Brasil perde e tem bastante coisa para se preocupar

E terminou a fase de grupos da Copa do Mundo do Catar. Foram 48 jogos, um pouco mais de 2/3 das partidas do mundial dá para dizer que está sendo um mundial de grandes zebras, apenas os Países Baixos, Inglaterra, EUA, Marrocos e Croácia não perderam ao menos um jogo. Nenhuma das 32 seleções conseguiu três vitórias na fase de grupos. Desde 1994 isso não acontecia. Só em quatro Copas do Mundo seleções com derrota na primeira fase se sagraram campeãs no final.

Nessa sexta-feira, foi a vez do Brasil ser derrotado por 1 a 0 para a seleção de Camarões, gol de Aboubakar. Os camaroneses saem orgulhosos com a vitória, sem dúvida um grande feito para eles. A campanha até acabou sendo melhor do que a esperada.

Em termos de classificação, nada mudou para o Brasil. Mas perder em jogos de grupo foi algo bem raro para a seleção canarinho. Considerando o formato de grupos na fase inicial da Copa do Mundo, essa foi apenas a terceira vez que o Brasil sofre uma derrota nesse momento do mundial: em 1966 foi eliminado; e em 1998 perdeu para a Noruega na última rodada, mas acabou classificando em primeiro como acontece agora.

O Brasil poupou todos os jogadores titulares possíveis, fez uma partida bem abaixo do esperado e quase se complicou. Se a Suíça tivesse feito mais um gol contra a Sérvia, o Brasil teria ficado em segundo do grupo e já pegaria Portugal nas oitavas-de-final.

Embora o discurso seja de que “perdeu quando podia perder”, mesmo sendo o time reserva, algumas observações podem ser feitas.

Os reservas, quase todos vistos com bom potencial, mostraram que nem tudo que reluz é ouro. Daniel Alves fez uma partida razoável, mas para quem se dizia um lateral construtor produziu muito pouco. Anthony, que tinha chances reais de ganhar a posição de titular, fez algumas firulas, só que não criou uma chance de perigo sequer. Gabriel Jesus fez seu oitavo jogo em Copa do Mundo como centroavante e tem o mesmo número de gols que Deyverson, que nunca jogou uma partida de Copa do Mundo. Everton Ribeiro e, principalmente, Pedro mostraram que estão uma rotação abaixo do que os demais jogadores. Bruno Guimarães, que esse colunista chegou até apostar que viraria titular, foi um desastre, atrapalhou o jogo de todas formas.

Salvaram-se Gabriel Martinelli, Fabinho e, por pouco, Rodrygo.

Óbvio que a má atuação individual de vários possa ter decorrido da falta de entrosamento do time, só que a ideia de dar confiança para todos pode ter acabado surgindo o efeito contrário e colocando uma pressão quando forem utilizados na próxima partida.

Além do objetivo de dar confiança, o ex-técnico Abel Braga chamou atenção sobre um ponto para justificar a utilização de todos os reservas. O Brasil jogará as oitavas-de-final já na segunda-feira e o adversário só foi conhecido nessa sexta, o que na prática dá só o sábado para que Tite prepare o time titular para esse jogo decisivo.

Mas o fato é que tanto os reservas como os titulares do Brasil evidenciaram problemas que esse time vem enfrentando, especialmente a falta de criatividade no ataque, o que diz mais sobre a organização do que sobre os jogadores em si. Há uma espécie de lentidão e falta de aproximação entre meio-campo e ataque.

O Brasil vinha de um jogo bom contra a Sérvia e uma vitória protocolar em cima da Suíça, o que possibilitou a utilização dos reservas na última rodada, mas, tendo um panorama mais geral agora, observa-se que foram apenas três gols, sendo a seleção que menos marcou no Grupo G. O desempenho só foi melhor do que o da Copa de 1978, quando apenas dois gols foram marcados.

Só a ausência de Neymar não pode ser uma desculpa para isso.

Nas oitavas-de-final de final o Brasil pegará a organizada Coréia do Sul e pode ser que não seja um jogo tão fácil como a teoria demonstra, ainda mais com o Brasil podendo ter uma série de desfalques.

Nessa manhã de sábado no Brasil, a CBF anunciou que Gabriel Jesus e Alex Telles estão fora da Copa do Mundo por causa de lesão no joelho. E o Brasil vai vivendo um drama.

Se estava faltando criatividade no ataque, agora faltará peças na defesa. Caso Alex Sandro não jogue, o Brasil terá que improvisar um lateral-esquerdo bem no lado que a Coréia do Sul é mais forte. O terceiro nome para jogar na esquerda seria Danilo, mas que também está voltando de lesão. E se Danilo jogar na esquerda, quem jogará na direita? Se for Militão (que já levou um cartão amarelo), o Brasil ficaria com um zagueiro reserva só; se for Daniel Alves, jogará em um momento diferente do que o pensado quando foi convocado.

Uma reversão no clima positivo que rondava o Brasil. Tite não costuma reagir bem em momentos que fogem do programado. A ver como será a preparação do Brasil para as oitavas-de-final.

No outro jogo do Grupo G, Suíça e Sérvia fizeram umas das melhores partidas dessa Copa do Mundo. Como esperado, o clima entre as equipes foi bem tenso, com várias discussões, provocações e empurrões.

Em partida com duas viradas, a Suíça fez 3 a 2 e eliminou a Sérvia. Shaquiri mais uma vez fez gol diante de seus rivais e provocou a torcida adversária pedindo silêncio. Ao menos não fez referência ao símbolo da Albânia. No fim do jogo, Xhaka, o outro jogador suíço descendente de albaneses kosovares, com a mão em suas genitálias provocou os sérvios. Muita empurra-empurra e discussões. Xhaka ainda pegou a camisa de um colega, Ardon Jashari, e a vestiu ao contrário. Jashari também é o sobrenome do fundador do Exército de Libertação do Kosovo.

A Suíça agora enfrenta Portugal em um jogo que terá boas chances de passar.

Pelo Grupo H, dois tipos de choro chamaram atenção.

Parecia que a disputa pela segunda vaga ficaria entre Uruguai e Gana e quis o destino que esse jogo começasse da forma como terminou em 2010, com a cobrança de um pênalti. Gana teria a chance de abrir o placar contra a Celeste e se colocar numa posição muito boa para a classificação, mas André Ayew, único remanescente ganês de 2010, desperdiçou a oportunidade e os ganeses não conseguiram se recuperar mais. Arrascaeta fez dois gols para o Uruguai – não era tão difícil ver que ele tinha que ser titular – e ia garantindo a passagem de fase.

O que os uruguaios não esperavam – mas deviam ter esperado – é que a Coréia do Sul viraria no início dos acréscimos o jogo contra Portugal e com 2 a 1 passavam o Uruguai nos critérios de desempate.

O jogo da Coréia do Sul acabou 8 minutos antes do jogo entre Gana e Uruguai, então rolou uma cena inusitada com todos os sul-coreanos no meio do campo acompanhando em seus celulares Samsung o fim do outro jogo. Caso o Uruguai fizesse um gol, classificaria. Ao apito final, muita festa e choro de alegria de Son Heung-min de um lado, e do outro lado muita revolta e choro de tristeza de Luiz Suarez, em sua provável última partida pela seleção.

Foi a vingança de 2010, mas não a de Gana. Foi a vingança da Coréia do Sul sobre o Uruguai por causa das oitavas-de-final daquele ano.


Daqui a pouco começam as oitavas-de-final.

Às 12h00 os Países Baixos jogam contra os EUA. Com um futebol pouco vistoso até aqui, a Laranja Mecânica terá que jogar melhor do que jogou para passar pela rápida seleção americana.

No segundo jogo do dia, às 16h00, a embalada Argentina joga contra a Austrália. Depois do susto na primeira fase, não deve encontrar dificuldades para ganhar dos socceroos (por mais arriscado que seja dizer isso nessa Copa do Mundo). Messi segue em busca de seu primeiro gol em mata-mata de mundiais.