Um sequestro. Duas mortes. Três prisões
Peabiru, 31 de outubro. Era meio dia quando um homem magro, branco, rosto fino, barba rala e usando blusa com touca e boné, adentra ao quintal de uma residência na Rua Urbano Carrero. Armado, rendeu e obrigou o casal, um homem de 34 – ficticiamente chamado aqui por “Fernando”, e a esposa, de 26, de nome fictício “Ana” – a entrarem num carro. Era o início de um, ainda, misterioso sequestro. Não elucidado por completo pela polícia, até agora. Mas que terminaria no dia 3, na região metropolitana de Curitiba, com três sequestradores presos. E outros dois, mortos.
A casa em questão pertencia ao pai do homem sequestrado. Ele viu o sequestrador, que teria o ameaçado. “Fica na tua. Tá tudo certo. Não procure a polícia. Senão, a coisa vai ficar feia”. Antes de partirem como reféns, o casal deixou os filhos com o pai de “Fernando”. Depois disso, foram levados até Piraquara. Lá, um cativeiro já os aguardava. Homem e mulher permaneceram ali até o dia 3, sexta feira. Mas, por motivos ainda não completamente explicados, “Fernando” conseguiu escapar.
Naquele dia, por volta das 9 horas da manhã, uma equipe da PM estava em patrulha pelas ruas do Jardim Cruzeiro, em São José dos Pinhais, quando se deparou com “Fernando”, saindo de um carro de aplicativo. Desesperado, abordou a equipe, informando ter sido sequestrado ao lado da esposa. Mediante à informação, a polícia se deslocou, agora, até o município de Piraquara, no imóvel que seria o cativeiro.
Lá, os policiais encontraram um veículo roubado, drogas e dois supostos sequestradores – E. F. S., e L. T. R.. “Ana” não estava no imóvel e, ainda não se sabe o por que “Fernando” não teria a libertado junto a ele. Sem a outra vítima, as buscas pela polícia continuaram. Praticamente ao mesmo tempo, ainda no dia 3, mas em Morretes, uma equipe da Rotam fazia buscas para localizar um casal suspeito de executar duas pessoas. Uma câmera flagrou o momento em que os dois deixaram o local do crime, a pé. Já era final da tarde quando os mesmos foram encontrados em frente a uma pousada.
Localizados, a polícia deu voz de abordagem. O suspeito era Everton, que dispensou uma pistola Taurus, calibre 9 milímetros. Já a mulher era “Ana”, e carregava uma pistola Cherokee, também com o mesmo calibre. Aos policiais, ela afirmou ser vítima de um sequestro e que, o rapaz ao seu lado era um dos sequestradores. Mas arrependido da ação, teria a ajudado na fuga. Naquele momento, a mulher se mostrava abalada. E bastante nervosa com a situação.
Por sua vez, Everton também afirmou aos policiais ter sido coagido a ajudar os outros sequestradores. Mas arrependido, minutos antes, ao perceber que os outros comparsas teriam adormecido dentro do veículo, tomou a arma, e matou os dois. Em seguida, ele e “Ana”, fugiram através de uma mata, até o lugar onde foram encontrados. No entanto, flagrados portando pistolas, receberam voz de prisão. Everton continua preso em Paranaguá. “Ana”, de refém, acabou detida. Mas ganhou a liberdade em seguida.
Duplo homicídio. Corpos no interior de um Prisma
Na sexta feira, 3 de novembro, no estacionamento de um restaurante em Morretes, a polícia foi comunicada sobre disparos e possíveis vítimas. Naquele dia, dois corpos estavam no interior de um Prisma. Uma das vítimas era Erik Matheus do Rosário de Freitas, de 19 anos. Não continha nenhuma passagem pela polícia. E era filho do dono daquele estabelecimento.
A outra vítima era Douglas de Moraes, 38, conhecido morador de Campo Mourão pela polícia, com alcunha de “Nego Douglas”. Tinha inúmeras passagens. Segundo a PM, respondia por corrupção ativa e era um procurado da justiça. Minutos antes, os dois, ao lado de Everton, andavam com o veículo mantendo “Ana”, como refém. Segundo informações, eles queriam que a mulher sacasse dinheiro numa agência bancária. Mas os planos deram errado. Dois sequestradores acabaram mortos. E o terceiro, mesmo arrependido, preso por duplo assassinato.
De acordo com a polícia, o casal estava sendo coagido a pagar R$100 mil ao bando. Dados indicam que apenas uma parte foi dada – cerca de R$20 mil. Informações preliminares também revelam que os pagamentos foram feitos por familiares dos “sequestrados”. Pelas investigações acredita-se que a quadrilha seja composta por até oito integrantes.
“Fernando” e “Ana”, não quiseram comentar o caso. Ele mantém uma vasta ficha criminal e, segundo a polícia, tem indícios de envolvimento com tráfico de drogas e assaltos em rodovias. No jargão criminal, um “pirata do asfalto”. Segundo a PM, a história narrada por “Fernando” ainda não está clara. Principalmente, sobre a forma como escapou do cativeiro.
Everton Fernando Alves está preso em Paranaguá. Ele é casado com L., a mulher presa na casa usada como cativeiro. Ele também é cunhado de um dos homens que matou no carro, “Nego Douglas”. Até o dia de sua prisão, tinha no curriculum três passagens por embriaguez ao volante e uma por violência doméstica. Mas agora, a ficha criminal passou a ser extensa.
Ainda não se sabe a verdadeira motivação do sequestro. Principalmente, devido ao casal em questão, não demonstrar bens ou renda superior. Para a polícia, evidenciar os motivos do sequestro, é o próximo passo para se chegar ao mandante da ação. Que pode estar relacionado ao tráfico de drogas em Campo Mourão.
Delegada de Peabiru, Karoliny Neves, disse que a investigação do sequestro correrá pela sua unidade, com as vítimas sendo ouvidas esta semana. Já o duplo homicídio será investigado pela delegacia de Morretes. Para ela, a motivação ainda é o grande mistério. “Temos notícia que o casal não possui um poder econômico que justificasse o sequestro”, disse. As investigações continuam.