Pedido de ‘despejo’ de cães comunitários de cemitério revolta moradores em Mamborê

A cadela ‘Brancona’ e os seus outros quatro companheiros, os “Grandões”, como são chamados, estão correndo risco de serem ‘despejados’ do cemitério municipal de Mamborê. Abandonados na rua ainda filhotes, os bichos escolheram o campo santo e seus arredores como ‘moradia’. Vivem por lá há cerca de 8 anos, onde passam a maior parte do tempo. Todos são castrados. Muito bem cuidados por moradores, se tornaram cães comunitários.

Eles são dóceis. Aproveitam a liberdade como podem. Gostam de brincar em um rio próximo do local. De vez em quando aparecem com espinhos de ouriço pregados ao focinho ou machucados de mordeduras de quatis quando cruzam com estes animais silvestres na mata. E é aí que entra em ação uma rede de cuidadores para recuperá-los. Os bichos, aliás, brincam com qualquer um que dê ‘corda’ a eles. A cuidadora Dirce Batista, responsável direta pelos cachorros que o diga. Mas ela está angustiada com o risco deles perderem a liberdade.

É que o vereador Fabio da Silva Ferreira (PODE), mais conhecido como ‘Chitão’, apresentou requerimento na Câmara, solicitando ao município que recolha os cães ao canil. O pedido foi aprovado por unanimidade. No mesmo documento ele que saber também as condições do canil, capacidade de vagas, quantos animais vivem lá atualmente, entre outras.

Em seu discurso, na apresentação do requerimento, o vereador reconhece que a “Brancona” e os “Grandões” são bem cuidados. No entanto, segundo o parlamentar, ‘alguns membros da comunidade têm indagado sobre a seguranças das pessoas que visitam o cemitério’. A preocupação, conforme ele, é de possíveis ataques à população. “Diante do fluxo de pessoas [no local], estes animais podem não ter o comportamento esperado e isso pode gerar consequências aos moradores”, alegou Ferreira. Ele disse ainda que a intenção não é criticar os animais ou quem cuida deles, mas sim ‘buscar melhorias’ aos bichos.

“Os animais do cemitério são de grande porte e territorialistas. Esta questão do territorialismo por já estarem inseridos é o que vem trazendo preocupações para muitos munícipes, pois quando se deslocam até lá e se deparam com estes animais nem sempre são dóceis e receptivos, como gostaria”, sustentou.

Sofrimento

Apesar dos argumentos do vereador, a cuidadora responsável pelos cães, Dirce Batista, garante que nestes oito anos que os cachorros estão no local jamais atacaram alguém. Ela é contra a ideia de prendê-los no canil. “O canil está superlotado. Os cães são de grande porte e vão sofrer muito se forem para lá”, preocupa-se. Dirce afirmou ainda que, ao contrário do que argumenta o vereador, os bichos não oferecem riscos a ninguém. “Me responsabilizo por eles. É angustiante saber que poderão viver como leões trancados em jaula”, lamentou.

Dirce tem um cuidado vip com os animais. Ela inclui até fígado de frango no cardápio deles. Para se ter ideia, um dos bichos pesa quase 50 quilos, fala Dirce. “Eu cuido muito bem deles. O vereador nem me procurou pessoalmente para saber da situação. Apenas apresentou um requerimento baseado em uma reclamação”, comentou.

A moradora Imeri Batista, que também ajuda a cuidar dos cães, está revoltada com o pedido do vereador. “Não tem cabimento. É uma proposta sem sentido que só vai causar o sofrimento dos animais”, falou. Ela também citou que o canil municipal está superlotado. “São cães de grande porte que se forem levados para lá correm o risco de adoecerem e até morrer”, disse. Imeri informou que os cuidadores dos bichos farão um abaixo-assinado para uma mobilização à liberdade da “Brancona” e dos “Grandões”.

ASAM

A TRIBUNA ouviu também a fundadora da Associação de Solidariedade Animal de Mamborê (ASAM), Cristiane Batista Neves, que se pronunciou sobre o caso. A ASAM atua há cerca de 10 anos na causa animal em Mamborê. Cristiane está indignada com o posicionamento do vereador. “Ele está atendendo um ou dois eleitores dele. Mas não conhece nem o canil municipal. Não sabe o que está falando. Não tem conhecimento de causa para propor um requerimento deste”, falou.
Cristiane informou que a Associação é formada por 30 membros e todos são contra a ideia de prender os cães no canil municipal. “Fizemos um ofício comunicando o vereador que se ele conseguir fazer a retirada dos animais do cemitério terá que ficar responsável pela socialização deles porque são animais grandes acostumados a viver livres. Todos estão esterilizados e recebem acompanhamento veterinário frequente. Não oferecem qualquer risco a ninguém”, comentou. Cristiane ressaltou que a ASAM é ‘totalmente’ contra a retirada dos cães do local. “O canil não é adaptado para estes animais. Eles irão sofrer muito se forem levados para lá”, preocupou-se.