Faltam médicos. Sobram polêmicas. E Nadir e Áurea esperam

Nadir de Fátima Henrique acordou cedo ontem. Aos 56 anos, enquanto fazia algumas tarefas da casa passou mal. A pressão caiu e sentiu dores nas costas. Então buscou o posto de saúde do Lar Paraná, o conhecido 24 Horas. Lá, chegou por volta das 10 da manhã. Fez a triagem e se sentou, aguardando sua vez. Já eram 16 horas quando ela ligou à TRIBUNA, pedindo soluções a sua angústia. “Estou aqui já faz seis horas. Ninguém me atendeu ainda. Dizem que só tem uma médica. Até quando vamos pagar o pato?”, questionou.

Áurea Moraes dos Santos chegou ao posto por volta das 11h30. Aos 68, sentia tonturas. Não fosse o ombro do neto, certamente estaria deitada nas cadeiras. A exemplo de outras pessoas, ela também demorou a ser atendida. Já passava das 16h quando falou ao jornal. “Estamos sem almoço. E vemos gente passando na nossa frente. Isso aqui está muito desorganizado”, disse ela.

Além das duas, outras pessoas também passaram pelo mesmo constrangimento: a demora no atendimento. De acordo com informações levantadas, apenas uma médica atendia na unidade de saúde, o que levou à demora dos procedimentos. O secretário de Saúde de Campo Mourão, Sérgio Henrique dos Santos, disse que pelo menos dois médicos deveriam trabalhar, o que não aconteceu. Segundo ele, os profissionais fazem parte de uma empresa terceirizada, contratada pelo município. “A empresa já foi notificada. Não é a primeira vez que ela descumpre o contrato. Vale lembrar que este não é o único pronto atendimento da cidade. A UPA faz o mesmo serviço”, disse.

Sérgio também revelou que o contrato será rescindido e, consequentemente, aplicadas as penalidades pelo descumprimento. “Até que outra empresa seja contratada, infelizmente, temos algumas situações como essa, onde o tempo de espera acaba sendo maior”, disse.

No entanto, as empresas terceirizadas à saúde não são bem vistas aos olhos do Ministério Público. Em 2019 o MP entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o prefeito Tauillo Tezelli e o secretário Sérgio Henrique dos Santos. Nela, a promotoria alegou que a contratação é ilegal porque desrespeita a obrigatoriedade da realização de concurso público, ferindo a constituição federal. O processo está em fase de alegações finais. Depois disso, a sentença.

“Agora pode-se ver o impacto que estas contratações resultam. Até no atendimento, que é o mais importante. Quando o ato é ilegal acaba se tornando também ineficiente”, afirmou o promotor de Patrimônio Público, Marcos Porto Soares. Ainda ontem, a promotoria de Saúde também já estava investigando a demora no atendimento da população do 24 Horas.

A terceirização

Para o secretário da Saúde, o certo é fazer concurso público, sim. E eles aconteceram. No entanto, não houve interessados. “Alguns médicos passaram no concurso, mas não assumiram porque o salário é baixo”, disse. Segundo ele, hoje, um salário médico para 20 horas de trabalho é R$ 3,2 mil.

“Não podemos aumentar o salário. O índice de folha do município, desde o início da gestão, está estourado. Não conseguimos fazer nenhum reajuste salarial. Se reajustar o salário do concurso tem que reajustar de todos os aposentados também, tornando o impacto financeiro gigante. E também é uma questão da lei de responsabilidade fiscal. Quando o índice de folha está estourado não se pode dar aumento”, afirmou.

Segundo ele, o município está tranquilo em relação a ação movida pelo MP. “Não se tem o que fazer. Fizemos três concursos durante esta gestão. Não têm interessados porque o salário é baixo. Mas também não posso aumentar o salário. O que é que eu faço?”, questionou.