Estórias nada edificantes

Uma estorinha de meu livro Paraná Político – História e Folclore (por sinal que com mais uma edição ampliada sendo preparada), lembra um  fato que político matreiro citava ao acender uma vela para Deus e outra para o diabo: Meu filho, falava ele para o eleitor que o criticava pela suposta incoerência.Voto do padre (também de pastor das ‘igrejas eletrônicas’ – a deliciosa expressão é do meu amigo, festejado jornalista Aroldo Murá) e da prostituta valem a mesma coisa. Nunca se viu numa eleição, não apenas em Curitiba, mais até em São Paulo e Rio,  tanto apelo para todo tipo de apoio, especialmente dos componentes da assim chamada bancada evangélica. A igreja católica, talvez pela frustrada experiência de participação na formação de um partido surgido há 29 anos através suas Comunidades Eclesiais de Base em parceria com sindicatos e intelectuais, como puro, até chegar ao decepcionante mensalão, anda meio de fora. Um texto do citado Aroldo Murá, imperdível para entender o quanto as religiões estão envolvidas na política brasileira, a ponto de partidos serem condomínio de denominações evangélicas, caminho fácil para obtenção de concessões de canais de rádios e tevês, daí o título sugerido pelo jornalista – ‘igrejas eletrônicas’. Visão de seus líderes que, mais do que os católicos que durante muito tempo dominaram o cenário eletrônico brasileiro – em 1958, das 49 rádios do Paraná, 32 eram católicas, entenderam que manipular a opinião pública é o meio mais rápido de crescer. Num  país em que a visão serve para ver TV, não para ler e os ouvidos a maneira mais prática de se informar: para o bem ou para o mal.

Tese válida

Veterano nas lides político-jornalísticas, a tese levantada pelo colunista vem de encontro ao assunto mais polêmico hoje em andamento na Assembleia: a aposentadoria de parlamentares. Não aquela anterior em que com 4 anos de mandato o deputado, derrotado nas urnas,  se habilitava a receber aposentadoria proporcional. Ao direito de com sucessivas reeleições –20, 25 anos de mandato –  impedido de voltar à profissão inicial por desatualizado, ter  uma aposentadoria.

Argumento reforçante

Cada caso é um caso, como o contado aqui dia desses, do ex-deputado Emílio Carazzai, prestigiado médico que reconduzido à Casa por reeleiçõess seguidas, já não teria, 26 anos depois, como voltar a exercer a medicina em sua Cornélio Procópio. A sua aposentadoria, que deveria ser prevista quando em seu primeiro mandato, com descontos equivalentes ao de qualquer outro funcionário, natural.

Revisão geral

Igualmente as aposentadorias de governador precisam ser revistas. Evita-se assim discussões como as que envolveram recentemente vários ex-governadores, com apenas Álvaro Dias cumprindo  o mandato integralmente, obrigado a permanecer no cargo para garantir a eleição de Roberto Requião (1970). Os demais, saindo antes para disputar o Senado e garantindo ao vice, aposentadoria por 9 meses de mandato. Alguns ainda beneficiários por entendimento legal, a ser revisto.

Para pensar

Uma tese a ser pensada com seriedade neste país em que a política chegou a tal nível de descrédito que o eleitor só comparece às urnas por obrigatoriedade. Eleições de 5 em 5 anos. De vereador a Presidente da República. Com todos os 30 partidos sendo obrigados a lançar candidato a prefeito, governador e Presidente. Usando seu grande ou pequeno espaço de comunicação (gratuita (?)). Sem direito a vender seus segundos ou minutos. Hoje um grande negócio!

Em choque

A tese defendida acima, reduziria em apenas uma eleição o número de partidos a no máximo 5. Sem espaço no rádio e na TV (15 segundos numa eleição majoritária rememoraria o famoso meu nome é Enéas), o balcão de negócios em que partidos se transformaram, não ofereceria interesse.