Volta e revolva às aulas

A tendência democrática da escola não pode consistir apenas em que um operário

manual se torne qualificado, mas em cada cidadão possa se tornar governante

Antônio Gramsci

Os professores e demais trabalhadores da educação paranaense pública não tiveram escolha, a greve constitui a maneira mais clara e legítima para se contrapor ao projeto de lei encaminhado pelo governo (retirado devido a pressão social) e que, entre outras medidas escorchantes, resultaria na violação a direitos trabalhistas dos servidores públicos, cabendo salientar, irrenunciáveis.

Sem prévia explicação, aliás injustificável, o governo não honrou um compromisso fundamental, pagar salários para quem já trabalhou, situação dos professores contratados temporariamente. Além de não pagar e dar satisfações, sequer sinalizou quando e como cumpriria com essa obrigação, assim como não depositou o pagamento do 1/3 de férias.

O projeto de lei encaminhado para a Assembleia Legislativa era para ser aprovado a toque de caixa, sem debate, tudo às pressas. Naquele momento a mobilização do professorado e funcionários das escolas crescia em volume e argumentação, o ímpeto e a coesão foram fatores que impulsionaram a invasão do plenário, chamada Casa do Povo, do povo mesmo, e não dos deputados acostumados (em sua maioria) a se assenhorarem do que é público como se fosse deles. Poderiam os deputados assumir publicamente a posição do tipo a favor ou contra, desde que assegurarem o diálogo. Entretanto, o despreparo e subserviência afastaram a chance da capacidade mínima pelo diálogo, de receber os manifestantes.

Lamentavelmente, não existe uma postulação de elevar ganhos ou até algum dito privilégio. Ao contrário, o embate é para não deixar ruir e estiolar conquistas alcançadas com muita luta. A dignidade de todo o trabalhador não possibilita ganhos estritamente profissionais, é sim o desenvolvimento da sociedade, a qual não pode aspirar nada de positivo se a escola não desempenhar papel essencial da transmissão do saber e a formulação dos novos conhecimentos.

Além tentar violar direitos trabalhistas, o que não está claro é o que o governo estadual denominou de austeridade. O que ele já fez para equilibrar as finanças públicas? Chamado de ajuste, age como o governo federal, elevando impostos, taxas, tributos para cobrir rombos. O professor e todos os demais servidores públicos – excluídos evidentemente os altos escalões – já vivenciam sacrifícios, obrigados a dar um jeito de pagar tantos e tantos encargos.

Até o envio desta Coluna para o fechamento da edição (texto remetido, sexta ao final do dia), uma nova reunião estava em curso e o que ficar acordado será levado para a assembleia prevista para o sábado. O que é possível antecipar: o desejo do retorno às aulas, desde que asseguradas as revindicações que incluem ainda não fechar turmas com superlotação delas, pois a qualidade da educação não se dá pela quantidade e não pode ocorrer inviabilizando ou dificultando o acesso e a permanência dos nossos estudantes. Tudo o que acontece agora, faz lembrar o inglês  poeta Joséph Addson: Ser professor sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá  onde a sua influência termina.            

Fases de Fazer Frases

O silêncio dos covardes ou dos inocentes faz ecoar o ruido daqueles que fazem a história.

Olhos, Vistos do Cotidiano

O Tribunal de Contas do Paraná, localizado no Centro Cívico onde está o acampamento dos grevistas, evidencia a falta de vergonha, ao conceder para si mesmo o auxílio-moradia no valor de 4.377,74 reais aos conselheiros. Os professores e funcionários foram para frente do prédio protestar. Em caso de invasão, logo serão tachados de baderneiros. Tal auxílio é maior do que recebe a maioria absoluta dos trabalhadores das escolas. 

Reminiscências em Preto e Branco

A origem da palavra greve é francesa, grève: terreno plano de cascalho ou areia, geralmente localizado à margem do mar ou rio. Historicamente existia uma praça em Paris denominada Place de Grève (Praça de Greve). Lá os trabalhadores se reuniam para debater sobre as condições salariais e de trabalho. Os encontros levavam também a deflagração da greve, cujo conceito é a cessação coletiva e voluntária do trabalho. Portanto, ir para a greve tinha o sentido literal, o encontro na praça de cascalho e que ganhou o sentido hoje de ir como paralisar.