Domingo é dia de ler a coluna do Maciel há 32 anos – por Gilmar Cardoso

“Eu não sou gato de Ipanema. Sou bicho do Paraná”– (João Lopes)

Segundo Darcy Ribeiro, escrever é ter coisas para dizer, ou seja, é deixar uma marca. É impor ao papel em branco um sinal permanente, é capturar um instante em forma de palavra. Já para Pablo Neruda, escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias!

O nome José, de origem hebraica, significa “aquele que acrescenta”,  Eugênio, do grego, o “bem-nascido”, enquanto que Maciel, francês, é atribuído “àquele que vende maçãs”. Fases de fazer frases; – Olhos, vistos do cotidiano; – Reminiscências em preto e branco e – Sinal amarelo, são subtítulos da Coluna dominical cinco estrelas e recomendada da TRIBUNA, que leva o nome do autor com as ideias e emoções reproduzidas no papel jornal. “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.”, ensina-nos o Livro dos Provérbios (25,11), a profetizar o mercador mourãoense, um  dos maiores  cérebros pensantes que a cidade já produziu.

De raciocínio rápido e brilhante, firme em suas posições e na defesa intransigente de suas ideias; cativa-nos a todos pela inteligência, persuasão, caráter, oratória e didática, enfim, é um intelectual completo; crítico afiado e sensível, um verdadeiro homem de letras. Não é demais afirmar que estamos tendo o privilégio de conviver (e de ler) com um dos mais brilhantes cronistas que a nossa septuagenária  Campo Mourão produziu.

Desde o dia 10 de julho de 1988, (Dia Mundial da Lei), época que a TRIBUNA DO INTERIOR; jornal que, por conta própria deu nome à Coluna e concedeu-lhe espaço e liberdade para escrever, ainda circulava em edição semanal (virou diário a partir de 5 de janeiro de 1991); esse auto intitulado brasileiro do Paraná, mourãoense de nascimento, de meninice e da vida feito gente grande: sociólogo, advogado e professor JOSÉ EUGÊNIO MACIEL, nascido, à propósito, em um domingo, 20 de abril de 1963; bate religiosamente em dia o ponto pela ponta da sua caneta à transcrever seus pensamentos e ideais;  antes, no papel pautado, depois na máquina de datilografia, com transmissão via fax ou de carona de Curitiba para Campo Mourão pelo ônibus da Expresso Nordeste, evoluindo para o disquete, pen drive, email e watsapp, na era do computador que sucedeu o texto copiado e montado no linotipo para ser  finalmente impressa até chegar-nos às mãos, nas inesquecíveis Bancas dos “Seos” Jonas e do Plínio.

Dado à luz no Hospital que levava o nome do Padroeiro do Município, São José; o popular Gudé; que tem o nome em reverência ao avó paterno, 10º filho dos doze trazidos ao mundo pelo casal de pioneiros professor e contabilista Eloy Maciel, também colaborador da TRIBUNA e Elza Brisola Maciel, a primeira voz feminina a atuar no Rádio mourãoense; ambos homenageados com a denominação de nomes de ruas da cidade; está há exatos 32 anos dando azo, eco, conceito e credibilidade ao espaço democrático, coincidentemente posicionado à esquerda da edição impressa; por meio da conceituada e tradicional Coluna José Eugênio  Maciel, ou, como todos os leitores a mencionam com respeito COLUNA DO MACIEL.

Sou suspeito para adjetivar o amigo de longa data, companheiro leal, parceiro de tantas empreitadas; inclusive profissionais e políticas, quando na juventude não tão distante, percorríamos o Estado com cursos de formação e capacitação a pregar os valores do estado democrático de direito e da importância do exercício da cidadania, através do voto livre; inclusive, pela atuação direta na democracia representativa, no exercício dos cargos executivo e legislativo nos municípios.

A alcunha de escrivinhador, que volta e meia ele atribui a si próprio, pela humildade e modéstia, não lhe assenta nem cabe; pela grandiosidade e repercussão de seus escritos, sempre a merecerem comentários, recortes, citações e, inclusive, elogios ou críticas.

Fundador da Cadeira número 3 da Academia Mourãoense de Letras – AML, que tem como patrono o seu pai; torcedor do Inter de Porto Alegre (Colorado), encantado com a chegada do homem à lua pela Apollo 11 em 1969, adora ouvir boas canções dentre as quais as músicas Fascinação e Chão de Estrelas, e dentre os  livros, prefere crônicas e biografias e conta em seus autores preferidos, com no mínimo,  quatro: Ferreira Gullar, Mário Quintana, Rubem Braga e Machado de Assis. O destacado Secretário Municipal da Educação e da Cultura de Campo Mourão e presidente da Fundação Cultural, foi um dos responsáveis diretos pela implantação do antigo CEFET,  a criação e instalação e construção de diversas escolas municipais, gerando acréscimo de 8 mil vagas em menos de quatro anos, dentre vários programas que foram exemplares. José Eugênio Maciel foi vereador de Campo Mourão – Legislatura 1997/2000, tendo sido eleito presidente do Legislativo, único até hoje escolhido por unanimidade, fato histórico na política da cidade. Outro registro importante a se fazer, é que até na edição da Lei Orgânica Municipal, de 1988, foi utilizado o termo campo-mourense, grafia que só no final dos anos 90 foi mudada, através de uma emenda parlamentar do Vereador Maciel que alterou nossa cidadania para o gentílico oficial mourãoense.

Trinta e dois anos consecutivos brindando-nos com seus textos sempre bem escritos, com conteúdo, didática, empatia com o leitor, sérios e com pitadas humorísticas; revelam duas coisas, dentre outras; primeiro que existe uma relação de amizade e confiança, recíprocas, entre o colunista e os empresários visionários do ramo de comunicação, casal valoroso e de utilidade pública, Nery José Thomé e Dorlly Benthien Thomé; segundo, que existe liberdade de expressão no uso do espaço da escrita, que jamais sofreu interferência, indicação de linha e posicionamento ou censura prévia ou posterior. Sobre esta relação, resume-se em uma palavra: responsabilidade.

Acerca da longevidade da Coluna do Maciel, aniversariante a celebrar suas Bodas de Pinho, que simbolizam a matéria rígida, resistente e que passa por várias fases, variações climáticas e intempéries enquanto mantem-se firme e forte; o próprio José Eugênio Maciel se antecipa ao afirmar que “antes que alguém possa me indagar, logo aviso, não conseguiria responder, se tem algum colunista/cronista com tanto tempo assim. Mas, creio, se a lista for os “10” mais antigos, acho que aparecerei. Grato! Sempre grato!” – Pois é, caro professor, tive essa curiosidade e fui pesquisar para atestar que na sua condição, ultrapassando a marca das três décadas de lida na ativa, existem apenas outros três renomados e competentes profissionais no Estado; quais sejam Luiz Geraldo Mazza (88 anos de idade), Fábio Campana (73 anos de idade) e Roseli Abraão.

O mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar. Maciel faz! Tem talento e competência de sobra para isso e já virou sinônimo de boa e agradável leitura! – Maciel de ler!

O confrade Ilivaldo Duarte, por ocasião do 23º aniversário da Coluna,  descreveu entusiasmado que ler os textos do professor Maciel é um convite a uma viagem pelos caminhos da sabedoria e a reflexões sobre a nossa literatura, nossa gente, nossas coisas, nossos exemplos e, principalmente, à felicidade e à vida do nosso cotidiano. É buscar ser, usar a inteligência para o deleite de linhas manifestadas de otimismo, do bem, do bom senso visando a felicidade de todos. É uma janela que propicia uma das missões do jornalismo: alargar horizontes. Todo esse tempo de  colunismo em um mesmo jornal não é para qualquer um!

Na contracapa do livro que lançamos em co-autoria, Juntos: Poesia Nossa de Cada Dia, o presidente-fundador da Academia Mourãoense de Letras, professor Dr. Rubens Luiz Sartori, escreveu que o José Eugênio Maciel estreia no gênero da poesia revelando o enunciador-cidadão incomodado pelas amarras de uma sociedade ignóbil e falseadora; o enunciador sensível que ama e vive as contradições da existência. Dá-se bem no poético, como sempre se deu bem como proseador nas crônicas de domingo na Tribuna do Interior, jornal diário de Campo Mourão.

Com a frase memorável de sua irmã primogênita, Maria do Desterro Brizola Maciel:  “Campo Mourão: o berço dos meus filhos, morada dos meus pais e endereço dos meus amigos”, saudamos e parabenizamos esta data querida e concluo, eternizando e compartilhando a mensagem que recebi à época, do amigo-irmão:  Caro e fraternal Gilmar, a vida é o semear, cultivar, colher. Poesia é semear o lirismo, cultivar palavras rimadas ou não, é colher o sentimento que sentimos ao encontro dos que sentem o que lemos, quando nos tornamos intérpretes em cada poema. A experiência do nosso livro é tão presente em mim, só possível porque você cobrou, insistiu, e, longa gestão, tenso o parto, veio a luz o livro. Abraços! (JOSÉ EUGENIO MACIEL). 

 Ao nosso estimado professor José Eugênio Maciel, externamos os cumprimentos com o desejo de que essa marca se repita por muitas vezes, sempre temperada com sua inteligência ímpar e o bom humor peculiar. Parabéns, professor, sociólogo, imortal, mourãoense e acima de tudo, meu e nosso amigo, José Eugênio Maciel, colunista veterano  da TRIBUNA há 32 anos, com tantas palavras ditas e outras tantas a se dizer, pois, aguardamos com expectativa sempre, a edição do próximo domingo, o dia do Senhor e o  seu  também!

Aos 30 anos, foram registrados 2.050 artigos escritos neste espaço. Agora, tem mais 5 anos para serem acrescidos na conta, a totalizarem 2.130 COLUNAS DO MACIEL, aos 32 anos, tendo sido a última e detentora da marca histórica sob o título de – Palavra, sabe quem não ignora – a discorrer que o Mundo é a palavra. A palavra é o Universo. Global e da aldeia. PARABÉNS, e como disse o nosso confrade, 32 anos aos domingos na TRIBUNA, definitivamente, não é para qualquer um!

*GILMAR CARDOSO, advogado, poeta, membro do Centro do Letras do Paraná e fundador da Cadeira nº 1 da Academia Mourãoense de Letras – AML, co-autor do livro Juntos: Poesia Nossa de Cada Dia (2012), com o amigo José Eugênio Maciel.