Deficiente visual, Márcio deseja ser radialista

Márcio é deficiente visual. Perdeu completamente a visão aos 25 anos. Uma catarata foi a responsável. Desde então, o sujeito extrovertido foi obrigado a se reinventar. Morando ao lado da mãe, Diná, e da irmã, Andréia, sai de casa quase todos os dias para vender torrones. E não anda muito. Fica próximo a sua casa, no sinaleiro do Paraná Família. É ali, onde arrecada uma grana e busca fazer amizades no dia a dia. Márcio leva uma vida normal, embora dentro da própria escuridão. 

Até 1994, Márcio Antônio Rodrigues, levava uma vida normal. Mas foi neste momento em que a visão começou a embaçar. Então, buscou um médico. Constatada catarata, fez a cirurgia. Mas não adiantou. Um ano depois, já havia perdido toda a visão. Restou ao jovem, adaptar-se ao mundo real. Mas agora, sem enxergar. E, até hoje, a missão não é fácil. 

Conta ele que, mesmo aposentado pelo governo, procura vender os torrones para colaborar em casa. “Além disso, não consigo ficar parado. Tenho que sair pra não enlouquecer”, diz ele. Márcio é um figurão. Mesmo com a deficiência, busca motivos para sorrir o tempo todo. Chega a ser satírico em alguns momentos. 

As vendas de torrone são um escape à sua vida. Afinal, ele gosta de conversar. Tanto é que pretende fazer curso para radialista e se embrenhar na carreira. Até nome ele tem: Márcio Rodrigues. Desde sempre, escuta rádio. Em Campo Mourão, se lembra de uma era de ouro, principalmente, na Colméia AM. Entre os anos de 1999 e 2003, ele se recorda até dos horários dos programas. “Eu acordava com o Anísio Moraes. Depois vinha o Ely Rodrigues. Mais adiante, o Professor Idê. Após o almoço, David Camargo. Foi um tempo muito bom”, disse. 

Márcio é bastante comunicativo. Mas, segundo a mãe, Diná, o filho chega a ser chato. “Ele não gosta de visitas. Pensa que a casa é só para ele”, diz ela. Diná também revela o imediatismo do filho. Não deixa nada para amanhã. “Esses dias eu disse que iria arrumar os fundos da casa. Pra que. No mesmo dia ele já havia levantado tudo o que lá havia. Ele é muito estabanado”, revelou. 

Aos 50 anos, o evangélico Márcio pretende concluir o segundo grau nos próximos dois. Ele cursa o Ceebja – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos. Uma modalidade de ensino que atende alunos jovens, adultos e idosos/trabalhadores que, devido à falta de oportunidade de concluir seus estudos na idade própria, passaram por momentos de exclusão e falta de oportunidades. 

Para isso, aprendeu o método braile. E, somente depois de concluir o segundo grau é que voltará os conhecimentos ao curso de radialista. Mas, em todos os momentos da conversa, citou “se eu ainda estiver por aqui”. É que ele está bastante preocupado com a pandemia. Mesmo tomando todos os cuidados, sair à rua ainda é um desafio. “Se Deus não me levar antes da hora e, se ele quiser, gostaria de trabalhar no rádio”.