Joel, simplesmente um amigo.

A morte sempre surpreende. Mesmo aquela que era esperada (e essa não era). Mas vem para todos, indistintamente, sem atentar para a situação de fortuna, ou de posição social, ou de profissão, ou de outra qualidade qualquer.

Joel Albuquerque morreu.

Não. Não era uma pessoa comum. Aliás, daria até para dizer, sem receios dos exageros tão frequentes em situações como esta, que era um homem extraordinário. E tinha uma verdadeira coleção de amigos, cultivados ao longo de sua vida, que não conheceu ressentimentos, invejas ou ódios contra qualquer pessoa. O sorriso era uma constante como se um cirurgião plástico o houvesse plantado ali — propositadamente — como um adminículo de sua simpatia pessoal. Palavras como mágoa, ressentimento, ódio, ou inveja, se lhe dissessem qualquer delas, era possível que perguntasse o significado, eis que não existiam no seu vocabulário.

Músico de talento fértil para vários instrumentos — e creio que aprendidos de forma autodidata, nas esquinas da vida — mas era no violão que o seu virtuosismo se esparramava de forma mais abundante. Era fértil e fácil em qualquer gênero musical.

Jogador de futebol na juventude, com promissora carreira, teve truncada a sua aspiração quando uma fratura numa das pernas o tirou dos campos. Desculpem. Não tirou não. Apenas o afastou do profissionalismo, porque, mesmo com a perna quebrada e com articulações visivelmente desencontradas, ainda jogava com muito talento.

Advogado de formação, mas não de profissão. Percorreu por pouco tempo os caminhos do foro, mas voltou-se a outras atividades sem se deixar seduzir pelos encantos dessa profissão.

Joel era uma dessas presenças que nos fazem bem à alma e cuja amizade nos causa orgulho natural. Mas sua amizade não era só isso: era também como um porto de segurança, como uma estaca firme de certeza que, quando precisássemos dele, estaria ali, rente e quente como dizem os mineiros. E quando precisássemos de um amigo, Joel era o primeiro da fila. Suas amizades não eram seletivas, mas, ao contrário, eram variadas em gênero e espécie: os encontros efusivos eram tanto com um doutor, um magnata, um industrial, um magistrado, como também com um homem simples, da roça, um matuto qualquer, para quem abria o mesmo sorriso e mostrava a mesma alegria, com um abraço de onde vertia sinceridade.

Filho de família ilustre e tradicional, Campo Mourão já devia muito à Francisco Albuquerque, seu pai, que lutou pela emancipação política da cidade e que foi baluarte de muitas conquistas. Cidade que também devia muito à D. Anita, pessoa cativante e humilde que nos deixou há pouco tampo. Campo Mourão agora deve a Joel, numa dívida que jamais será resgatada.

Cumpriu a sua etapa. Terminou.

E seguiu a muitos que já foram, mas antecipou-se a tantos que ainda ficam. E sofri agora a tentação de escrever meia dúzia de nomes, mas cometeria a injustiça contra milhares de outros, para os quais precisaríamos de um longo livro para relacionar, e, mesmo assim, com certeza, ainda seríamos lacunosos e deixaríamos alguma injustiça.

Mas fica guardada em cada coração a lembrança que não terminará tão cedo. E, junto com ela, essa saudade corrosiva e triste que nos reserva o travo amargo da ausência.

Irajá Pereira Messias, advogado.