Presença de mulheres na engenharia cresce de forma tímida

A participação feminina nos cursos de engenharia e no mercado de trabalho da área cresce, mas ainda é inferior à masculina. De acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), dos mais de um milhão de engenheiros cadastrados em seus sistemas até o final de 2021, cerca de 19% são mulheres. Já conforme o último Censo da Educação Superior do Ministério da Educação, de 2018, o público feminino é maioria na sala de aula de algumas áreas da engenharia.

As engenharias fazem parte do grupo das Ciências Exatas e todas elas envolvem matemática pura, geometria e equações, com conceitos como limites, derivadas, integrais trigonométricas e reta tangente, por exemplo. Mas para além da profissão, entidades e sociedade civil têm mobilizado para pensar a engenharia como aliada da diversidade e da inclusão.

A ideia é buscar o equilíbrio de gênero na educação e na profissão das próximas gerações. No geral, ambas as instâncias apresentam melhorias em termos de equidade de gênero nos últimos anos, mas ainda oscilam entre avanços e retrocessos e estão distantes do ideal.

Conforme relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) de 2021, para que o mundo atinja paridade de gênero serão necessários 136 anos. Estimativa maior do que a anterior, que previa menos de 100 anos. A paridade foi mensurada a partir de participação econômica e de fatores como oportunidade, educação, saúde e capacitação política.

A presença das mulheres na engenharia

Em 2019, o Confea implementou o Programa da Mulher como parte do processo de consolidação da política de “Equidade de Gênero do Sistema Confea/Crea e Mútua”. O intuito é alcançar o “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS nº 05 da ONU”. Além disso, a ideia é elaborar políticas de interesse das mulheres e ações de valorização da participação feminina nas diversas entidades de classe e Creas.

Uma das iniciativas foi o “Mapeamento Feminino dentro do Sistema Confea/Crea” realizado entre 2020 e 2021. Segundo o levantamento, até dezembro do ano passado, o Sistema Confea/Crea contava com 1.031.356 profissionais registrados. Desse total, 198.852 são mulheres e 832.504 são homens, o que representa uma porcentagem, nessa ordem, de 19,28% e 80,72%.

Em termos de formação, o Censo da Educação Superior mostra que as mulheres são maioria nos cursos de engenharias de Alimentos, Bioprocessos e Tecnologia, Têxtil, Química e Recursos Hídricos e de Meio Ambiente. Por sua vez, embora também haja crescimento contínuo no número de mulheres, as engenharias Civil, Mecânica e Elétrica contam com maior participação masculina.

Inclusão no ensino de engenharia e tecnologia

Uma pesquisa publicada na Revista Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 2021 e realizada por duas professoras doutoras da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho analisou a “Perspectiva inclusiva no contexto do ensino de engenharia e tecnologia”.

Os anais do Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge) dos últimos cinco anos compõem o objeto do estudo feito por Eliana Marques Zanata e Silvia Regina Vieira da Silva. O evento em questão está relacionado à Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge) e ocorre anualmente desde 1973, com o objetivo de promover melhorias no ensino da graduação e pós-graduação em engenharia e tecnologia no país.

Enquanto o tema da diversidade é alvo frequente de pesquisas na área de Ciências Humanas, o intuito do estudo foi “verificar quais as possíveis discussões sobre inclusão existem na área da Engenharia, considerada, por alguns, como ‘ciência dura’”.

Os resultados mostram que a preocupação com a temática também está presente na área de Ciências Exatas, no que diz respeito ao ensino. Segundo a pesquisa, esse processo é abordado por essa área com destaque para a inclusão de mulheres, de minorias e de pessoas com deficiência.

Sendo assim, as descobertas indicam que a preocupação dos trabalhos analisados não atendem somente a um público-alvo, mas sim a uma noção abrangente do termo inclusão. Por outro lado, os resultados concluem que a presença de indivíduos com necessidades especiais, pessoas cotistas e a incidência de mulheres “ainda se faz de forma bastante tímida e diminuta frente às possibilidades”.

Liderança feminina

Após 124 anos da fundação, a Escola Politécnica da USP elegeu sua primeira diretora mulher. Engenheira civil, doutora, livre-docente e professora titular na área de Engenharia de Transportes, Liedi Légi Bariani Bernucci assumiu a cargo para o quadriênio 2018-2022.

Em entrevista à revista Brasil Engenharia, Liedi comparou a participação feminina ao longo nos anos nas salas de aula da Politécnica. A professora enfatiza que, apesar de há 40 anos as mulheres representarem 4% do corpo discente, hoje a situação não avançou como o desejado, sendo a presença feminina de 20%. Ela defende a promoção de campanhas de inclusão para que o percentual possa aumentar.

A publicação menciona, ainda, as universidades norte-americanas de Engenharia como inspiração, pois alcançaram maior equilíbrio entre gêneros. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) por exemplo, conta com 40% de mulheres, e a Engenharia na Universidade de Cornell com cerca de 50%.

Segundo dados do Confea, atualmente seis mulheres ocupam a presidência dos Conselhos Regionais no Sistema Confea/Crea, com uma representação de 22%. Já os cargos de diretoria nos Creas eram ocupados por 15% de mulheres em 2020. Até o final de 2021, esse número passou para 20%.