A quarentena de Vanda Silva

Vanda Silva está curtindo a sua quarentena. Ao lado do marido, ela cria ambientes e deixa o isolamento sem tédio. Um dia dança forró. Noutro faz a dança do ventre. Tudo com muita alegria. Faz isso pra espantar as angústias de uma pandemia insuportável. Filma toda a brincadeira e depois posta nas redes sociais. Vanda é uma pernambucana porreta. Mostra que, mesmo num confinamento, ainda é possível continuar sendo uma legítima brasileira. 

Aos 64 anos de idade, Vanda é uma mulher ativa. Pode-se dizer, hiper ativa. Antes do confinamento fazia academia e diversas outras atividades. Agora, impedida de sair, voltou sua energia para a garagem. E é lá onde, ao lado do marido, Eduardo da Paz Lemes, busca alegria em dias de tristeza. Junto, o casal vem saindo do convencional. Todo dia. Dançam, brincam, treinam. E isso é uma espécie de terapia. Que faz bem a alma e ao coração. “Assim a vida fica mais fácil”, garante.

Vanda nasceu em Gravatá, ao lado de Recife. Veio a Campo Mourão aos 13 anos com os pais. O pai morreu. Mas a mãe ainda está viva. E bem viva. Ela tem 88 anos, mora no sítio com um dos netos e ainda carpi sua rocinha todos os dias. Já passou por várias dificuldades na vida. Anos atrás teve um AVC – acidente vascular cerebral – quando ficou 15 dias no hospital. Ano passado passou por uma operação de vesícula. Deu tudo certo. “É uma raça de gente forte”, diz a filha.

A nordestina de energia poderosa lembra que nas terras vermelhas da cidade, casou. Depois “enviuvou”. Mais tarde casou de novo, agora com Eduardo. “Meu gato tem 38 anos”, diz. Conta que continuam a vida. Embora enclausurados em casa, fazem o que sempre faziam lá fora. Esses dias fizeram um bailinho a dois. Enfeitaram o ambiente com retalhos coloridos e dançaram forró por um bom tempo. Em outros dias ela também treina boxe. “Eu sempre treinei na academia. Agora dou continuidade na garagem com o maridão”, revela. 

“Eu como mulher gosto de me arrumar. Mas na quarentena ninguém faz isso. Então faço minhas maquiagens, coloco um salto e me arrumo. Aí fazemos o baile”, explica. Vanda não gosta de rotina. Então, ao invés de ficar na frente da TV vendo notícias sobre as mortes e a pandemia do Covid, prefere ousar. “Temos que levar esses dias de maneira leve. Senão vamos enlouquecer”, diz. E assim o casal criou a própria história. A filha de 17 anos também mora na casa. Mas quem tem o pique mesmo é Vanda. O outro filho mora na zona rural com a avó. 

Vanda está respeitando as regras da saúde. Não tem saído de casa. Mas espera que tudo passe rápido. “Deus vai cuidar de todos nós. Ainda não sabemos o que é isso e onde vai parar”. Além de toda criatividade, Vanda vem fazendo máscaras em casa para doar a quem não tem. A mulher de 64 anos se assemelha a uma menina. Transparente em tudo o que faz, buscou no marido de 38 anos sua essência de felicidade. E Eduardo a acompanha. E como diz Renato Russo, “e quem irá dizer que não existe razão pras coisas feitas pelo coração”.