Priscila não teve tempo para viver. E morreu por vingança

A casa número 765, da Rua Raimundo de Souza, em Luiziana, ainda mantém marcas de sangue na calçada. Ali, na madrugada do dia 23 de julho, um homem armado com uma faca e obcecado por vingança, a invadiu e impôs um terror jamais visto na pequena cidade. O homem em questão era o ex-marido de Priscila da Silva. Mas, mesmo com um relacionamento de quase nove anos, ele não teve piedade da mãe de seus dois filhos. A golpeou por mais de 20 vezes. Não satisfeito, ainda a decapitou. E em frente a um dos dois filhos. O menor, ainda no colo da mãe, foi atingido por dois golpes.

Priscila tinha 27 anos e morava com a mãe, o padrasto e duas crianças, num imóvel pequeno e bastante simples. Assim como a vida que levavam. Família de pouquíssimos recursos financeiros, não faziam outra coisa, a não ser, trabalhar. Priscila ficava em casa, muito em decorrência dos filhos pequenos. O padrasto é trabalhador rural. Já a mãe, colaboradora numa loja de móveis.

Mas quis o destino que, há quase nove anos, Priscila conhecesse Mário de Lima Ribeiro, 27. Com a alcunha de “Indião”, acabaram se apaixonando. Da relação tiveram duas crianças. Mas vendo os princípios do sujeito, foi perdendo o encanto. “Ele a obrigava a fazer o que ela não queria. Como participar da vida criminosa que levava. Por este e outros motivos, ela acabou pondo um fim na relação”, explicou um membro da família.

Priscila era a mais nova de três irmãs. Ainda menina trabalhou na roça carpindo e colhendo batatas. Desde cedo aprendeu a tomar gosto por orações. Acreditava muito em Deus. E mantinha uma fé fervorosa, desejando assim, um futuro melhor. Devido ao trabalho, não concluiu os estudos. Mais adiante, adentrou aos quadros da JBS. Foi quando conheceu Mário. E, a seu pedido, largou o emprego. Agora, a promessa era ajudá-lo numa empreita “promissora”. Pouco trabalho, muita grana: o tráfico de drogas.

De acordo com a família de Priscila, ela sempre se mostrou contrariada ao serviço. Não queria ter participado. De um certo modo, teria sido coagida e obrigada a entrar no tráfico. E, mesmo não desejando fazer o que fazia, acabou no inferno. Foi presa por três vezes somente neste ano. Na última, há dois meses, entrou como testemunha. E passou uma semana encarcerada. A mãe pagou fiança, saindo em liberdade.

Foi o estopim para encerrar uma relação já doentia. Então, afastada de Mário, passou a ser ameaçada de morte. E, por esta razão, buscou refúgio em um abrigo, permanecendo isolada até mesmo dos filhos. “Ela estava com medo das ameaças dele. Então se escondeu”, disse um familiar. Havia pouco mais de 30 dias que os dois não se viam. De acordo com informações levantadas, Mário desconfiava que Priscila havia o denunciado à polícia. E a vingança não demorou.

Priscila era uma mulher educada e criada muito bem pela mãe e pelo padrasto. Ensinamentos de honestidade. “Era dedicada em tudo o que fazia. Tinha o sonho de construir a família longe dele. De cuidar dos dois filhos. Queria ter um novo emprego e crescer na vida”, disse uma prima, que preferiu não ter o nome revelado. Segundo ela, Priscila estava feliz com o afastamento de Mário. Com medo, mas liberta. Desejava cuidar dela mesma. “Tudo o que podia fazer pelos outros, ela fazia”.

No entanto, como testemunha de sua última “cana”, acabou pagando o preço. Ela foi, possivelmente, vítima da vingança do ex-companheiro, que ganhou um mandado de prisão por tráfico de drogas. Procurado, ele desapareceu de Luiziana. Voltando apenas para decretar seu último ato.

Ontem, o clima da residência era o pior possível. A mãe estava medicada com calmantes. Ela foi testemunha ocular da tragédia. Ao ver Mário invadir a casa, apanhou o neto mais velho, de seis anos, e se escondeu no guarda roupas. Ainda assim, escutou aos gritos de socorro da filha. E agora, vive atormentada pelo que não pôde fazer.

Versão de Mário

Réu confesso, Mário está preso. Ele estava escondido em um posto de combustíveis de Luiziana. Levado à Polícia em Campo Mourão, relatou ter percorrido cerca de 500 quilômetros – do Mato Grosso até Luiziana – para tirar satisfações com a ex-companheira, a qual havia hasteado a bandeira da liberdade já, há pelo menos um mês.

De acordo com o seu depoimento, Mário teria saído do Mato Grosso de carro. E trouxe a faca utilizada no crime, em seu bolso. “Eu não sabia que eu ia fazer aquilo. Mas eu já tinha em mente. Peguei a faca, coloquei no bolso e fui a Luiziana”, afirmou. Às autoridades, numa frieza ártica, revelou que a assassinou porque ouviu dela que iria embora com outro homem, fazendo com que ‘perdesse a cabeça’. “Quando ela falou que ia embora com outro homem e vi ela com roupas curtas no status (do WhatsApp), endoidei”.

No entanto, para a polícia, o discurso de “Indião” é balela. Na gíria popular, papo furado, conversa pra boi dormir. Mário nunca esteve no Mato Grosso. Procurado e com prisão decretada por tráfico de drogas, estava em Campo Mourão. Escondido. Segundo um policial, Mário é um homem perigoso e extremamente violento.

Em seu histórico criminal consta a participação em um homicídio, em 2016, três processos por tráfico e um por Maria da Penha. O assassinato da companheira, com requintes de crueldade e selvageria, selou o curriculum de um verdadeiro profissional do crime. Possivelmente, ele não estava com ciúmes da ex mulher. Queria apenas vingança por acreditar que ela teria denunciado o seu esquema.

O tempo entre romper a relação e o dia 23 de julho, não foi o suficiente para Priscila iniciar um novo sonho. Ela não teve condições para planejar as suas “saídas de emergência”. No caminho havia um criminoso. O pai dos seus próprios filhos, e sedento por vingança. Ele agora está preso. Priscila, morta. Não há mais o que ser feito. A não ser, aguardar a justiça dos homens. E isso, é tudo o que a família clama.