Nova direção da Santa Casa já tem a desconfiança municipal

Bancária há 17 anos, Mariceli Bronoski mal assumiu a presidência da Santa Casa de Campo Mourão e já está tendo a desconfiança de autoridades municipais. “Quem está assumindo não tem as mínimas condições de fazer gestão hospitalar”, afirmou com todas as letras, o prefeito Tauillo Tezelli. De acordo com ele, a entidade não foi construída para ser usada politicamente, principalmente, por pessoas que não entendem de gestão, nem hospitalar, e nem empresarial.

Tezelli lembrou que, quando assumiu a prefeitura, o hospital se resumia a apenas uma pilha de tijolos. Com o tempo, passo a passo, o sonho acabou se consolidando através de rifas, doações e emendas parlamentares do então deputado federal Rubens Bueno. Além de uma contra partida de 20% do próprio município.

“Mais adiante, entregamos um hospital pronto para atender a região e que jamais foi utilizado politicamente por nós”, garantiu. Mas agora, segundo ele, a nova direção não agrada com suas ideias. “Eles chegaram com um discurso vazio, desejando fazer do hospital um atendimento 100% SUS. Mas isso não é possível, uma vez que parte dos recursos dali vem de convênios”, explicou. Segundo o prefeito, hoje, a Santa Casa recebe 92% de sua receita via SUS. E, apenas 8% de convênios. “Ainda assim, o hospital não se sustenta, tendo um déficit mensal de R$800 mil”, revelou.

Definitivamente, para Tezelli, ninguém da chapa vencedora mantém condições mínimas para conduzir o hospital. “Não tenho nada contra. Mas também, não tenho nenhuma referência deles em algum trabalho de gestão hospitalar. Realmente, aconteceu o que eu esperava. Entendo que abertura para novos sócios deveria ser limitada a secretários de Saúde da região, que são, quem utiliza e mantém o funcionamento da entidade”, disse. O prefeito também teme pela rescisão do convênio com o curso de medicina, o qual leva estudantes para vivenciar e, iniciar os primeiros contatos com a futura profissão.

Dados indicam que, se a Santa Casa fosse construída hoje, seriam necessários, no mínimo, R$120 milhões – 80% verbas federais. O ministério da Saúde recomenda que, para a sua manutenção, exige-se pelo menos 40% de recursos particulares e convênios. Hoje, a arrecadação da Santa Casa não ultrapassa 8%.

Mariceli
Eleita na última sexta feira, com 28 dos 35 votos, a chapa presidida por Mariceli Bronoski tomará posse na próxima quarta. Bancária e formada em Administração de Empresas, com especialização em Marketing e mestrado em Inovação Tecnológica, ela revelou à TRIBUNA que decidiu encarar o desafio por acreditar que o hospital é indispensável à população do município e região. “Por ver a necessidade das pessoas que precisam de um atendimento de Saúde. E também por acreditar na importância de uma gestão participativa com a comunidade e com seus diversos setores”, disse.

Mariceli explica que se sente capacitada à nova função, principalmente, porque tem conhecimento em gestão. “Não há problema que não tenha uma solução”, disse. Segundo ela, o conhecimento é algo que as pessoas devem sempre estar adquirindo. “Tenho muito a aprender, e também tem outros membros com conhecimentos a serem compartilhados”, explicou.

Deficit
Questionada como equilibrar as contas da Santa Casa, que hoje beiram um rombo de R$54 milhões, ela revelou não ter como responder sobre a questão, ainda. No seu ponto de vista, é preciso antes analisar as contas, principalmente, para saber exatamente quais são estes valores, e de onde se originaram. “Análises financeiras são realizadas em conformidade com números reais. Tudo o que eu falar diferente disso não estaria sendo realista”, explicou.

Mariceli também se defendeu de críticas quanto a sua falta de proximidade com a gestão de um hospital. “Os gestores anteriores também não eram da área da saúde. Mesmo assim realizaram a gestão. Ninguém conhece tudo sobre tudo. Por isso a importância de uma gestão participativa”.

Uso político
A nova presidente da Santa Casa afirmou não fazer parte de nenhum partido político. Que não é filiada e que nunca foi. “Eu, Mariceli, não tenho nenhum envolvimento político, e garanto que somente aceitei entrar no cargo porque não é esse o interesse. Com absoluta certeza, não sou e não serei candidata a nenhum cargo político. Costumo ser muito transparente, até demais. Sou bem briguenta, mas nada tem a ver com a questão política”, afirmou.

Atendimento particular e convênio
com curso de medicina
Mariceli destacou que as duas situações, em princípio, não terão nenhuma alteração, principalmente, porque existem contratos já firmados. Mas que precisam ser analisados. “Somente após isso poderemos falar sobre o assunto”.

A bancária é solteira e mora com a mãe. Coincidentemente, foi neste ano que começou a travar uma luta desleal contra um câncer de mama da genitora, na própria Santa Casa. “A acompanhei nas primeiras vezes e pude ver como existem pessoas que dependem do atendimento da Santa Casa”, explicou.