Santiago de Compostela: após mais de 1 ano de convênio para Caminho Iniciático, obras seguem ‘a passos lentos’
Passados mais de 1 ano da assinatura do convênio para implantação do Caminho Iniciático de Santiago de Compostela no Paraná – o primeiro fora da Europa – e após 6 meses da entrega do Plano Diretor ao Palácio do Governo, o Governo Estadual, que se comprometeu em contribuir com investimentos financeiros para a concretização do projeto, ainda não se manifestou para efetivar as obras necessárias para adequação do caminho.
De acordo com Ruben Orlando Moyano, um dos idealizadores do Caminho Iniciático, da pastoral do turismo e da Rota da Fé – trajeto que compreenderá o primeiro caminho de Santiago de Compostela no Brasil –, o Governo do Paraná se comprometeu em levar o Plano Diretor à frente. Apesar disso, lamentou o fato de o projeto não ter dado continuidade por parte da instância estadual competente.
Isso não quer dizer que o trabalho ficou parado desde que o plano foi apresentado. No entanto, Moyano esclareceu que são ‘pequenos atores’, com a união de entidades privadas e associação de amigos de Santiago de Compostela no Brasil, por exemplo, que estão agindo no sentido de concretizar as adaptações necessárias.
Moyano destacou três ações indispensáveis para se fazer nesse estágio do projeto para implantação oficial do caminho. A primeira se trata da necessidade de sinalização do trajeto de cerca de 104 quilômetros. Ele inicia em Campo Mourão, passa por Corumbataí do Sul e Barbosa Ferraz e finaliza em Fênix, no Parque Estadual Vila Rica de Espírito Santo, criado em 1955, onde estão as ruínas de construções jesuíticas Villa Rica del Espiritu Santu, cidade fundada em 1592 pelo governo espanhol.
“Precisa inserir duzentas e setenta e uma placas, sendo duzentas e trinta e cinco de indicação com setas para onde ir e trinta e seis de informação, falando a região onde está, as etapas, quantos quilômetros faltam, qual é o próximo destino”, explicou.
A segunda medida é aumentar a hospedagem. O líder da Rota da Fé falou que, na saída de Campo Mourão, já há estrutura para comportar a ‘passagem’ de peregrinos, porém, na metade e no final do trajeto, a hospedagem é insuficiente ou, até mesmo, inexistente. “Mas tem muitos interessados em inserir-se nesse tema, não só da área hoteleira aqui de Campo Mourão, mas também já ligaram interessados de hotéis de Curitiba, outro de São Paulo”, ressaltou.
Dessa forma, a hospedagem, um tema que poderia gerar dificuldades, não será um problema, de acordo com Moyano, até mesmo porque, ele disse que, além dos hotéis, também há pousadas-fazendas que já existem na região com intenção de ampliar e outras de se instalar na rota. Inclusive pessoas que moram no caminho já perguntaram sobre a possibilidade de fazer albergues, mesmo que comporte poucos hóspedes, mas que também é uma alternativa possível, segundo Moyano.
O terceiro ponto fundamental destacado foi a criação de uma entidade que administre e regule o Caminho Iniciático. “Ou seja, que fale ‘o mesmo idioma’ para os quatro municípios”, esclareceu. “Aqui temos uma instância de governança, que também teve um papel muito importante para fazer o Caminho Iniciático de Santiago de Compostela, que poderia administrar. Ou seja, nós já temos quem poderia ser. É só questão de todos os ‘atores’ se encontrar e decidir”, afirmou.
A avaliação dos envolvidos na concretização do projeto não é apenas consolidar o turismo religioso na região, mas também movimentar rendas locais por onde o caminho passa e gerar empregos, para diferentes níveis de escolarização. Isso porque, conforme citou Moyano, são diversos os conhecimentos técnicos que serão necessários para suprir as demandas dos peregrinos, demandando profissionais turismólogos, guias turísticos, operadores, entre outras áreas.
A proporção do Caminho Iniciático pretende ir além de trazer benefícios apenas para a região em que a rota passa. “Esse caminho não vai ser importante somente para a nossa região, mas para todo o entorno, local, nacional e internacional”, frisou, citando exemplos de peregrinos de outras localidades que já fizeram o trajeto e estenderam o “passeio” para outras cidades e estados do país, como o município paranaense Foz do Iguaçu, Aparecida do Norte, em São Paulo, e Pantanal, no Mato Grosso do Sul.
Mesmo sem o caminho estar oficialmente aberto, por exemplo, sem o fornecimento de credenciamento/certificação da rota ainda, a Curitigrinos, Associação Paranaense de Amigos de Santiago de Compostela, já tem intenção de trazer um grupo para fazer a peregrinação em março deste ano. Espera-se que, até lá, as obras já tenham avançado. Além disso, há grupos de diversas partes do Brasil e do exterior esperando para fazer a rota. “Nós temos grupos esperando de Brasília, Goiás, Argentina, Paraguai, Bolívia”, exemplificou Moyano.
Compromisso do Governo Estadual
A Diocese de Campo Mourão foi a pioneira na implantação de caminhos religiosos, com a criação da Rota da Fé na região da Comcam. Em função disso, recentemente, em novembro de 2023, o Bispo Dom Bruno Elizeu Versari, representante da Diocese, enviou uma carta ao governador do estado, Carlos Roberto Massa Júnior (PSD), solicitando uma programação para o auxílio do governo para as obras, conforme compromisso firmado com a assinatura do acordo de cooperação, em 2022. Todavia, até o momento, não se teve retorno.
Moyano faz um apelo para que cada um que se comprometeu com a concretização dessa obra cumpra, de fato, o compromisso firmado, para que os resultados possam começar a ser gerados. “A curto prazo já nossa região vai receber muitos turistas sadios, que não virão para mudar nada na região, pelo contrário, virão consumir a cultura e tudo o que se produz aqui”, disse, complementando que espera que outros Caminhos Iniciáticos já concedidos, como no México e na Argentina, não superem o primeiro, aqui no Paraná. “Para isso, nós precisamos trabalhar em equipe”, concluiu.
A equipe de reportagem da TRIBUNA fez diversas tentativas de contato diretamente com o deputado Márcio Nunes (PSD), secretário da Setu (Secretaria de Estado de Turismo), porém não teve êxito. Vale destacar que este veículo de comunicação permanece aberto a dar continuidade ao assunto, com os esclarecimentos necessários, de acordo com a disponibilidade e interesse do secretário.
Curitigrinos e a avaliação do Caminho Iniciático
A Curitigrinos é uma Associação Paranaense dos Amigos de Santiago de Compostela que nasceu em 2004, em Curitiba, sendo registrada oficialmente como associação em 2012. A entidade sem fins lucrativos tem como objetivo orientar as pessoas que querem fazer os Caminhos de Santiago de Compostela. São feitas caminhadas preparatórias, para os interessados sentirem como são os trajetos originais, assim como palestras e outros encontros.
Quando surgiu a ideia do Caminho Iniciático, a associação foi atrás para ver com o que seria possível contribuir. “Tudo o que diz respeito à peregrinação a Santiago nós temos interesse”, falou Isabela Bittencourt Munhoz, diretora da Curitigrinos. “O peregrino indo conhecer pode trazer mais sucesso para um caminho de diz respeito a Santiago de Compostela”, completou.
Desde então, o grupo passou a acompanhar de perto o andamento da proposta. Por exemplo, Isabela participou do lançamento do caminho, durante a assinatura do convênio no Palácio do Governo. Ela ressaltou que a associação torce muito para que dê certo, considerando que o Caminho Iniciático pode proporcionar uma vivência do que é encontrado nos trajetos originais, conforme atestado por ela e outros peregrinos que já fizeram percursos tanto em Santiago de Compostela quanto na Comcam, mesmo ainda sem ser oficial.
Isabela tem propriedade para falar do assunto. A peregrina já fez 6 caminhos que levam à Praça do Obradoiro, em Santiago de Compostela. Com um grande repertório e experiência na peregrinação, ela comentou sobre o Caminho Iniciático. “É um caminho totalmente viável, só que precisa ser levado em frente todo o projeto”, avaliou, ressaltando que os 4 peregrinos da Curitigrinos que fizeram a rota recentemente foram muito bem recebidos na região pelos comerciantes e todas as paróquias em que eles passaram.
“A proposta é muito boa desse caminho, nós fomos, ele é muito viável, o grau de dificuldade não é muito fácil, mas também não é inviável. Eu acho que para o Paraná faz falta um caminho forte assim. É uma vivência do que você vai encontrar em Santiago”, destacou a peregrina.