Um dos últimos cenários da história de Campo Mourão, Bosque das Copaíbas sofre poda ‘drástica’
Esta semana a área central de Campo Mourão ficou menos verde. Isso porque o Bosque das Copaíbas, localizado dentro do Colégio Vicentino Santa Cruz, recebeu uma poda severa. Ou seja, cortaram mais do que se poderia. A ação, passível de multa, também atenta contra a própria história da cidade. Segundo levantamentos, o município foi formado a partir das mesmas árvores. As mesmas que, em 1948, deram sombra ao almoço do então governador Moysés Lupion e do comício do ex-presidente Jânio Quadros, em 1960.
Diretora do Colégio, a irmã Dirce explicou que o município autorizou a poda. Ela foi pedida porque os galhos das árvores estavam “trincados” e adentrando a área onde crianças brincam. “Devido aos pombos e outros pássaros, havia muita sujeira. Pensamos na saúde e também na segurança dos alunos”, explicou ela.

Dirce também observou que somente os galhos externos foram cortados. “Eles nos pediram para fazer uma poda que não fosse drástica. De modo algum fizemos algo proposital, indo contra a legislação. O que fizemos foi apenas para atender às nossas necessidades”, explicou ela.
A diretora lembrou que a instituição zela e ensina as boas práticas com o meio ambiente. Reflexo disso foi um plantio de 75 mudas com os alunos somente este ano. De acordo com ela, a direção começou a estudar a possibilidade de retirar o parquinho do local.
Secretário de Meio Ambiente de Campo Mourão, Franco Freire Sanches, observou que o Colégio recebeu autorização municipal para a poda de limpeza e a consequente manutenção do bosque. No entanto, após o trabalho, notou-se três podas “drásticas”, passíveis de multa. “Isso não poderia ter sido feito”, disse ele.
Segundo o secretário, o município pretende convocar a instituição para tentar a realocação do parquinho. Uma vez isso acordado, as árvores passariam a ficar isoladas, mantendo o bosque completamente preservado, mais uma vez.
Mantido desde a fundação da cidade, o Bosque de Copaíbas sempre se manteve imponente, mesmo com o crescimento do município. Até 1960, ele pertencia à Praça Getúlio Vargas. Mas foi “permutado” com o Colégio, com a promessa de preservação. Segundo consta, foi sob ele a inauguração da energia elétrica de Campo Mourão, em 1950.
Local onde famílias se reuniam até a década de 60, após passar aos cuidados do Santa Cruz, um decreto assinado em 1985 o declarou como um espaço de preservação permanente. Anos depois, em 2005, o município tentou tombá-lo como patrimônio histórico. Mas a ideia não deu certo. Principalmente, devido à existência do parquinho.
Secretário de Cultura de Campo Mourão, Roberto Cardoso lembra que a formação da cidade começou ali. “Ele é o marco zero. É o cordão umbilical da cidade. Mesmo dentro de uma instituição privada de muita importância, temos que ter cuidado com a preservação do patrimônio histórico, cultural e natural do município”, disse.
Desde a fundação da cidade, além do Bosque das Copaíbas, restaram apenas o prédio do Museu Municipal, a Estação do aeroporto e algumas casas de madeira. Nada mais. A instituição pode receber multas que chegam a R$1,3 mil.

Bosque das Copaíbas
O Bosque das Copaíbas é composto por árvores da espécie Copaifera langsdorffii, localizadas na quadra 31 da planta geral do município. O espaço foi um importante ponto de referência para atividades de lazer dos moradores nas décadas de 1940 e 1950, sendo utilizado especialmente aos domingos para encontros familiares e como área de preparação dos animais para as corridas na antiga “raia dos porongos”.
A raia era uma pista de corridas – com aproximadamente 500 metros de extensão – onde se realizavam provas a cavalo e a pé, frequentemente com prêmios simbólicos, como maços de rapadura. Ela era formada por dois trilhos paralelos, retos e limpos, separados por cerca de um metro, e seguia o padrão comum das raias de corridas equestres em zonas rurais do sul do Brasil.
A cabeceira da raia estava situada onde atualmente encontra-se a Catedral São José, e, nos primeiros 150 metros do percurso, ao lado da pista, havia um capão de árvores frondosas, com predominância de copaíbas, onde os animais eram preparados para as disputas. O local também era frequentado por “feiticeiros” e tratadores populares, conhecidos por práticas baseadas em crenças da época, como a aplicação de graxa de onça na traseira dos cavalos para aumentar seu desempenho nas corridas.
Além do uso para entretenimento popular, o espaço passou a sediar eventos políticos a partir de 1947, por ocasião da emancipação de Campo Mourão do município de Pitanga.

Destaca-se, entre elas, o almoço em homenagem ao governador Moysés Lupion em sua primeira visita, em 16 de setembro de 1948. Além da inauguração da luz elétrica, em 17 de agosto de 1950. E o comício de apoio à candidatura de Jânio Quadros, em 1960.
Por ocasião da construção do Colégio Santa Cruz nas imediações do bosque, o local passou a ser protegido pela cláusula obrigacional na escritura de permuta que havia entre o município de Campo Mourão e a Mitra Diocesana.
Em 1970, o local passou a ser denominado “Praça Ângelo Amaral”, em homenagem ao pai do prefeito Horácio Amaral, pioneiro e comerciante na cidade. Em 15 de setembro de 1987, pelo decreto 149, o prefeito José Porchapski declarou imune de corte as árvores que compõem o bosque.
Desde então, as árvores remanescentes da área original vêm sendo protegidas pela direção do Colégio Vicentino Santa Cruz, cujo zelo permitiu a preservação desse importante marco na nossa história.
Por iniciativa dos vereadores José Turozi e Idevalci Ferreira Maia, em 2004, o local passou a ter o nome de “Bosque das Copaíbas”, por meio da lei n.º 1.904, de 30 de dezembro de 2004.