“Coca”, o colombiano atrás de uma “Lambe Lambe”
Há algo de novo, ou melhor, de antigo na praça São José, em Campo Mourão. Foi o que descobriram as cinco amigas, Isabele, Ana, Duda, Marjory e Isabely. Aos 14 anos, elas se depararam com Javier Palacios Coca, um colombiano que ganha a vida atrás de uma “Lambe Lambe”. Na verdade, uma máquina fotográfica Polaroid, ano 1945.
Acostumadas com a tecnologia dos celulares, elas demoraram a acreditar que aquela coisa velha tirava fotos. E, ainda, as revelava na hora. A magia da fotografia contagiou a todas. “É muito legal ver isso. Só conhecia dos filmes”, disse Ana. Javier está em Campo Mourão há um mês. Chegou direto do Paraguai, onde permaneceu isolado durante o ciclo pandêmico. Na cidade vem colecionando amigos. Inclusive, mora provisoriamente com alguns.
Nascido em Bogotá, estudou artes cênicas e fotografia. Anos depois, em 2008, se aperfeiçoou em fotojornalismo em Havana, Cuba. A vida se transformou mesmo em 2012, no Peru, quando conheceu alguns argentinos sem destino, que viajavam pelo mundo a bordo de uma Kombi. “Naquele momento decidi que queria ser como eles”, disse.
Na volta do Peru, passou mais quatro anos trabalhando e juntando dinheiro. Na Colômbia, a grana vinha através do teatro. Então, já em 2016, comprou uma van 4×4, o equipamento – a “Lambe Lambe” – e colocou o pé no mundo, ou melhor, a cabeça. Primeiro rumou até o Equador. Depois Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e, finalmente, o Brasil. Em todos os lugares arma a câmera e inicia o tour de explicações e, somente depois, as fotos. Cada retrato sai por R$40. E ali, naquele pequeno mundo mágico da fotografia, as pessoas veem o resultado surgir na hora. É mágico. Não poderia ser diferente.
O equipamento é como um verdadeiro laboratório das fotos antigas, em preto e branco. Na parte superior, em madeira, ele armazena o papel fotográfico, assim como os líquidos reveladores. É a chamada câmara escura. Uma vez tudo organizado, Javier posiciona a pessoa no seu cenário. E, ao pedir “mira el pajarito” – olha o passarinho -, o clique está feito. Num primeiro momento, ele revela o negativo. Em seguida, retira outra foto, agora do próprio negativo. Em segundos a magia acontece: a foto fica pronta.
Conhecido apenas por “Coca”, Javier tem 42 anos. E mesmo distante da família, jamais a esqueceu. “Falo com eles todo dia. Sabem onde estou e pra onde irei”, disse. Ele perdeu a mãe em 2002, vítima de câncer. O pai está vivo e bem, assim como suas outras três irmãs. No caminho solitário, jamais esteve só. Acredita que Deus sempre anda no banco do passageiro. Além disso, comunicativo, faz amigos com uma facilidade invejável. Talvez seja por isso que quase não precise dormir na própria van.
Mas a trajetória escolhida por Javier, não é em vão. Há tempos ele almejava se auto conhecer. Buscar algo novo que colaborasse a isso. Na estrada, num caminho sem direção, ele aprendeu não só a se entender. Mas entender as pessoas, as dificuldades, o mundo. E as lições acontecem dia a dia, semana a semana. O tempo não para. Ele permanecerá em Campo Mourão somente até o próximo domingo. Depois rumará a Maringá. Os planos são chegar até o Norte, no Amazonas. E Javier não tem pressa.
Em tempo: as cinco amigas ganharam uma foto de presente. E, simplesmente, não acreditaram no resultado. A fascinação foi tanta que tiveram que fazer uma disputa pra ver quem ficava com o retrato. O espanto é compreensível. Elas têm apenas 14 anos. Já a máquina, 77.
Instagram de Javier – elviajedelcoca/ whatsapp +5730224924519