Claudemir e a missão em produzir frutas
Carinho pela terra. Zelo pela produção. Dedicação ao trabalho. Estas são apenas algumas das qualidades de Claudemir Aparecido Pinheiro. Pequeno produtor rural de Corumbataí do Sul, há alguns anos ele vem se destacando ao cultivo de melancias e goiabas. E isso tudo, na raça. Sem quase nenhuma especialização no assunto, foi descobrindo, na prática, como lidar com o desenvolvimento das frutas. Tamanha foi a disciplina, hoje, está sendo referência na região. Somente na última safra de melancias, em janeiro, colheu 50 toneladas. Agora, se prepara à venda da goiaba. E a produção veio forte.
Claudemir é o que se chama por aí de um destemido trabalhador. Ele não para. Acorda todos os dias as 5 da manhã. E fica no campo até as 10h. Após fazer as podas das mais de 600 goiabeiras, toma um banho e segue até o seu outro emprego, na prefeitura de Corumbataí do Sul: ele é motorista concursado, desde 1998.
Ao lado dos pais e outros quatro irmãos, Claudemir deixou Cambira, no Norte Pioneiro, ainda em 1975, chegando à região com nove anos. Desde então, morando na mesma propriedade, nunca mais deixou o local. “As terras não são minhas. A produção divido com o dono da fazenda”, explicou. Segundo ele, quando a família chegou ao local, tudo era cafezal. Mas, com o tempo e a baixa dos preços do cereal, se aprimorou em outras culturas.
Tudo começou há 11 anos. Depois de ganhar e plantar uma goiabeira ao lado de sua casa, percebeu que os frutos eram constantes, durante todo o ano. Foi então que decidiu substituir os cafezais por goiabeiras. E a troca foi boa. Os pés acabaram se multiplicando, ano a ano. E, com eles, veio a satisfação. “Hoje, no município, apenas eu planto goiaba”, disse. E a tarefa da produção não é nada fácil.
Uma goiaba demora 200 dias até ser colhida. Mas antes disso, passa por um processo manual de ensacamento. Claudemir conta que, após o início do seu crescimento, um a um, os frutos são cobertos por um saco de papel impermeável, com parafina. O método é necessário. “Se não fizer isso não tem produção nenhuma. Zero”, diz. Os sacos servem para a proteção, principalmente, contra as moscas – Ceratitis capitata -, as responsáveis pelo conhecido bicho da goiaba.
Hoje, são 600 goiabeiras, distribuídas em 1,8 hectare. Claudemir dividiu os pés em quatro grupos. Então, através de escalonamento, vai dividindo a colheita ao longo do ano. Pausa apenas durante o inverno, quando as frutas são mais frágeis à geada. O produtor cultiva a variedade conhecida como “Tailandesa”. Espécie maior que a comum. Dias desses, colheu uma com 1,160 quilo.
Ele já está vendendo a produção. Comercializa a caixa, com cerca de 20 quilos, a R$80. Pouco, frente a tanto trabalho. E, ainda mais, com quase zero agrotóxico. Segundo ele, as vendas acontecem tanto em sua propriedade, como aos chamados “atravessadores”. “Eu prefiro não vender diretamente aos supermercados. Não tenho tempo para isso”, diz.
Cuidados
Claudemir é zeloso pela terra. Em meio aos pés de goiabas, uma forração em todo o terreno é, para ele, de fundamental importância. É a garantia da umidade em tempos de estiagem. “Além disso, temos aqui uma terra não tão rica em minerais. Esta proteção serve também para evitar as erosões”, explica.
A forração é composta por pés de amendoim e uma gramínea. Há também pés de pimenta, mandioca e, até abóboras. Não bastasse a preocupação com o solo, ele também fez uma cerca viva – Napiê -, de cinco metros de altura, ao redor de toda a área das goiabeiras. O objetivo ali é evitar ventos fortes. E também, segurar produtos agrotóxicos utilizados nas redondezas, principalmente, nas lavouras de milho e soja.
E o trabalho não para. Claudemir conta com a ajuda de um diarista e do próprio irmão. Enquanto encaixota um dos grupos de goiabas à venda, em outro, inicia o ensacamento. Já, num terceiro, faz as podas. “Aprendi sozinho a fazer as podas. Elas são fundamentais à produção”. De acordo com ele, num só dia é possível ensacar três pés de goiabas. Ou seja, mais de duas mil frutas – cada pé mantém cerca de 700.
Melancias
Se a dedicação das goiabeiras dura todo o ano, Claudemir ainda aposta numa super produção de melancias. A safra, numa área de 1,2 hectare, acontece entre outubro e janeiro, e tem sido muito procurada. Este ano encheu três caminhões. A produção foi tanta – 50 toneladas -, que acabou doando uma parte à comunidade. E, assim como a goiaba, aprendeu a lidar com a cultura, no pragmatismo.
Claudemir é um apaixonado pela terra. É visível o carinho voltado à propriedade. E, mesmo sem estudos específicos à cultura de melancias ou goiabas, aprendeu sozinho a desenvolver as frutas. E, reflexo do bom e velho ditado, ele vem colhendo o que plantou. A dedicação falou mais alto.