Juventude e o primeiro emprego: entre o medo e a oportunidade
O primeiro emprego ainda é, para muitos jovens, um desafio cercado de incertezas. Por mais que a juventude traga consigo disposição, criatividade e sede de aprender, a exigência de experiência prévia, a ausência de uma rede de apoio e as barreiras sociais dificultam a entrada no mercado de trabalho. Em um país onde mais da metade da população jovem enfrenta informalidade ou desemprego, o acesso à primeira oportunidade formal de trabalho ainda está longe de ser universal. É nesse contexto que se torna urgente refletir sobre o papel de todos os atores – empresas, governos, instituições de ensino e a própria sociedade – em transformar esse cenário.
Dados recentes do IBGE apontam que, embora a taxa de desemprego geral tenha diminuído no Brasil, o índice entre jovens de 18 a 24 anos permanece elevado, alcançando 14,9% no primeiro trimestre de 2025, mais que o dobro da média nacional. Ainda mais alarmante é saber que, quando conseguem algum trabalho, cerca de 9 em cada 10 jovens o fazem de forma informal, sem qualquer garantia trabalhista. Isso significa que a juventude está trabalhando, sim, mas sob condições instáveis, mal remuneradas e desprotegidas.
Apesar desse quadro, há sinais de esperança que merecem ser reconhecidos e multiplicados. Em Campo Mourão, por exemplo, têm sido realizadas, com articulação interinstitucional, as Feiras do Primeiro Emprego e Estágio, ofertando vagas reais, orientações sobre elaboração de currículos, simulações de entrevistas e oportunidades de estágio. Em vez de esperar que os jovens venham até o mercado, o mercado vai até eles. E isso faz toda a diferença.
O que essas experiências revelam é que não basta responsabilizar os jovens por sua inserção profissional. É preciso que as empresas abram as portas para quem ainda não tem vivência anterior. O primeiro emprego não pode continuar sendo privilégio de quem tem contatos. Quando uma organização exige experiência para uma vaga de início de carreira, está, na prática, bloqueando o acesso de milhares de jovens talentosos, mas sem histórico formal. É preciso romper esse ciclo.
Além disso, as empresas precisam olhar para essa juventude com mais empatia e visão de longo prazo. Isso passa por oferecer ambientes de trabalho acolhedores, políticas inclusivas de diversidade e programas de formação interna. Jovens negros, periféricos, LGBTQIAPN+ e com deficiência enfrentam barreiras ainda maiores, e ignorar essa desigualdade é perder a chance de formar equipes mais inovadoras e representativas. Diversidade não é modismo, é inteligência de negócio.
É verdade que a chamada Geração Z traz outras expectativas. Mais conectados, os jovens de hoje buscam propósito, ambiente saudável, desenvolvimento contínuo e autonomia. Mas, mesmo com esse novo perfil, a demanda por uma primeira oportunidade concreta continua sendo a mais urgente. Eles não querem facilidades, querem chances. E cabe a nós criarmos essas pontes.
Se queremos uma cidade mais justa, um estado mais competitivo e um país com futuro, é preciso investir na juventude. Programas de aprendizagem, estágios bem estruturados, apoio ao primeiro emprego e eventos que aproximem os jovens do mercado de trabalho real devem fazer parte da agenda de todo gestor público e empresário consciente.
Que mais cidades possam seguir esse caminho. Que mais empresas se disponham a abrir portas. E que cada jovem, ao buscar seu primeiro emprego, encontre um mercado menos hostil e mais preparado para recebê-lo como protagonista do futuro – e não como uma aposta incerta. Afinal, ninguém nasce com experiência? Mas todos têm potencial.
Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração com foco em Empreendedorismo, Inovação e Mercado, e Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.