O inquieto Dr. Marcos Antônio Corpa

Diz o ditado que, um homem só se completa após ter um filho. Marcos teve três. Plantar uma árvore. Marcos plantou bem mais de cem. E, por fim, escrever um livro. Marcos lançou o seu nesta semana. Marcos Antônio Corpa, 72, autografou sua auto biografia, “Por Onde Andei”, no auditório da Acicam, na noite de ontem (17). Em mais de 300 páginas, ele narra a trajetória de tudo o que fez. Das cidades por onde andou. Da família. De amigos. E de suas paixões terrenas: futebol e fotografia. De uma forma geral, conta os passos de sua destemida saga. O menino que, um dia nasceu por trás dos montes de Caconde, Minas Gerais, agora é o conhecido Dr Marcos Corpa, de Campo Mourão.   

Marcos sempre teve, como diziam os pais, “fogo no rabo”. Completamente inquieto, se meteu em tudo. Desde criança descobriu o desejo em prosperar. E com as próprias pernas. Embora com aptidão aos negócios, não seguiu os caminhos do pai, comerciante. Decretou a vontade pela medicina. Com muito esforço, acabou se formando médico pela Universidade Federal do Paraná. A inquietude se mostrou bem cedo. Ele deixou as asas dos pais ainda aos 13. 

A chegada a Campo Mourão aconteceu em 1976. Foi quando alugou uma pequena sala para montar o Raio X. Não parou mais. Ele trazia à cidade tecnologia da época. Foi um visionário. E, pela visão, acabou conquistando todos os seus desejos. O principal foi a família. Casado com Dercy, teve três filhos, todos médicos. E são eles quem levam à frente a respeitada clínica Dr Marcos Corpa. De um certo modo, o sujeito já está aposentado. Trabalhou demais. Embora insista em por lá, aparecer. 

Na empoeirada Campo Mourão, “Marcão” – para os íntimos -, se intrometeu em tudo. Preocupado com a comunidade, desejou melhorar a educação. O resultado hoje, chama-se “Integrado”. Participou da Associação Comercial e Industrial (Acicam). Atuou em ações junto ao Rotary, colaborando para melhorar a vida de quem precisava. E, mesmo nunca sendo político, fez mais que muitos deles. É o tal “fogo no rabo”, que seus pais tanto falavam.  

Marcos é um cara de humor transparente. Jamais desperdiça a chance de uma boa piada. Tem uma risada única, daquelas de chamar atenção. Possivelmente, pelo prazer em viver, pela alegria dos dias e, pelas atitudes, é um abençoado. Conquistou tudo. Da família, aos amigos. E o respeito da própria comunidade. “Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é viajar. Mas, o melhor da viajem, é saber que voltarei para Campo Mourão. O melhor lugar do mundo. A terra em que chamo de minha”, disse.

Futebol

Doente por futebol, Marcos é um viciado no São Paulo Futebol Clube. É daqueles “doentes”, vidrados pelo time. Tem uma paixão difícil de se encontrar por aí. Tamanha sua obsessão, que foi e é, responsável por integrar centenas de crianças ao mesmo propósito. Principalmente, filhos de amigos, mesmo torcendo a outras equipes. 

Com o gosto apurado pelo futebol, “Marcão” fez do quintal da casa um campinho voltado às peladas. Então, sempre as quartas feiras, juntava um rol de jogadores para se divertirem. Era lá onde médicos, atendentes de supermercados, mecânicos, advogados, frentistas, balconistas, se reuniam para celebrar o esporte. Ele jamais discriminou uma única pessoa. No campo dos sonhos, todos eram iguais. Quem mandava era a bola. Ela sim censurava.  

Embora fascinado, Marcos sempre foi um jogador de banheira. Seu negócio era receber a bola e empurrá-la ao gol. A verdade é que, como centroavante, era um excelente médico. Mas ele não estava preocupado. A missão ali era apenas disseminar a alegria do futebol. Perdendo ou ganhando. E, com uma risada sua, a coisa ficava ainda melhor.      

Fotografia

O gosto pela fotografia aconteceu pelos anos 80. Através das inúmeras viagens que fazia, começou a clicar. Nunca mais parou. Antenado à tecnologia, sempre buscou novas lentes, máquinas dinâmicas. E, foi apenas com o tempo, quando descobriu que, o mais importante da arte, não era o equipamento, mas a peça por trás da câmera: ele mesmo.

“Sempre gostei de fazer fotos diferentes. Buscar ângulos novos”, disse. Não é exagero dizer que “Marcão” conhece o mundo inteiro. Por onde andou, clicou tudo. As fotos estão espalhadas pela cidade. Generoso, ele também presenteia amigos com os retratos. Hoje, com sua “aposentadoria”, as fotos ganharam mais tempo. Pelo menos, até a chegada da pandemia. Desde então, Marcos não saiu mais de casa. Coisas da vida.

Há aproximadamente 15 anos, Marcos recebeu uma visita inesperada: o Parkinson. Um “amigo” com quem tem convivido bem, até hoje. “É uma situação preocupante, mas que me leva a crescer e espiritualmente, ser mais engrandecido”, disse. Nem mesmo a doença, é capaz de pará-lo. Marcos continua ativo, em tudo. Mais uma vez, o tal “fogo no rabo”. 

O jovem Marcos Corpa é daqueles sujeitos diferenciados. Mesmo rico, sempre manteve a proximidade com gente simples. Dias desses, foi até uma venda rural, em Corumbataí do Sul. Banco de pau, imóvel todo em madeira, lampião na prateleira. Fez questão de tomar tubaína e comer paçoquinha. O dono não queria nem cobrar. “Como é que vou cobrar do doutor Marcos Corpa”, perguntou. “Marcão” não deu ouvidos e pagou bem mais que o valor. 

Intenso em tudo o que faz, Marcos tratou do seu livro por mais de um ano. Ao lado do escritor Jair Elias, travaram uma “guerra” em busca de tantas informações. Mas, ontem, finalmente, o seu quarto “filho” nasceu. Bastante emocionado, fez questão de entregar o primeiro exemplar ao neto. E acredite, o menino é palmeirense. “Ele só tem esse defeito. Mas continua sendo o amor da minha vida”, disse.