Água: o recurso mais precioso do mundo nas mãos da Engenharia
Dotada de valor econômico, a água é o bem mais valioso do Planeta. Mas este recurso natural limitado, considerado o mais importante para as espécies vivas, está em escassez em várias regiões do Paraná, Brasil e do mundo. São quase 500 milhões de pessoas que ainda vivem em áreas onde o consumo excede os recursos hídricos disponíveis, seja por qualidade inadequada ou quantidade insuficiente. Este equilíbrio entre o consumo humano e a sustentabilidade ambiental é um dos grandes desafios das Engenharias, que buscam soluções considerando os impactos sociais, econômicos e ambientais da sociedade. Então como promover o desenvolvimento sustentável diante da degradação dos recursos naturais, desigualdade social e das abruptas mudanças climáticas? Para a Engenharia, a segurança hídrica requer visão macro estratégica, competência e vontade política dos gestores públicos e políticos.
Um exemplo atual citado é a união de esforços dos órgãos e conselhos responsáveis pelas questões hídricas no Paraná durante a crise hídrica enfrentada pelo Estado em 2020. A estiagem mais severa dos últimos 50 anos impactou nas produções do agronegócio estadual e, consequentemente, na economia paranaense. No entanto, o problema revelou que não adianta políticas nacionais se as estaduais e municipais não são implementadas. E que a preservação dos mananciais e bacias hidrográficas deve ser contínua e não apenas em momentos de crise.
Vale destacar que, na época a expertise da Engenharia fez diferença ao amenizar os efeitos da estiagem paranaense. Houve fomento de leis municipais de estímulo ao reuso da água; intensificação na demanda de Engenheiros para maior eficiência dos projetos hidráulicos diversos; aumento de poços artesianos; desenvolvimento de soluções e tecnologias de irrigação e monitoramento; entre outras ações. O Comitê de Estudos Técnicos de Meio Ambiente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) também intensificou os debates, fomentou políticas públicas ambientais de preservação das nascentes, dos riachos e rios, assim como cobrou do Estado o controle de ocupação do solo nas zonas urbana e rural.
Em termos de inovação da Engenharia durante a seca, citamos a iniciativa da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) em ‘semear’ nuvens para que a tão esperada chuva viesse. A empresa contratou serviços aéreos especializados de indução de chuvas localizadas com semeadura de nuvens na Região Metropolitana de Curitiba. Com a primeira chuva induzida, realizada em dezembro de 2020 sobre a Bacia do Passaúna, foram provocadas 12 chuvas até janeiro deste ano.
Não é de agora que os Engenheiros impulsionam atividades prioritárias sobre o tema água no Brasil. Desde as secas de 1877, no Nordeste, os profissionais se tornaram a elite técnica e científica do país. Pois após estudos e ações estratégicas, a estiagem prolongada no território nordestino brasileiro foi combatida. Depois, a partir de uma formação multifacetada e transdisciplinar, os profissionais das Engenharias atuaram no planejamento urbano e regional brasileiro e contra a falta de água, por meio da implantação de obras hidráulicas, de irrigação e drenagem; construção de pontes, estradas, ferrovias, poços tubulares, barragens e açudes; preservação da arborização; captação de recursos hídricos escassos e na estimulação do uso racional do insumo.
Mas para construir um mundo mais justo, sustentável e com água para todos, os Engenheiros atuais devem ir além das determinações do Sistema Confea/Crea como a Lei Federal nº 5194/66, que dispõe sobre as profissões de Engenheiro e Agrônomos. Os profissionais das Engenharias também podem colocar em prática os 10 princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos da Água desenvolvidos pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). Além disso, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas a serem atingidas até 2030, trazem conhecimento, estratégias e ferramentas para integração dessas diretrizes ao exercício profissional das Engenharias, Agronomia e dos profissionais das áreas tecnológicas como Geógrafos, Geólogos e Meteorologistas. Para as Nações Unidas, o avanço da pesquisa e do desenvolvimento nas áreas do saneamento, das energias renováveis, das melhorias na agricultura e na saúde podem reduzir a pobreza e a exclusão no mundo.
Nos ODS da ONU, a água é o principal tema abordado a ser seguido pelos profissionais: como assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e o saneamento para todos; construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos; conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos; proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres; gerir de forma sustentável as florestas; combater a desertificação; deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Neste momento da humanidade, nunca foi tão necessário o trabalho dos profissionais Engenheiros, Agrônomos e Geocientistas no uso inteligente da água – recurso de alto valor para a sociedade.
Engenheiro Civil Hélio Xavier da Silva Filho
Gerente regional do Crea-PR
Especialista em Gerenciamento de Projetos