Historiador fará lançamento de livro sobre Caminhos de Peabiru

“Caminhos de Peabiru, História e Memória” é o título do livro que será lançado no próximo domingo (8) pelo historiador Arléto Rocha, publicado pela editora Hellograf, de Curitiba. O livro, como o próprio nome sugere, aborda a história do Caminhos de Peabiru. A solenidade de lançamento será às 17 horas, na Praça Eleutério Galdino de Andrade, seguindo o protocolo de prevenção ao coronavírus (Covid-19). 

A obra é resultado de um trabalho de 10 anos de pesquisas. Arléto, que é também diretor de Cultura de Peabiru, comentou que a ideia de publicar o livro surgiu a partir de sua dissertação de Mestrado, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2017. Segundo ele, este aliás, foi o primeiro trabalho sobre os “Caminhos de Peabiru” da Universidade. 

“A obra foi a base para o “Projeto Caminhos de Peabiru: História, Cultura e Turismo”, as trilhas que fazemos aqui em Peabiru. A parte científica e intelectual da aventura foi duas vezes premiada pelo Prêmio Gestor Público Paraná na Assembleia Legislativa do Paraná promovido pelo SINDAFEP – Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita do Estado do Paraná”, falou o historiador. 

Ele destacou que um dos diferenciais da obra, é que ela mostra os “Caminhos de Peabiru” por quatro visões: a primeira na do não indígena (eu), a segunda, na visão dos Historiadores, a terceira na visão dos Geógrafos, e a quarta e mais importante, a visão do Indígena pelos relatos dos próprios indígenas, em especial ao Guarani. “O livro elenca pontos do por que ele ficou tanto tempo em silêncio nas vidas das pessoas da nossa região. A o obra fala também sobre a ressignificação e reinvenção do tema hoje”, observou. Leia abaixo a entrevista completa.

Tribuna do Interior – Como surgiu a ideia de produzir a obra?

Arléto Rocha – O livro foi a minha dissertação de Mestrado na Universidade Estadual de Maringá –UEM a qual defendi em 2017 sob orientação do professor doutor Lucio Tadeu Motta. Aliás, foi o primeiro trabalho sobre os Caminhos de Peabiru da Universidade. A obra foi a base para o “Projeto Caminhos de Peabiru: História, Cultura e Turismo”, as trilhas que fazemos aqui em Peabiru-Pr. A parte científica e intelectual da aventura foi duas vezes premiada pelo Prêmio Gestor Público Paraná na Assembleia Legislativa do Paraná promovido pelo SINDAFEP – Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita do Estado do Paraná.

O que são os Caminhos de Peabiru? 

Na verdade o fio condutor de todo livro é tentar responder esta pergunta: O que é ou o que são os Caminhos de Peabiru? De forma geral eu trato sempre no plural “Caminhos de Peabiru”, pois era uma grande malha, uma rede de caminhos que cortavam florestas, rios e riachos, chacos, regiões montanhosas e áridas de toda a América do Sul. Europeus e outros povos, jesuítas e bandeirantes também usaram estes caminhos que ao mesmo tempo era sinal de coisa boa, mas foi a causa da destruição dos povos daqui. Quem construiu? Ninguém sabe! Para os Guarani tinha uma função de caminhos de visitação entre famílias e sentido religioso, a purificação para alcançar a Terra Sem Mal, o Iwy Marae`y. No primeiro capítulo apresento os caminhos de forma clássica, tendo em base todas as leituras feitas e ao final do livro levanto pontos novos. Levanto a questão de por que levanta tantas dúvidas, seja pela falta de ver o caminho em si, na falta de sua materialidade, que foi apagada pela agricultura e urbanismo, seja pela magia que ele nos envolve.

O que especificamente o livro aborda sobre os Caminhos de Peabiru?

Um diferencial do livro é que mostra os Caminhos de Peabiru por quatro visões: a primeira na do não indígena (eu), a segunda, na visão dos Historiadores, depois na visão dos Geógrafos (passeando pela Biologia, fauna, flora, relevo, rios) e por fim na visão mais importante: a visão do Indígena pelos relatos dos próprios Indígenas, em especial ao Guarani. Também, o livro elenca pontos do por que ele ficou tanto tempo em silêncio nas vidas das pessoas da nossa região. Em seguida a obra fala também sobre a ressignificação e reinvenção do tema hoje. Traz também grande fundamentação arqueológica, com fotos de pontas de flechas, artefato indígenas, entre outros, encontrados em Peabiru e região.

O que representa os Caminhos de Peabiru para a cidade de Peabiru e região?

É um potencial histórico, cultural, ecológico e turístico reprimido. O mundo sabe sobre os Caminhos de Peabiru, mas nós não. Recebo contatos do mundo inteiro, em especial da Franca, Portugal e Espanha acerca dos caminhos. Eles são apaixonados pelo tema. Até poucos anos em Peabiru quase ninguém sabia sobre estes caminhos. Nas escolas nada era explicado. Assim acontecem também em Fênix, a 50 quilômetros de Peabiru que também tem uma riqueza mundial: a Vila Rica do Espírito Santo. Mas poucos de lá sabem. Em um espaço de 60 quilômetros temos duas riquezas mundiais Caminhos de Peabiru e Vila Rica, além de grande riqueza em cachoeiras, grutas, rios, igrejas, estradas, comidas, gente. Um potencial avassalador para gerar emprego, trabalho e renda, mas reprimido. Com o Projeto Caminhos de Peabiru, em Peabiru, buscamos abeberar deste potencial. Não à toa que em três anos recebemos mais de 20 mil visitantes de vários países do planeta. Vale ressaltar também neste âmbito o trabalho da ADETURS – Agência de Desenvolvimento de Turismo Sustentável de Campo Mourão, uma ONG sem fins políticos, que trabalha nesse sentido e muito nos auxilia.

A edição do livro era um projeto antigo? 

Eu nem sabia. Descobri muito tempo depois que tinha nascido às margens dos Caminhos de Peabiru, na antiga estrada que levava a Campo Mourão (estrada que virou secundária com a inauguração da rodovia Maringá a Campo Mourão em 1969). Naquela estrada ao lado do Bar de meu pai “Baiano dos Macacos” (era baiano e criava macacos) que ali chegou em 1959 eu brincava de bola, corria, brincava nas enxurradas de terra vermelha e nem sabia que estava sobre um chão sagrado, cheio de histórias e passagens, o milenar Caminho de Peabiru. Com o tempo nas graduações de Geografia e depois História na Unespar-Campo Mourão, percebi a riqueza daquele caminho que pisava e brincava. A paixão pelos Caminhos de Peabiru nascera ali. Na verdade já estava em mim, como se estivesse escrito nas estrelas. Quando tudo emergiu, explodiu com grande força interior. E com o mestrado este livro nasceu.

Quanto tempo foi de trabalho até a conclusão do livro?

O livro é resultado do trabalho de 10 anos de pesquisas de 2007 a 2017. A história de 2017 para cá já tem outra obra pronta que fala especificamente do sucesso das Trilhas, da Família Caminhos de Peabiru, enfim, que lançarei certamente ano que vem.  Em uma delimitação de tempo, o livro começou a ser escrito quando entrei para o Necapecam (Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Caminhos de Peabiru na Comcam) com a professora Sinclair Pozza Casemiro, a Marilene Celant, e o seu Antônio Gancedo, que deram corpo ao trabalho na região. Trabalho este iniciado anos antes pelo então prefeito de Campo Mourão na década de 1990, Rubens Bueno, que incumbira certo dia sua assessora de comunicação a pesquisar um caminho, os Caminhos de Peabiru. Esta assessora era a amiga Rosana Bond, sumidade no assunto hoje.

Qual o significado da capa do livro?

A capa e contra capa, em suas fotos e arte foi feita pelo designer e fotógrafo Leandro Goncalves Silva, que andou comigo pelos Caminhos de Peabiru em 2016, catalogando e fotografando todas as cachoeiras da cidade. Encontramos riquezas arqueológicas incríveis, todas fotografadas e algumas no livro. As duas fotos da capa foram tiradas na volta de uma pesquisa na divisa de Peabiru e Campo Mourão. Eu nem percebi, mas ele teve o cuidado de tirar uma foto minha andando na rodovia e outra igualzinha andando na terra. Ficou show. 

Você já tem outras obras? Quais?

Tenho artigos publicados em várias revistas digitais, em especial ao trabalho com as Professoras Sinclair Pozza Casemiro e Nair Glória Massoquim (UNESPAR) acerca da comparação em análise de discurso entre as cartas de Pero Vaz de Caminha no descobrimento e Cabeza de Vaca quando passou pela nossa região em 1541 rumo ao Paraguai. Também são várias poesias publicadas em Antologias, como pela Editora Litteris do Rio de Janeiro e Questão de Opinião de Curitiba, algumas premiadas. Nos 40 anos da UNESPAR–Campo Mourão ganhei prêmio de publicação em livro que comemorava a data. Lançamos em 2012 dois livros de história local: “O Cara da Rua”, que descrevia quem eram de fato as pessoas que davam nome as ruas de Peabiru e “Histórias de Famílias”, no qual entrevistamos 20 famílias que chegaram a Peabiru nas décadas de 1940 e 1950. Domingo, será o primeiro livro “solo” que lançarei.

Qual a principal dificuldade para a publicação do livro?

Dinheiro. Um livro hoje não custa barato, desde a diagramação, capa, impressão, catalogação, revisão, enfim. Penso que se fossem criadas linhas de publicação mais diretas e simplificadas pelo poder público, teríamos uma riqueza de obras aflorando por ai. Uma riqueza cultural única que impulsionaria a região. Como membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná falo sobre isso com propriedade, pois sempre abordamos este assunto nas falas. Faltam museus nas cidades pequenas (apenas 3 museus em 25 cidades da Comcam) e faltam publicações de livros pelos autores locais devido à falta de dinheiro para publicar. Museus e livros são dois pontos que enriqueceriam sobremaneira a nossa cultura, a nossa gente.

O livro estará disponível para venda? Onde?

Para quem for ao lançamento o livro será gratuito. Terá uma espécie de urna ou caixa para quem quiser contribuir voluntariamente com a obra. Pode ser qualquer valor. Depois do lançamento repassaremos o livro a quem quiser ao preço simbólico de R$ 10,00. Interessados podem também nos procurar nas redes sociais ou pelo WhatsApp (44) 9 9975-8280.

Arléto Rocha é pioneiro na Comcam nos estudos sobre os Caminhos de Peabiru