José Moser: o ‘esquecido’ artista das esculturas é lembrado pela AML

Neste sábado (28), às 19h30, a Academia Mourãoense de Letras vai homenagear artistas plásticos da cidade e da região. Cada homenageado vai receber o Prêmio José Moser, criado como reconhecimento público pela contribuição ao desenvolvimento e difusão da cultura. O evento será realizado no plenário da Câmara de Vereadores de Campo Mourão.

A honraria, que será outorgada anualmente a representantes de diferentes categorias profissionais e artísticas, leva o nome do grande escultor austríaco José Moser. O evento contará com a presença da Orquestra Viola no Campo e a entrada é franca.

A história de José Moser

Na segunda metade da década de 1960, quem passava por Peabiru, pela estrada que liga a cidade a Maringá e a Campo Mourão, observava, na varanda de uma das casas, uma escultura diferenciada. Era uma sereia, pomposa, ao lado de outros peixes, que foram também esculpidos. A famosa escultura hoje não existe mais. Mas permanece viva nas memórias e nas fotografias das milhares de pessoas que a avistaram em Peabiru nos anos 60.

O autor da obra de arte era José Moser, como ficou conhecido no Brasil. Hoje seu nome é lembrando somente numa rua, em Peabiru, no mesmo logradouro onde viveu ao lado de seus familiares. Josef Moser nasceu em Tirol, na Áustria, em 15 de fevereiro de 1910, na vila de Wildschönau.

Desde a infância, Josef Moser tinha o talento para a escultura, em sua escola, na vila de Wildschönau. Fazia pequenas artes nas carteiras de madeira, e seus professores constantemente o incentivavam a praticar e desenvolver seu talento.

Aos 17 anos, com esforço, ingressou na Academia de Belas-Artes em Viena. Aprendeu, com as aulas particulares, grande parte dos truques da escultura em madeira. Após cinco anos de estudos, foi transferido para a Academia de Belas Artes de Munique, na Alemanha, onde concluiu seus estudos. Pouco tempo depois, conheceu sua futura esposa, Maria Moser, e se casaram dois anos antes de irem para o Brasil.

Em terras brasileiras

Partiram para o Brasil por influência do ministro da Agricultura, Andreas Thaler. Ele fez um aviso para os moradores de Wildschönau, em 1935, de que uma nova guerra poderia emergir, e que a melhor opção era fugir para o Brasil, enquanto havia tempo. O ministro havia adquirido terras em Santa Catarina. Então, no mesmo ano, embarcam em direção ao sul do Brasil.

A família Moser e outros imigrantes austríacos, alemães, italianos e suíços fundaram a cidade de Treze Tílias, famosa pela grande inspiração europeia, também sede do Consulado Austríaco.

Em 1935, morando em Treze Tílias, construiu uma bela casa, onde nasceu sua filha Hildegard, que constituiu família no Paraná e atualmente mora no Conjunto Habitacional Dr. Milton Luiz Pereira, aos 75 anos. José Moser produziu grandes obras em madeira, enquanto esteve em Treze Tílias, a maioria delas era oferecida como presentes.

Moser brilha em Peabiru com escultura de Cristo Crucificado

José Moser diante de sua criança, o Cristo Crucificado

No ano de 1951, recebeu uma proposta de sociedade para abrirem uma serraria em Peabiru. Moser deu sua entrada vendendo sua chácara em Treze Tílias e partiu para a construção da serraria. Em 1953, uma grande geada assolou a economia paranaense, dando enormes prejuízos para as atividades industriais e comerciais, prejudicando as atividades da serraria de José Moser. Diante da situação, esculpiu em grandes proporções um Cristo Crucificado, considerada uma de suas mais perfeitas obras.

Em 1955, o escultor e seu irmão Miguel, em companhia do amigo André Thaller e Ludovico Brucker, representando a Áustria, participaram do Congresso Eucarístico realizado no Rio de Janeiro. Segundo William Moser, bisneto de José Moser, o bisavô levou para o evento uma das suas esculturas, do tamanho de um homem adulto. A imagem sacra foi vendida por um preço que possibilitou o meu bisavô a comprar materiais para a subsistência da família.

Com o sucesso, definiu que sua atividade dali para frente seria a arte. Em vez de inserir uma placa na sua residência, esculpiu, na coluna da pequena área e nas balaustradas, uma sereia e 13 peixes exatamente iguais, despertando o encanto durante anos de todos que passavam por Peabiru. A escultura foi descrita recentemente numa crônica do escritor Miguel Sanches Neto, publicada em jornais e numa revista em Pernambuco.

Em 1963, seu sobrinho Conrado Moser veio de Santa Catarina, onde nasceu, para ajudar e aprender a profissão. Conrado se tornou uma das principais referências das esculturas em madeiras no Brasil.

William conta que José passou então a trabalhar, esculpindo sempre, o produto de sua arte e comercializando a preços irrisórios. Na sua residência, desde mesas e cadeiras, tudo era esculpido, com criações inéditas e preciosas. Hoje, suas obras estão espalhadas em órgãos públicos, igrejas católicas e protestantes da região.

José Moser faleceu em 15 de setembro de 1968, em Peabiru, em virtude de um acidente doméstico, enquanto estava podando uma árvore, escorregou da escada, o que lhe causou ferimentos graves. Estamos felizes com a iniciativa da Academia Mourãoense de Letras em homenagear o patriarca da nossa família. É o reconhecimento a um artista que tanto fez pelas artes. E que estava esquecido e ressurge numa homenagem a pessoas que igual a ele, também acreditam no poder da transformação da cultura, finaliza.