A história por trás do meio “fuka”

O “fuka” sumiu. Espécie de patrimônio dos mourãoenses, o meio Fusca azul, elevado sobre a marquise de uma edificação, por quase 50 anos, não está mais lá. Foi retirado dias desses. O prédio em que ele ficava, foi vendido. O novo dono, agora, vai restaurar a estrutura. Por conta disso, a antiga tapeçaria, saiu junto com o “fuquinha”. Na verdade, Edízio, o tapeceiro, acabou herdando o meio carro.

Edízio de Araújo tinha a sua tapeçaria no prédio há 17 anos. Conta ele que, quando chegou, o meio “fuKa” ali já estava. Então, o adotou como fachada. Durante todo o tempo atuando no local, viu o meio veículo ser vandalizado. “Tinha um pé de limão na calçada.

A piazada subia nele e chegava até a marquise. Quebraram o farol. Até um tiro tinha nele”, disse o tapeceiro. Há alguns dias, lixando a lataria, encontrou o projétil.

Antes de deixar o prédio, Edízio pediu o “fuka”. E o ganhou. Agora, ele está restaurando o meio carro. Pretende lixar. Pintar. E, com sorte, ganhar algumas peças. “Se as pessoas conseguirem me dar alguns itens que faltam, vou agradecer”, disse. Ele necessita de um farol, lanternas dianteiras e traseiras, frisos e vidros. Tudo para dar ainda mais vida a um dos “símbolos” populares da cidade.

Figura marcante de Campo Mourão, nas últimas décadas, não há na cidade quem nunca tenha visto o meio “fuka”. Pais levavam os filhos para ver o carro. E, isso, há gerações. Além disso, virou ponto de referência. Localizado próximo ao Muffato, muita gente se guiava quando via o “azulzinho”, pendurado na parede. 

Agora, a tapeçaria, “Auto Campus Estofados”, está em novo endereço: Perimetral Tancredo Neves 2176. E, tão logo o “fuka” seja restaurado, será mais uma vez levantado sobre a nova marquise. “Esse Fusca vai me trazer sorte nos negócios. Ficou comigo 17 anos. Vai continuar até eu morrer”, disse. 

História

O prédio que abrigava o Fusca foi construído no finalzinho da década de 60. O responsável era Antenor Weber Krukoski. Um mecânico que, com muita criatividade, bolou a lataria como fachada. Sua oficina chamava-se Universal e durou até meados de 1981. Ano em que deixou Campo Mourão rumo a Cuiabá. Levou a esposa e os dois filhos. Na época, vendeu o prédio. Mas deixou o “Fuka” na parede. Mal sabia ele que, sua criação, estamparia as páginas dos jornais, 50 anos depois.

Ídala Magda Krukoski, hoje com 57 anos, é filha de Antenor. Ela continua morando nas terras quentes de Cuiabá. Conta que o pai morreu em 1993. Jovem, aos 54 anos, vítima de um derrame cerebral. “Acho que eu fui a responsável pela mudança à Cuiabá”, diz. Ídala lembra que trabalhava na antiga Livraria Roma, em 1980, quando folheava a Revista Cruzeiro. Estava lá, o motivo. Ela encontrou a propaganda de uma máquina inovadora de sorvetes: o famoso sorvete italiano.    

“Eu mandei uma carta para a fábrica daquela máquina. Queria informações”, disse. Para o seu espanto, dias depois, chega a sua casa, um vendedor do equipamento. Antenor o recebe e inicia uma longa prosa. E não é que o mecanico gostou da ideia dos sorvetes. Vendo a possibilidade para um novo negócio, comprou a máquina. Mais tarde, decidiu ganhar dinheiro onde o clima facilitava. E nada melhor que Cuiabá. 

A família mudou-se para o Mato Grosso em 1981. Antenor continuou com uma oficina. E, ao mesmo tempo, construiu um trailer para a esposa. Inseriu as máquinas de sorvete, e conquistou a cidade. Foram as primeiras máquinas de Cuiabá. A sorveteria durou quase dez anos.  

Antes de deixarem Campo Mourão, o “fuka” foi um dos destaques do desfile de 10 de Outubro. O dia do aniversário da cidade. Ele foi retirado da marquise, em 1976, e levado até a avenida Capitão Índio Bandeira. O que não faltaram no dia, foram fotos tiradas por populares. Afinal, foi a primeira vez que o meio “fuka”, deixou a parede. E ainda, aplaudido como se fosse uma Ferrari.