Preço da soja acentua desvalorização e acumula queda de mais de 60% em um ano

O preço da soja vem acentuando sua trajetória de queda neste mês. Para se ter ideia, somente do início de janeiro até agora, conforme dados analisados pela TRIBUNA com base nos boletins diários do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a commodity desvalorizou cerca de 18,62%. Se comparado ao mesmo período de 2023, a queda no preço é estrondosa: chega a 60,18%. A principal justificativa para a depreciação é a alta oferta do produto no mercado interno.

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De acordo com os números, no início de janeiro de 2024 a saca de 60 quilos da oleaginosa era cotada em média a R$ 121,00 na praça de Campo Mourão, contra os atuais R$ 102,00, uma desvalorização de R$ 19,00 em apenas um mês. Já em janeiro de 2023, a saca chegou a R$ 163,13, encerrando dezembro daquele ano cotada a R$ 127,62.

A queda no preço remonta ao menor patamar desde 2020. A desvalorização, aliada à estimativa de redução na safra de 2024 geram tensão no campo e reacendem a preocupação nos produtores rurais, que estão em plena época de colheita. “No fim da colheita, as contas não vão bater, mesmo se tiver uma produtividade muito boa”, preocupou-se o produtor rural de Campo Mourão, Vicente Mignoso.

Ele ressaltou que outro agravante é a potencial quebra de produção causada pelo clima irregular durante o ciclo da cultura. O estresse hídrico reduziu as previsões de colheita do grão. As perdas são decorrentes do efeito El Niño nas lavouras e já são concretas em algumas áreas colhidas na região. “Em alguns momentos tivemos excesso de chuva e pouco sol. Já em outros, seca e temperaturas muito elevadas”, lembrou, ao estimar uma quebra de produção entre 20% a 30% em sua propriedade.

Mignoso disse que o cenário vai além de preocupante. Em suas palavras, é ‘desesperador’. Como disse, “a conta não vai fechar de jeito nenhum. Este ano, tudo está contra nós”, falou, ao enfatizar que além dos altos custos de produção, há dívidas de investimento em maquinários para atualização da frota. “Acredito que será um ano em que muitos produtores vão quebrar”, temeu.

Diante do cenário, entidades do setor, como a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e o Ministério da Agricultura monitoram os riscos e já programam eventuais reações para o caso de a situação piorar, conforme preveem produtores.

Bolsa de Chicago

O preço da tonelada da soja na Bolsa de Chicago, cotação referencial da commodity, é o mais baixo para janeiro desde 2021. Os preços mais altos da história foram em 2022 e em 2023. A redução nas margens de lucro ameaça a capacidade de produtores e empresas do setor em honrarem suas dívidas. “Este ano, o produtor que honrar todas suas dívidas será ‘ninja’”, disse Mignoso.

Conforme o produtor, a desvalorização da soja vem se acentuando devido a especulações de mercado. Ou seja, como o produtor rural não fez contrato futuro de vendas, há bastante oferta no mercado interno. “O que é mais desesperador ainda é que não tem expectativa de melhora. Pelo contrário, a perspectiva é que piore. Este ano vai ficar para a história”, acrescentou.

Produção

Segundo a Aprosoja Brasil, a safra brasileira de soja não deve ultrapassar 135 milhões de toneladas, estimativa bem abaixo das divulgadas pela Conab, por exemplo. A entidade divulgou em 10 de janeiro deste ano, sua quarta projeção de safra, avaliada em 306,4 milhões de toneladas. Representa queda de 13,5 milhões de toneladas em relação a 2022/2023, quando foi de 319,9 milhões de toneladas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima 157 milhões de toneladas do grão.