Seca prejudica lavouras de verão na Comcam e gera apreensão no campo

Sem chuvas significativas desde o início de novembro, as lavouras de verão estão sofrendo com a seca na Comcam. As culturas de soja e milho, predominantes na região, estão entre as mais afetadas. Áreas com batata e feijão, também estão em situação crítica.

As precipitações até acontecem, porém de forma bastante irregular, as chamadas ‘chuvas de manga’. A situação vem causando apreensão no campo. Os produtores rurais estão bastante preocupados, ainda mais considerando que há previsão de intensificação do La Niña nos próximos meses. O fenômeno afeta o regime de chuvas na região Sul do Brasil.

Na Comcam, os produtores plantaram 690.610 mil hectares de soja nesta temporada (safra 2021/22). A estimativa inicial de produção era de 2.084.000 toneladas da oleaginosa, números que devem sofrer queda devido às condições climáticas não favoráveis. O preço da saca de 60 quilos do grão está cotado em média a R$ 160,00 para venda ao produtor.

Já a área com milho atingiu nesta safra 20.369 hectares, com uma produção estimada de 183.321 toneladas, que também deverá sofrer redução. O cereal está sendo comercializado em média a R$ 82,00 a saca de 60 quilos. Nesta quarta-feira (22), o Departamento de Economia Rural (Deral), publicará um boletim agropecuário detalhado sobre a situação das culturas.

O produtor rural, Armando Sambati, de Piquirivaí, tem áreas na região de Campo Mourão. Ele informou que a situação está bastante grave. O produtor plantou 300 alqueires de soja e 6 de milho. “Já começa um alerta de crise. Infelizmente a conversa hoje é o acionamento do seguro rural”, informou, ao comentar que um engenheiro agrônomo está fazendo o levantamento de perdas em suas propriedades. “Ainda não temos este número definido, mas todas as minhas áreas já foram afetadas. Umas mais e outras menos”, lamentou.

Sambati disse que parte da lavoura está na fase vegetativa ainda e outra começando a soltar vagens, fase mais crítica da planta. “Quanto mais velha a planta maior o dano. Já a soja plantada mais tarde tem mais chances de se recuperar caso a chuva venha logo”, frisou. Segundo ele, há cerca de 50 dias não chove regularmente em toda a região. “E as chuvas de ‘manga’ ainda são pouco volumosas e muito rápidas”, ressaltou.

As áreas mais afetadas do produtor estão localizadas às margens da Estrada Boiadeira de Campo Mourão. “Já entre Campo Mourão e Luiziana, onde a terra é roxa e houve duas chuvas em novembro, a situação está menos grave”, frisou, ao acrescentar que o milho também está sofrendo bastante. “Já sabíamos que seria um período seco, mas não esperávamos tanto assim”, acrescentou.

Na propriedade do produtor Gabriel Jort, em Campo Mourão, o clima é de apreensão também. Ele plantou 70 alqueires de soja e 14 de milho. Suas culturas estão menos afetadas porque segundo Jort, há cerca de 24 dias, receberam uma chuva de 10 milímetros. “Ainda foi muito pouca água. Atualmente a planta amanhece ‘animada’ e por volta das 10 horas já começa a enrolar a folha”, falou. Além da falta de água, as altas temperaturas é outro fator que vem prejudicando as culturas. “Teve dias de registrar até 36ºC graus na sombra”, informou o produtor.

Ele disse que no ano passado, os produtores sofreram evento parecido, porém ‘bem menos graves’. “A nossa expectativa é que chova nos próximos dias. Se passar mais uma semana de seca e com estas altas temperaturas, aí a situação fica extremamente grave”, preocupou-se. Em sua propriedade o milho iniciou a fase de frutificação, estágio mais crítico. Já a soja, está de ‘canivete’, ou seja, iniciou a formação das vagens. “Vamos dormir e acordamos olhando para o céu esperando a chuva”, falou.

O encarregado do Departamento Técnico da Coamo, em Campo Mourão, engenheiro agrônomo André Fernandes de Lima, informou que a estiagem está impactando as culturas de verão de forma generalizada na área de atuação da cooperativa. “Está muito grave a situação. Produtores já estão perdendo muita soja por causa da estiagem. Ainda não temos números detalhados, mas é um volume grande de perda”, lamentou.

De acordo com o agrônomo, a maior parte da cultura da soja está na fase de formação de vagens, um dos estágios mais críticos. “Estamos evitando falar de porcentagem de perdas por enquanto porque está variando muito de uma região para outra. As áreas semeadas por último (mais tarde) são as que estão em situação menos graves”, comentou.

Lima frisou que o milho também está na mesma situação da soja. Ou seja, sofrendo com a falta de água. “Em boa parte da nossa área de atuação não choveu nada desde o início de dezembro, enquanto em outras temos volumes registrados de até 30 milímetros, o que também é pouco. O mês de novembro muito seco também foi outro fator que contribuiu para o atual cenário”, explicou.

Alerta antecipado

Em recente entrevista à TRIBUNA, o presidente do Conselho de Administração, da Coamo, maior cooperativa agrícola da América Latina, José Aroldo Gallassini, já havia alertado com antecipação para a preocupação do setor com relação a atuação do La Niña durante a safra de verão do Brasil.

O fenômeno consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Equatorial, gerando uma série de mudanças significativas nos padrões climáticos. Para o Paraná, essa situação se reflete em um alto risco de chuvas em quantidade inferior ao esperado e mal distribuídas ao longo da estação, intercaladas com longos períodos de estiagem, podendo afetar a produção agrícola. Na Comcam, a baixa precipitação já vem ocorrendo desde o inverno, marcado também por geadas de forte intensidade, causando perdas significativas na produção do trigo e milho safrinha.

Para se ter ideia, de acordo com Gallassini, na área de atuação da Coamo, a perda com o milho safrinha foi de cerca de 70%. A cooperativa tinha estimativas de receber entre 35 milhões a 45 milhões de sacas, mas recebeu apenas 28 milhões. Por outro lado, as intercorrências climáticas elevaram os preços das commodities. “O La Niña realmente preocupa o setor, podendo causar perdas significativas na safra de verão”, alertou na ocasião.