Criatividade humana
Nada mais me surpreende na política.
Não que tenha desanimado ou perdido a esperança, mas há 50 anos acompanho as mesmas artimanhas, as mesmas promessas, as mesmas ilusões e a cada governo uma nova e mais sofisticada forma de “ajeitar” os interesses dos nossos ilustres representantes.
Com raríssimas exceções, os governos sempre conseguem criar uma necessidade para depois gastar o dinheiro sem necessidade.
Os brasileiros, especialmente os nossos políticos, são de uma criatividade fora do comum.
Conseguem driblar as leis, a Justiça e saem da cadeia sob os aplausos dos seus eleitores.
Outros tantos jamais serão julgados, porque conseguem se manter longe de qualquer possibilidade de seus processos chegarem aos tribunais.
É vergonhoso, ano após ano, governo após governo, ver e perceber o que acontece nas votações do Congresso.
Se fossem as votações que interessam ao país, as grandes reformas, ainda teria valido a pena o preço que está sendo pago.
Mas não, as votações que só interessam alguns políticos provocam as mais escancaradas formas de desviar dinheiro público de sua finalidade.
Um governo que manipula um orçamento de R$ 4,325 trilhões em 2021 precisa chegar ao extremo de aprovar o calote dos precatórios para livrar um valor de menos de R$ 50 bilhões para salvar seu programa social?
Isso é de uma indecência que nos remete aos piores tempos dos governos mais corruptos e desonestos com a opinião pública que a nossa geração conhece.
Quando um governo perde o controle das suas contas e precisa pagar deputados para consertar, tudo fica mais difícil.
Comemora-se a vitória da safadeza, da esperteza, tudo em nome dos pobres, que sem essa artimanha ficariam sem auxílio.
O que vimos e assistimos nesta semana é um espetáculo desastroso da política econômica e da articulação política deste governo.
Teria fracassado a esperança, a vontade de construir um Brasil melhor?
Com certeza é o fim da nova política.
Arno Kunzler, jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos – [email protected]