Pressa de ter. Sem pressa de ser

“E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase.
‘Foi meu amigo, acredito em mim e me quis mais perto de Deus’!
Aí então derrame uma lágrima”.
Vinícius de Moraes

Até olhe no relógio, mas esqueça as horas.
Não tenha pressa se o tempo não for seu. Apenas quando o tiver, esteja pronto.
Tenha pressa para olhar, para enxergar, sim.
Apresse em principiar a prece, não para terminá-la.
Saiba esperar quando a pressa ignorar.
Não se preocupe, ao escrever, com a linha de baixo, quando estiver na acima.
Não tenha pressa com alguma ideia, ela pode lhe escapar.
Não corra atrás do pensamento, só se aprese quando for o que pensa.
Todas as palavras podem ser pronunciadas apressadamente.
Não tenha pressa em entender cada palavra e reuni-las com vagar.
A tartaruga não tem pressa alguma. Ela vive, 100, 200 anos ou mais.
Sem pressa para conhecer todo o rio. Pressa para mergulhar no curso dele.
Pressa para banhar-se, molhar todo o corpo. E calmamente enxugá-lo.
Ter pressa para se arrepender. E rapidez para pedir perdão.
Pressa para indagar, se tiver dúvida. Sem pressa para a resposta.
Não cabe ir para o final do livro, pois é preciso não ter pressa desde o começo.
O tempo leva tempo, sem pressa. E leva a cada um apressadamente.
Tudo passa e passará. De pressa, ou não, quem dirá?
A calma é uma pressa do tempo a advertir a pressão para não apressar.
Nada de pressa para preencher o vazio. E naturalmente esvazar a pressa.
A calma e pressa são espíritos invertidos da vida, sem ordem.
Tenha calma para com o primeiro passo, se apresse em não parar de caminhar.
Corra com pressa. Mas gaste o fôlego vagarosamente.
A pressa é a imprecisão de tudo. Não ter pressa é o nada que não é preciso.
Dê todo o tempo apressadamente para os fatos. E calmaria para vivê-los.
A lentidão é o que podemos ter. Transformá-lo rapidamente poderemos.
Se o fim estiver no começo, não tenha pressa.
Se o começo estiver no fim, tenha pressa.
Não se apresse em tirar, se apresse em colocar.
Não tenha pressa em conhecer segredos. Se apresse em guardá-los.
A ansiedade é por si só pressa. Não se aprese em tê-la.
Não se apresse em ter medo da vida. E menos ainda da morte.
Se apresse para colocar a semente no solo. Espere calmamente ela germinar.
Que se aceite a pressa em preparar alimentos, para saboreá-los lentamente.
Tenha pressa em olhar para todos os lados. E calmamente para dentro de si.
Pressa a fixar o rumo, horizonte. Caminhar pausadamente na direção escolhida.
Não tenha pressa em entender o mundo. Mas possua para entender o derredor.
Nada de pressa para conhecer alguém. Conhecendo-a, apresse em cativá-lo.
Tenha pressa em ter ou iniciar um amor. Seja devagar em amar, intensamente.
Não se afobe ao rememorar, mas tenha todo o tempo para as lembranças.
De um dia para noite, pressa. Da noite para o dia, sem pressa.
Agora, eu tive pressa para escrever, o tempo cronológico implacável.
Entretanto, sem inspiração, sem tema, foi obrigado a divagar, de vagar.
Sem pressa a entender e a saber. Pressa sim para entender o que se sabe.
A vagar pelas páginas ágrafas de um branco de susto, a buscar palavras.
Pressa para encontrá-las, redigir. Devagar para produzir um texto.
Pressa para alguém ler? Devagar para eu mesmo entender o que quis dizer?
Devagar com o público, os poucos leitores.
Eles terão pressa para rapidamente não ler nada.
Vagarosamente mastigo as palavras, a espera que o leitor não engula.
Tenho pressa de um tempo que há muito passou tão rapidamente.
Não tenho pressa do tempo que me resta.
A minha pressa é que não seja só a réstia do sol, em meio a penumbra do fim.

Fases de Fazer Frases (I)
O certo numa hora incerta é erro.

Fases de Fazer Frases (II)
O incerto numa hora certa é acerto.

Fases de Fazer Frases (III)
O previdente do passado é um fracassado do futuro.

Fases de Fazer Frases (IV)
Todas as palavras estão a disposição. Basta dispô-las.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Árvores em Campo Mourão no meio urbano, tem destino: o corte!
Sem generalizar, o mourãoense gosta de sombra. Mas não gosta de árvores.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Falta pouco – quem sabe até seja nos fatos mas não na notícia – para alcançarmos com tamanha estridência fúnebre – a violência perpetrada contra as mulheres em Campo Mourão e nas demais cidades circunvizinhas. Um dia uma notícia sim, de mortes ou ferimentos graves de mulheres – homens na maioria fugindo – gerando uma indignação crescente e ininterrupta.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
Os sons do passado vão ficando mudo quanto mais o tempo perpassar. Não ficamos mudos. Muda é nossa recordação.

Reminiscências em Preto e Branco (II)
Quem é capaz de interferir no presente, é quem será de interferir no passado.

José Eugênio Maciel | [email protected]