões de desonerações concedidas pelo Tesouro. Um avanço de 32% em relação a 2013. O país que desde 1997 estava no azul entrou 2015 com um déficit primário de R$ 17 bilhões. O primeiro em 18 anos. Ah, sim. Temos algo a festejar: o baixo índice de desemprego: 4,8%. Isso pela Pesquisa Mensal de Emprego medida no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Modelo que será substituído no IBGE pela PNAD Contínua, que vai a 3.500 municípios e apresenta taxa de 6,5%. Acrescente-se o veto de Dilma Rousseff à atualização de 6,5% concedida pelo Congresso no Imposto de Renda, e lá se vão mais alguns bilhões retirados do bolso do contribuinte pela realidade:  apenas 4,5%, o que já eleva as perdas do contribuinte no setor a 60%. O brasileiro vai precisar recuperar a lanterna de Diógenes de Sinope, filósofo grego cognominado O Cínico, para sair por aí à procura de uma notícia boa.

Desgaste geral

A perda de apoios que o governo federal sofreu no Congresso, levou a eleição nas duas Casas a um  nível de dificuldades que se refletirá no desenrolar do ano político. Qualquer que seja a solução, no Senado e na Câmara, representará um aumento de dificuldades  que o governo jamais enfrentou.  A necessidade, especialmente na Câmara, de  tentar derrubar a candidatura de Eduardo Cunha (PMDB), utilizando em favor de Arlindo Chinaglia, abertamente,  métodos pouco republicanos que ele sempre o fez por baixo dos panos, vai repercutir no clima a ser enfrentado por dois anos, ganhando ou perdendo. Uma refrega da qual sai desgastado e com mais inimigos.

Dificuldades visíveis

Por aqui, a vitória do candidato governista, Ademar Traiano, na disputa à presidência da Assembleia, representa uma relativa tranquilidade que o governo Richa desfrutará na Casa de Leis. Tranquilidade necessária para enfrentar as dificuldades que esses primeiros dias de 2015 já revelam. O atraso no pagamento dos professores contratados e em outras áreas da administração que enfrentam dificuldades financeiras, obrigando o governador, para obter um crédito de confiança a cortar o seu salário de janeiro, assim como o de todo o primeiro escalão, dá bem  a medida das dificuldades a enfrentar.

Falta tudo!

Nesse universo de dificuldades que se abatem sobre o país, o que ninguém entende é a facilidade com que se concede aumentos no serviço público. A começar pelo mal digerido auxílio-moradia concedido a juízes e que se estendeu a todos os setores jurídicos do país, desencadeando um efeito cascata em todas as direções. Absoluta falta de sensibilidade e de senso de oportunidade.

Perdas e mais perdas!

Já era esperado! O atraso no balanço do terceiro trimestre de 2014 (ainda assim sem ser auditado) que tanto desgaste provocou na imagem já corroída pelos escândalos que atingiram a Petrobras, veio acompanhado de decisões desfavoráveis. A possibilidade real de não ocorrer o pagamento de dividendos referentes a 2014. A redução de investimentos em cerca de 25% em relação a 2014, em função da queda do preço do petróleo (de US$ 100 para 50 dólares)  e da dificuldade de captar recursos, em função da perda de credibilidade. Os investimentos ficarão  entre R$ 31 e 33 bilhões. Curiosamente apenas agora funcionários começam a se manifestar contra as tragédias que atingiram (e ainda atingirão) a estatal petrolífera, que sempre foi o orgulho dos defensores da estatização.