Desenvolvimento para ser sustentável tem que ser endógeno

Não deixe que ninguém defina sua vida, defina-a você mesmo. Harvey Firestone, empresário.

Sempre ouvimos dizer que o brasileiro é um povo que espera um salvador da pátria, principalmente em tempo de crise e próximo das eleições. Uma característica cultural de esperar no próximo uma solução para seus problemas.

Há que se considerar, no entanto que, se queremos pensar em desenvolvimento sustentável e crescente no longo prazo, esse paradigma precisa a ser quebrado.

Desde o final dos anos 80 discutem-se questões relacionadas ao desenvolvimento regional endógeno.

Antonio Vázquez Barquero, Catedrático de Economia e Professor Emérito da Universidade Autonoma de Madrid, diz que o desenvolvimento endógeno ocorre quando a comunidade local é capaz de utilizar o potencial de desenvolvimento e liderar o processo de mudança. Requer, ainda segundo o autor, a existência de um sistema produtivo capaz de gerar rendimentos crescentes, mediante o uso de recursos disponíveis e a introdução de inovações, garantindo criação de riqueza e melhoria do bem estar.

Ou seja: a premissa é que cada território gerencie internamente o capital social – as relações, e capital humano – a capacidade das pessoas, para fazer com que a política de desenvolvimento local supere os desequilíbrios.

Quando falamos em desenvolvimento a partir de empresas locais, estamos buscando tirar proveito do potencial de desenvolvimento existente no território. O desenvolvimento da região está relacionado aos fatores sociais, ambientais e culturais do local. Infelizmente no Brasil temos um modelo de gestão pública onde os recursos são centralizados no Governo Federal, que, através de políticas macro, oferece projetos ou proposições aos Estados e Municípios, muitas vezes não considerando aspectos e necessidades locais. Não é raro vermos projetos de municípios buscando recursos para coisas não essenciais ou não urgentes, apenas porque a oportunidade de captação se dá naquela área e não na verdadeira necessidade local.

Em várias regiões do mundo, entretanto, ao invés de dar subsídios indiscriminados para indústrias ou empresas, os governos estão reconhecendo que a melhor política regional é a de criar um ambiente mais favorável nas regiões, para que estas possam enfrentar os desafios da competição e dos avanços tecnológicos.

Desta forma, há urgente necessidade da organização dos atores, bem como de decidir qual a dificuldade que primeiro deve ser enfrentada. Com a organização do sistema local, cria-se um ambiente favorável à geração de economia de escala e à redução dos custos de transação, assim como ao crescimento econômico.

Poder público, empresas, instituições de ensino e representativas, devem partilhar de objetivos comuns com foco em sua característica locacional e a partir daí buscar fontes de superação e realização destes objetivos. A população em geral deve partilhar desse movimento, e entender que é somente a partir de seu desenvolvimento próprio e de sua participação terá avanços. Isso exige o desenvolvimento de instituições que sejam democráticas, modernas, representativas, transparentes e competentes e que possibilitem o planejamento com participação da população. Não que isso signifique criar uma região isolada ou fechada. Ao contrário, o desenvolvimento endógeno deve ser entendido como um processo de transformação, fortalecimento e qualificação das estruturas regionais.

A resposta dos atores locais aos desafios colocados pelo aumento da competitividade é o que desencadeia os processos de seu desenvolvimento, e não o Salvador da Pátria.

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Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão | [email protected]