Luz e combustíveis. A conta não está fechando

As altas consecutivas da energia elétrica, gás e combustíveis estão destruindo o bolso da população. É fato. Não está fácil a ninguém. E mesmo tentando não repassar os custos aos clientes, empresários garantem que a situação já é, praticamente, irreversível. As consequências levam a um só caminho: inflação. Que acaba pesando no bolso de quem menos têm.

Proprietário de auto escola, Jeferson Johannes Roth sentiu bastante o peso dos combustíveis. “Subiu bastante e ainda não repassamos os custos aos nossos clientes. Não sei quanto tempo vamos aguentar sem repassar ao valor da habilitação”, disse. Na empresa, ele enche os tanques de quatro veículos, uma vez por semana. Ao final do mês são 960 litros de gasolina. Além deles, outras quatro motos – 100 litros ao mês -, e um ônibus, com 320 litros de diesel.

Com o aperto das contas, ele garante que as altas vêm diminuindo a margem de lucro e, a consequência, será elevar os preços, mais cedo ou mais tarde. “Água, luz e combustíveis estão fazendo ficar cada dia mais difícil de equilibrar as contas. A gente tenta fazer a nossa parte. Porém chega um momento que não conseguimos mais”, disse. Segundo Jeferson o país deve, serenamente, encontrar soluções para que os índices retomem o patamar de antes. “Acredito que este momento irá passar”.

Dados indicam que somente este ano, os preços dos combustíveis ao consumidor quase dobraram. De acordo com analistas o valor final tem uma fórmula: Petrobrás 32,9%, CIDE 11,6%, ICMS 27,9%, Etanol 15,9%, distribuição e revenda 11,7%. Somados, o resultado é uma bomba de quase R$7 no litro da gasolina. O que têm gerado apreensão de quem depende diretamente dos postos de combustíveis.

Motorista de aplicativo, Roberta Daiane de França está preocupada. Ela anda uma média de 650 quilômetros por semana e vê o lucro das corridas cada dia menor. Para ela, a única solução para evitar o abuso seria parar o carro. Mas como depende do serviço, o jeito é continuar insistindo. “Ainda acredito que os empresários do ramo têm um lucro mínimo. Já trabalhei em postos e vivenciei a situação”, revelou. De acordo com ela, o problema também não está, necessariamente, nos impostos. E sim na política. “Porque o Paraguai consegue manter os preços menores e o Brasil não?”, questiona.

Se os combustíveis estão como a um carro sem freios, a energia elétrica se transformou literalmente num choque ao bolso dos brasileiros. Numa média geral, a luz subiu 16% somente este ano, quase o triplo do índice geral – IPCA-15, com acúmulo de 5,81% em 2021. Somados os últimos 12 meses, a alta da energia é de 20,86%. Segundo o governo, as causas são explicadas pela escassez hídrica.

Empresário do segmento de gelo, Fernando Lopes diz que as altas de energia têm sido como a um balde de água gelada, ou melhor, de gelo. Há dois anos, tentando reduzir a conta, ele trocou as máquinas por equipamentos novos. E deu certo. Se antes pagava R$30 mil por mês, até pouco tempo, baixou para R$20 mil. Mas isso não adiantou. Com os reajustes consecutivos, a conta voltou a subir.

“Estou fazendo o que todo mundo faz. Apagando lâmpadas e tentando economizar ao máximo”, disse. Segundo ele, o próximo passo será investir em energia solar. Além da energia elétrica o empresário ainda luta contra as altas dos combustíveis. Com uma frota para transportar o produto a inúmeras cidades da região, os custos só aumentam. Enquanto o lucro, despenca. “Mesmo assim não podemos parar. Vamos em frente que a coisa vai melhorar”, garante o sempre otimista Fernando.

Em tempo, alguns que acabam pagando o preço pela inflação são pessoas como Bruno Sergio Rodrigues. Trabalhando como garçom, ele ainda mora com os pais. E por esta razão contribui em casa pagando as contas de luz e combustível do carro, um Scort ano 1991. De acordo com ele, no início do ano desembolsava cerca de R$ 200 por mês com a luz. Hoje, mesmo economizando, seja no tempo do banho, ou com a redução de lâmpadas, a conta está vindo R$ 300.

“Meu salário continua o mesmo. Mas as coisas estão subindo. As contas acabam não fechando antes mesmo do final do mês”, afirmou. Até meados de março, Bruno colocava R$30 de álcool por semana no carro. Agora, a “pancada” aumentou para R$ 100, isso fazendo o mesmo itinerário. “Será que essa realidade é o novo normal que todos falam?”, questiona.