Falta de armazéns ‘amarra’ colheita do trigo e preocupa produtores

A superprodução de milho safrinha, que vem lotando os armazéns de cooperativas na região de Campo Mourão, está prejudicando o andamento da colheita de trigo nas propriedades. Há relatos de máquinas paradas porque não há onde armazenar o grão. Com isso a produção fica no campo, trazendo riscos de perdas aos produtores.

Há relatos de produtores que estão com trigo no caminhão, aguardando o armazenamento por cooperativas. “Está um problema sério”, informou o produtor rural Gabriel Jort, de Campo Mourão. Segundo ele, a demora para recebimento de uma carga de milho em Campo Mourão é em média de 6 a 8 horas e de trigo, no máximo uma por dia.

“Atrasa muito a colheita. O perigoso do trigo é que quando chega ao ponto de colher não tem o que fazer. Tem que retirar do campo porque se pegar chuva perde a qualidade. E dependendo da quantidade de chuva o trigo bom passa para triguilho, gerando prejuízos enormes ao produtor”, observou.

Jort disse que há pelo menos 40 anos não via este cenário na demora de recebimento. “Este sufoco passávamos há 40 anos atrás. Até então era normal cinco a seis descargas nas cooperativas”, frisou.

Conforme Jort, como não há lugar de armazenagem a safra tem que ficar no tempo, correndo todos os riscos possíveis. “É colher até encher o caminhão, a bazuka e o graneleiro da colheitadeira. Depois disso, nada feito. Esta demora no recebimento e falta de espaço para armazenagem está geral no Paraná, não é só na nossa região não. Está acontecendo em cooperativa grande, média e pequena”, falou.

Para o produtor, falta políticas públicas do governo na área de armazenagem. Segundo ele, as propriedades, principalmente médias e grandes, deveriam ter seus próprios silos de armazenagem e secadores, mas falta apoio do governo. “Isso seria uma solução. Nos Estados Unidos, cada propriedade tem seu secador e silo”, informou

De acordo com o Departamento de Economia Rural, núcleo de Campo Mourão, vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), na região da Comcam, algumas unidades de cooperativas não estão nem recebendo o trigo, principalmente nos municípios com áreas menores. Nestes casos, o recebimento da produção de três a quatro municípios vem sendo direcionado a uma única unidade.

“Estes são os relatos que estamos recebendo de alguns produtores. Não estão destinando uma única moega para receber trigo. Porém, como a colheita do milho está sendo adiantada, acreditamos que nos próximos dias isso possa mudar”, comentou o técnico do Deral em Campo Mourão, Paulo Borges.

Na região da Comcam, foram semeados 114.000 hectares de trigo. A estimativa de produção é de 324.312 toneladas. A saca de 60 quilos está cotada em média R$ 56,00.