Seu desejo não é seu direito

“Você tem o direito de ter desejos. Mas não espere que todo desejo seja um direito” – Carlos A. Facco

Tenho percebido um comportamento cada vez mais comum na sociedade: a reivindicação de desejos como sendo direitos.

Talvez fruto de uma educação mais liberal por pais de uma geração que foi criada com muito rigor, e que agora considera que ser um pai legal e amigo de seu filho é deixá-lo fazer o que quiser, estamos criando uma legião de pessoas que estão com dificuldade de viver em comunidade, simplesmente porque isso pressupõe limites e concessões, que eles não aprenderam a ter.

Como em um conhecido quadrinho onde os pais de hoje, ao receberem um boletim do filho com notas baixas, questionam o professor, e não o filho, sobre o porquê do resultado ruim.

Desde cedo, as pessoas estão aprendendo que têm tudo o que querem, bastando um bater de pés, um choro, uma chantagem, uma birra. O problema é que, quando adultos, estas mesmas pessoas, que não aprenderam a receber um não como resposta, começam a receber. E aí, frustradas, fazem de tudo para obter seus desejos. Mesmo que precisem roubar, corromper, esconder.

Isso gera uma dificuldade de viver em comunidade. Porque comunidade significa qualidade das coisas e noções comuns a diversos indivíduos, significa concordância, harmonia. E isso se consegue com concessões, condições gerais de vida, e não com desejos individuais, desarmonia, logro e óbices.

Se queremos viver numa república, que significa coisa pública, de todos, teremos que abrir mão de alguns desejos.

É perfeitamente natural uma zona de conflito de interesses, gerada pela diferença entre o desejo individual do requerente e sua possibilidade diante do interesse coletivo.

O problema começa quando alguns menos conformados, que não aprenderam a ceder, continuam achando que podem impor suas condições e seu querer. Daí nasce a corrupção, a depredação, a apropriação indevida do que não aceita abrir mão.

Se pretendemos uma sociedade desenvolvida, progressista, com oportunidade para todos, precisamos pensar no indivíduo em formação. Nas famílias, na educação desde a primeira infância, onde se aprenda a conviver, ou seja, viver com. Viver com pessoas diferentes, prioridades diferentes, visão de mundo diferentes, desejos diferentes.

Dizem que empatia é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de compreender do modo como ela compreende. Meu pai me ensinou a chamar isso de respeito.

Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]