Colégio Adventista de Campo Mourão usa cão para promover suporte emocional aos alunos

O Colégio Adventista de Campo Mourão iniciou o ano letivo de 2025 com uma novidade que tem ganhado a simpatia e o interesse de todos. Com a intenção de aproximar os alunos da natureza, por meio dos animais, a instituição conta agora com mais uma integrante em sua equipe – ou, talvez, uma nova aluna, considerando que ela está em fase de aprendizagem –: a Mel, uma cachorrinha da raça Golden Retriever de pouco mais de dois meses.

O orientador educacional Jardel Crosby e a diretora Aline Gonçalves comentaram, em entrevista à TRIBUNA, que a interação de todos os estudantes com a Mel já tem sido bastante positiva

O projeto teve início com o objetivo de apoiar o trabalho com crianças que apresentam transtornos, como o autismo. No entanto, em uma semana que os discentes iniciam as aulas e tiveram contato com a filhote, já foi possível perceber outros inúmeros benefícios que a mascote trará para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes de modo geral. É o que avaliaram a diretora Aline Gonçalves e o orientador educacional Jardel Crosby, em entrevista concedida à TRIBUNA. Eles compartilharam detalhes sobre a iniciativa do projeto e as ações que planejam implementar a partir dele.

Iniciativa e chegada da Mel

Mel chegou ao Colégio Adventista de Campo Mourão – seu novo lar – no início de fevereiro, vinda de Curitiba. A ideia de adotar um cão para apoiar emocionalmente os alunos partiu de trocas de experiências com outras unidades da rede Adventista ou apoiadas por ela, por exemplo, algumas escolas de Curitiba, que implementaram esse projeto há mais de quatro anos.

De acordo com Jardel, das mais de 500 unidades de educação Adventista no Brasil, ele tem conhecimento de aproximadamente 10 que desenvolvem esse trabalho, todas demonstrando sucesso. Nas regiões oeste e norte paranaense, a instituição de Campo Mourão foi pioneira na implantação do projeto, que já impulsionou outros colégios da rede, como os de Cascavel e Toledo, a também iniciarem o trabalho, conforme pontuou o orientador educacional.

A escolha da raça do pet não foi por acaso. “Os cães da raça Golden Retriever têm já uma predisposição a ter essa socialização com as crianças, é um cão que gosta muito de carinho, de afeto”, explicou Jardel. Aline completou, destacando a inteligência da raça para o treinamento, o que facilita a adaptação ao ambiente escolar agitado. “Por isso que todas as escolas Adventistas que estão com esse projeto adotaram o Golden”, pontuou ela.

Como o objetivo da iniciativa é dar suporte emocional aos discentes, a Mel está sendo treinada por um profissional adestrador três vezes por semana, para aprender gradualmente os comportamentos necessários para ajudar os alunos. Porém, o bem-estar da cachorrinha é uma prioridade para a equipe escolar. “Estamos cuidando para que ela tenha um bom desenvolvimento. A convivência com o cão ensina às crianças empatia, a importância de respeitar o próximo e suas necessidades”, comentou Aline.

A equipe de funcionários da instituição também está se revezando para levar a cachorrinha para casa algumas noites e aos fins de semana, garantindo que ela se adapte bem ao novo ambiente. O apoio dos pais é outro ponto que tem sido positivo, com alguns relatando que a iniciativa chegou “em boa hora”, já que os filhos frequentemente pedem um animal de estimação, mas nem sempre podem ter um em casa.

Entre os benefícios pontuados pela gestora da unidade escolar, estão a melhoria na frequência e na pontualidade dos estudantes, para terem um momento com Mel antes de as aulas iniciarem

Intervenção com cão na escola e benefícios para o desenvolvimento dos alunos

O Colégio Adventista de Campo Mourão atende cerca de 640 alunos, entre 2 e 17 anos, da educação infantil ao ensino médio. Os profissionais entrevistados comentaram que a interação de todos os estudantes com a Mel tem sido bastante positiva, com as crianças e os adolescentes demonstrando empatia e carinho pela cachorrinha desde os primeiros dias. “Em poucos dias de aula, já surgiram tantas possibilidades, vendo a interação dela e como mudou a rotina dos alunos”, avaliou a diretora.

A cachorrinha tem sido parte do dia a dia da escola, participando de momentos como a chegada e saída dos alunos, intervalos e, quando necessário, interagindo nas salas de aula. Em períodos de menor movimento, ela costuma ficar na secretaria, onde já tem um cantinho. O impacto no ambiente escolar tem sido tão grande que até a frequência e pontualidade dos alunos melhoraram. “Eles estão querendo chegar mais cedo para passar um tempo com a Mel antes das aulas”, relatou Aline.

Jardel destacou que o envolvimento dos alunos do ensino médio com a cachorrinha também tem sido surpreendente. Segundo ele, especialmente os formandos, estão ansiosos para que Mel participe de todas as atividades com eles, incluindo a formatura. “Ela é a única ‘aluna’ que vai se formar todos os anos”, brincou o orientador.

Os profissionais relataram, ainda, que a educação Adventista busca aproximar os alunos da natureza, e a presença de Mel na escola é uma forma de promover essa conexão. Aline explicou que, ao trazer a natureza para dentro da escola, a instituição segue os princípios de respeito e harmonia com o ambiente criado por Deus. Jardel reiterou o posicionamento da gestora. “O cachorro faz essa reconexão da criança com Deus, com a natureza e com aquilo que é a nossa criação”, destacou.

A diretora também mencionou que a presença da cadelinha tem influenciado até na postura dos alunos com relação à limpeza da escola, já que, por questões de segurança, é necessário manter o ambiente sem lixo. “Nós temos notado uma diferença. Conversando com as zeladoras, elas já relataram isso, do cuidado que a maioria dos alunos estão tendo”, disse.

Assim, o projeto visa trabalhar o emocional dos alunos, com destaque para a disciplina, a empatia e o respeito pelo bem-estar do outro, incluindo o da Mel. “Ela veio como um apoio emocional, mas, na verdade, é muito mais amplo”, afirmou Aline.

Aos poucos, a mascote do colégio será integrada às atividades da instituição, atendendo turmas desde a educação infantil até o ensino médio

Futuro do projeto

Embora o projeto ainda esteja em fase inicial, Aline e Jardel vislumbram muitas outras formas de intervenção para o futuro. “O projeto inicial era um cão de suporte emocional, só que no dia a dia a gente está vendo inúmeras possibilidades”, disse Aline. A ideia é estabelecer uma rotina de interação mais estruturada à medida que a mascote for crescendo e se adaptando ao ambiente escolar. “Conforme ela for crescendo, que seja mais seguro para ela estar mais solta no colégio, vai circular mais tranquilamente”, completou a diretora.

“É um projeto de longo prazo, porque a tendência é que, quanto maior a convivência dos alunos com o cão, e maior a interação dela [Mel] com os alunos, mais importante ela será para eles”, emendou Jardel. Com isso, a intenção da equipe do Colégio Adventista de Campo Mourão é usar o cão para contribuir para o desenvolvimento emocional e social dos alunos, trazendo benefícios que vão além do apoio emocional inicialmente previsto, assim como ter a cachorrinha como membro, de fato, da família Adventista.