Prefeitos da região cobram Copel sobre constantes quedas de energia em municípios

Indignados e inconformados com as constantes quedas injustificáveis de energia elétrica, registradas nos municípios, tanto na zona urbana quanto rural, prefeitos da Comcam fizeram uma reunião nesta semana para discutir a situação. O encontro foi realizado em Juranda. Contou com o gerente de departamento de serviços noroeste da Copel, Ricardo Alexandre Soliman Carvalho.

✅ Siga o canal da TRIBUNA no WhatsApp

O problema é antigo na Comcam, causando transtornos à população como queima de aparelhos eletrodomésticos e prejuízos no campo. O prefeito de Terra Boa, Edmilson Moura, questionou Carvalho sobre o problema e medidas que a empresa vem adotando para resolver a situação. “Diante da seriedade deste grave problema o que a Copel está fazendo para uma solução aos municípios”, questionou.

Sobre a situação, Carvalho comentou que a Copel está se esforçando para reforçar, modernizar e expandir a rede de distribuição de energia que atende a região Noroeste do Paraná, que engloba a região da Comcam. Com isso, diz, espera que a situação seja normalizada. Para este ano, por exemplo, a empresa deverá investir R$ 252,5 milhões nas melhorias, informou.

Apesar do anúncio, o prefeito de Mamborê, Ricardo Radomski, que também participou da reunião, fez um desabafo. “A gente está vendo um sucateamento da Copel, uma parte dos postes está ficando velha, quebrando muito. De dois anos para cá a coisa ficou caótica. Sabe cobrar, mas a manutenção deixa a desejar. Dou nota zero para Copel”, desabafou.

Ele disse que teve um caso no município, em um sítio, que um produtor ficou três dias sem o fornecimento de energia elétrica porque uma “chave” de um transformador caiu e a Copel demorou para fazer o atendimento. “Ele perdeu produção de leite, perdeu alimentos, carnes no freezer. Precisou implorar à Copel para ser atendido, uma vergonha”, indignou-se Radomski.

O prefeito de Quinta do Sol, Leonardo Romero também disse que o problema é corriqueiro em seu município e que tem sido constantemente cobrado pela população. “Além de os prefeitos levarem a culpa, hoje não se consegue mais contato com alguma pessoa da Copel porque o sistema é todo robotizado. Estamos numa situação muito delicada”, falou.

Da mesma forma relataram os prefeitos de Luiziana, Wilson Tureck e a anfitriã, Leila Amadei. Constantemente esses municípios vêm sofrendo com a falta de água devido os constantes apagões de energia elétrica que acabam interrompendo a produção de água. “Um problema leva a outro e quem mais sofre é a população. Já passou da hora de uma solução para o problema”, Os vice-prefeitos Eides Guedes (Janiópolis), e Elias Fernandes (Corumbataí do Sul), também participaram da reunião.

Prejuízos

Mais do que transtornos em seu dia a dia, produtores rurais de toda região da Comcam, têm amargado prejuízos em razão de quedas recorrentes no fornecimento de energia elétrica ou de oscilações na tensão da rede. Para se ter ideia, nos últimos meses, a Faep recebeu 18 ofícios de sindicatos rurais e núcleos de sindicatos, que, juntos, correspondem a 54 unidades sindicais. Os documentos detalham os problemas enfrentados por agricultores e pecuaristas e que impactam diretamente na produção agropecuária. A entidade está cobrando do governo do Paraná providências imediatas para o problema.

Um dos reflexos da deterioração da rede elétrica no campo é a oscilação recorrente de carga, que tem provocado a queima de sistemas elétricos de equipamentos, como motores, bombas de irrigação, climatizadores e painéis de controle, entre outros. Outro problema sentido reiteradamente pelos produtores rurais são as quedas de energia.

Conforme levantamento da Faep, no último quadrimestre de 2023, houve mais de 38 mil interrupções de distribuição de energia registradas no Paraná, aumento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em alguns casos, os episódios são sequenciais. O período médio de duração das interrupções também aumentou. O tempo de atendimento subiu de 248 minutos (mais de quatro horas) para 355 minutos (quase seis horas), de acordo com a Aneel. Há casos, entretanto, em que a interrupção no fornecimento se estende por dias, como na propriedade do avicultor Roberto de Lucas Rodrigues Bittencourt, em Terra Boa, na região da Comcam.

A fazenda ficou às escuras por quase três dias seguidos, entre 10 e 12 de janeiro deste ano. Na hora que a energia caiu, Bittencourt ligou um conjunto de geradores à diesel, mas os equipamentos também não aguentaram à sobrecarga. Um deles queimou e o produtor teve que, às pressas, alugar um novo, ao custo de R$ 2,5 mil. Nesse meio tempo, do lote de 200 mil aves nos galpões, 10 mil morreram.

“Os geradores são feitos para usar uma ou duas horas, em situações de emergência, até a luz ser religada. Não é para ficar ligado direto, derretendo e virando o dia. Meu prejuízo foi de R$ 100 mil”, garantiu o produtor. “Eles demoraram três dias para identificar o problema. Era um religador automático, que, quando falha, dá sinal na central. Então, ou eles foram incompetentes ou foram negligentes. E não estava chovendo. Estava um ‘céu de brigadeiro’”, acrescentou Bittencourt, que reuniu os registros para ingressar com uma ação judicial contra a Copel.

Nos últimos cinco anos, os produtores rurais do Paraná viram sua conta de luz disparar. O custo da energia elétrica no campo subiu 76,4% no período, enquanto a tarifa residencial teve reajuste de 45,1% – em ambos os casos, as altas foram superiores à da inflação, medida pelo IPCA. Com o fim de subsídios, a tarifa rural se equiparou à urbana. No campo, entretanto, os serviços têm gargalos estruturais. Em 2021, por exemplo, o produtor paranaense ficou, em média, 30 horas sem energia, enquanto esse período médio foi de sete horas na cidade.