Vereadores cobram reunião com prefeito sobre enterro com retroescavadeira

Após muita comoção e polêmica sobre um sepultamento realizado com a ajuda de uma retroescavadeira, em Fênix, vereadores tentaram marcar reunião com o prefeito Altair Molina Serrano (PSD). A ideia é buscar informações acerca dos “porques” o coveiro não apareceu. No entanto, o encontro não aconteceu, informou o vereador Edinho Malaquias. “Irei enviar um ofício solicitando uma reunião com ele”, disse.

A TRIBUNA também enviou mensagens ao prefeito e ao presidente do Legislativo de Fênix, João do Banco. Os dois não responderam. De acordo com informações, o município possui dois coveiros, um concursado à função e outro não. Naquele dia, um estava de férias. O outro, não. Mas ele não apareceu ao enterro.

Seja o que tenha acontecido, o fato é que José Carlos Conceição, 48, foi sepultado por uma retroescavadeira. Morto por causas desconhecidas, foi enterrado sem dignidade. Teve o caixão colocado num buraco, semelhante a uma vala, aberto pela máquina. Para finalizar o ritual, o equipamento terminou o serviço, voltando a terra sobre a urna funerária, numa espécie de “honras municipais”. Populares e amigos de José, presentes ao enterro, se revoltaram.

O caso aconteceu no último dia 11. José morava junto ao amigo Luiz Acácio Camargo, 61, na comunidade de Bela Vista, município de Fênix. Não tinha filhos, muito menos, esposa. Sujeito educado, trabalhava num bar, o mesmo onde ganhou o respeito da pequena população, de 300 pessoas.

Conhecido como “Negão”, José chegou à comunidade ainda em 2017. Na época, veio de São Paulo, com uma família com quem era muito próximo. Mas a turma decidiu deixar o local. José, preferiu ficar. Então, sozinho, passou a morar no antigo lixão. Lá, dormia dentro de latões, apenas forrados com papelão. Numa manhã gelada do inverno, Luiz o encontrou. Vendo seu estado, teve compaixão. E decidiu dar acolhida ao rapaz.

Nascido na Bahia, José passou a trabalhar e morar com Luiz. Era o seu braço direito. Por ser honesto, lidava com o caixa da venda e, vez em quando, fazia os pedidos do negócio. Ele também zelava dos galináceos ao fundo da casa. Carpia a horta e estava pronto a qualquer missão. Por ser “adotado”, passou a ter um carinho enorme com a família de Luiz, a quem também começou a chamar de sua. A bem da verdade, José era um gentleman. Um homem simples, mas elegante demais no convívio humano.

Ele jamais estudou. Era analfabeto. Teve três irmãs. Duas continuam na Bahia. Outra está em São Paulo. “Ele sempre mantinha contato com elas. Inclusive, estava pronto a viajar para encontrá-las”, contou Luiz. A viajem seria na semana em que morreu. Mas ele não teve tempo. Assim como não teve tempo para usar uma calça jeans nova, ainda com etiqueta. E três pares de tênis, ainda nas caixas. A ideia era levar a roupa nova para usar na Bahia. Queria estar bem vestido, para mostrar que estava bem.

“Negão” virou uma espécie de lenda na comunidade. Todos se referiam a ele como muita ternura. Era respeitador. Dócil. Gentil. Acreditava em Deus, embora não fosse adepto de igrejas. Às crianças, tinha um trato meigo. Adorava conversar. De vez em quando, se sentava numa das cadeiras da venda. E tomava o seu trago. E, na correria dos finais de semana, embora sem estudo, aprendeu a dar troco. Fazia continhas básicas de matemática. Tudo pra ajudar o amigo Luiz.