Preço do café dispara e dói no bolso do consumidor; maior alta em quase 50 anos
Há algum tempo, o café tem se tornado quase um artigo de luxo nas prateleiras dos supermercados para grande parte dos consumidores devido ao aumento acentuado nos preços. Em Campo Mourão, a TRIBUNA pesquisou nas principais redes de supermercados que o quilo do produto (torrado e moído) está variando de R$ 78,17 a R$ 82,29.
Por este valor – R$ 82,29 -, é possível comprar, por exemplo, 1kg de filé mignon bovino ou até três quilos de acém com osso, uma das carnes mais consumidas. Para quem é proprietário de veículo, pode ainda abastecer até 20 litros de etanol – já que o combustível pode ser encontrado em Campo Mourão até R$ 3,93 o litro, ou então 14 litros de gasolina, considerando o menor valor, de R$ 5,75, conforme última pesquisa de preços do Procon divulgada na semana passada.
Já o pacote menor do produto, o de 500 gramas, em uma das redes, varia de R$ 20,50 a R$ 69,00 dependendo da marca, enquanto em outra, o valor é de R$ 26,80 a R$ 44,60. De acordo com o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, no varejo, o café teve uma valorização de 65% em um ano – janeiro de 2024 a janeiro de 2025, saltando de R$ 14,22 o pacote de 500 gramas no ano passado para R$ 23,46 em 2025.
No atacado, valor que a indústria vende aos supermercados, o aumento no mesmo período foi de 89%, passando de R$ 119,05 para R$ 225,29 cada 5 quilos (10 pacotes). Já o valor pago ao produtor aumentou em 152% com a saca de 60 quilos, saltando de R$ 866,51 para R$ 2.186,91. É a maior alta em quase 50 anos.
Já que para muitos o ‘cafezinho’ é sagrado no dia a dia, o jeito está sendo reorganizar, reduzindo o consumo e até mesmo variando com outras opções de bebidas como o chá-mate, por exemplo. É o caso da aposentada Maria Garcia, de 78 anos. Ela disse que pode até ficar sem carne, mas sem café nem pensar. “Só de pensar já dá dor de cabeça”, disse aos risos. “O problema é que o produto está muito caro nos supermercados. Até pouco tempo atrás, o pacote de 500 gramas não passava de R$ 15,00, hoje, por este valor, você só fica no cheiro. Em algumas promoções, ainda era possível comprar café tradicional por até 12 reais”, falou a aposentada.
Ela disse que costuma fazer café em casa pelo menos três vezes ao dia. Mas que, agora com a alta dos preços, o café da tarde vem sendo substituído por chás desde o final do ano passado. “Eu ‘entorto o nariz’, mas o bolso agradece”, disse aos risos.
Produção em queda pressiona mercado
A TRIBUNA entrevistou o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Carlos Hugo Godinho, que explicou as causas do aumento do produto. Segundo o agrônomo, a alta bastante acentuada ocorreu no varejo, atacado e preços recebidos pelo produtor. Mas foi mais acentuado ao cafeicultor.
A alta está sendo ocasionada principalmente por conta da produção frustrada em 2024. Godinho lembrou que o cenário já vinha com problemas na produção mundial, em especial no Vietnã, no começo do ano, e isso se somou ao problema na produção brasileira, que é o principal produtor mundial.
O engenheiro agrônomo afirmou que não foi diferente no Paraná. O estado esperava produzir mais de 700 mil sacas na safra 2024, mas alcançou 675 mil, uma produção 7% abaixo da esperada, enquanto no Brasil houve um recuo de 4%. A safra 2024 foi colhida até setembro, com pico em junho, e depois disso não houve mais oferta de café no mercado nacional.
Conforme Godinho, os preços tendem a se sustentar neste primeiro momento porque não há oferta do produto. A preocupação, segundo ele, é que a expectativa de uma nova safra com problemas pode aumentar ainda mais os preços. Ele alertou também que a indústria ainda precisa repassar parte dos aumentos acumulados no último ano, outro fator que também pode elevar mais os preços no curto prazo.
“Atualmente, temos um aumento bastante expressivo nos preços recebidos. Não parece que tem mais muito espaço para aumentar. Ou seja, os preços devem se manter assim até a safra 2025, que começa a ser colhida já em março, se intensificando em junho”, explicou.