Área com trigo na Comcam é 15% menor, mas produção deve aumentar

O semeio do trigo da safra 2021/22 segue de forma bastante tímida na região de Campo Mourão devido a falta de chuvas. Há cerca de 40 dias a Comcam não registra precipitações significativas. Até o momento, conforme a Secretaria Estadual de Agricultura (Seab), apenas cerca de 1% da área foi cultivada.

Nesta temporada, a área com trigo é de 85.000 hectares, 15% menor em relação à safra anterior. No entanto, a produção estimada deverá ser 4% maior, atingindo 250.750 toneladas. Na safra anterior, os produtores plantaram 100.000 hectares do cereal. A produção foi de 240.000 toneladas. “Apesar da área menor, a previsão é de aumento na produção, devido à possível recuperação da produtividade”, comentou o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho, da Secretaria Estadual de Agricultura, vinculada ao Departamento de Economia Rural (Deral).

Ele lembrou que no ano passado, a região enfrentou problemas com a seca, que causou quebras na produção. “Esta primeira estimativa leva em conta do um potencial de produção. A região de Campo Mourão tem potencial de produzir até 3 mil quilos por hectare. Mas o trigo é uma cultura muito exposta, com riscos de geada, seca, ou chuva na colheita, potenciais problemas que podem ocorrer, mas são computados no início da safra”, explicou.

Segundo Godinho, muito provavelmente a área já plantada na Comcam ainda nem deve ter germinado devido a falta de umidade no solo. “O produtor está esperando a chuva”, observou. A expectativa é que o plantio se intensifique a partir de maio, caso haja chuvas.

Sobre a redução da área de trigo, Godinho diz que este fator se deve principalmente aos preços recordes do milho, que fez com que os produtores optassem pela cultura. “Normalmente onde existe possibilidade de se plantar o milho safrinha esta vem sendo a escolha do produtor. Na região de Campo Mourão isso foi mais problemático porque o plantio da soja sofreu atraso. Com isso empurrou o milho safrinha para frente que também ficou atrasado. Estes dois fatores geraram a oportunidade de o produtor aumentar a sua área de trigo. Porém onde não aconteceu isso e teve o plantio da soja relativamente normal com a colheita feita no período adequado e uma chuva no final de março, o pessoal plantou milho porque era muito vantajoso”, ressaltou.

O agrônomo destacou o bom momento do trigo em relação aos preços no mercado.  A saca de 60 quilos está cotada a R$ 90,73. No mesmo período do ano passado estava a R$ 57,00. Ou seja, em um ano sofreu uma valorização de 33%. “Estamos com o dólar muito alto e isso está sendo impulsionado pela cotação do dólar”, frisou.

Janela de plantio

A janela para plantio do trigo foi aberta desde o começo de abril. Os municípios têm até o final de maio para finalizar a semeadura. O atraso no semeio, ainda não preocupa, segundo Godinho. Para esta semana, conforme o Deral, a expectativa  é que a semeadura não ultrapasse nem 2% no Paraná. “Isto de forma alguma configura um problema, por enquanto. Prova disso é a safra de 2016, também com menos de 1% plantada nesta mesma época resultou na produtividade recorde do estado: mais de três mil quilos por hectare”, acrescentou.

Números

O Brasil consome anualmente 11,8 milhões de toneladas de trigo, porém produz cerca de 6,2 milhões de toneladas, sendo o estado do Paraná o principal produtor, contribuindo com 50% da produção nacional. Para atender o consumo interno é necessário importar trigo, de modo que em 2020 o Brasil importou 6,8 milhões de toneladas, acarretando o envio de recursos financeiros escassos para o exterior, os quais deixam de ser utilizados no Brasil e na cadeia produtiva deste importante cereal de inverno.

Considerando que a área cultivada com a soja no Paraná é de aproximadamente 5,5 milhões de hectares e que no inverno o milho segunda safra ocupa 2,28 milhões de hectares e o trigo apenas 1,12 milhão de hectares, fica evidente que a área de trigo ou de outros cereais de inverno, como a aveia e o triticale, poderia ser significativamente expandida em detrimento do pousio.

O atraso na colheita da soja devido a problemas climáticos como a falta de chuvas no início da época da semeadura e posteriormente períodos longos com dias nublados e excesso de chuvas, atrasaram o desenvolvimento da planta retardando a colheita. Esse atraso está prejudicando a semeadura do milho segunda safra em todas as regiões do Paraná onde há o cultivo do milho safrinha, porém com mais intensidade nas regiões Sudoeste, Oeste e Norte do Estado.

Uma opção para os agricultores que estão enfrentando o problema da semeadura do milho segunda safra, dentro do prazo estabelecido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), é o cultivo de cereais de inverno. A cultura do trigo é a principal alternativa de produção para a safra de inverno no estado do Paraná e se encaixa no período de abril a outubro, dependendo da região de cultivo, em sucessão à soja.

O estado do Paraná é dividido em três grandes macrorregiões em relação a adaptação e indicação de cultivares de trigo são elas: região 1: Centro-Sul, fria e úmida, com clima temperado e altas altitudes, representada por Ponta Grossa, Irati e Guarapuava; Semeaduras indicadas para os meses de junho e julho. Região 2: Central, moderadamente quente e úmida, intermediária em clima e altitude, representada por Campo Mourão, Cascavel e Pato Branco; Semeaduras indicadas para os meses de abril a junho. E região 3: Norte/Oeste. Quente e moderadamente seca, com clima subtropical e baixas altitudes representada por Londrina, Maringá e Palotina. Semeaduras indicadas de abril a maio.