Assassinado há sete anos, Silvio ainda não teve justiça

Até 21 de abril de 2016, Silvio tinha uma vida tranquila. Divorciado e com dois filhos, vinha traçando os seus próprios objetivos. Não dependia de ninguém. Trabalhava há mais de duas décadas no setor administrativo do Hospital Santa Casa, de Campo Mourão. E, em plena liberdade, arrumou uma namorada no Jardim Albuquerque. Tudo certo. Mais adiante, com um bom relacionamento, passou a dormir ali. Uma rotina diária. Após acordar, se dirigia ao trabalho. A bem da verdade, ele não desejava muito mais da vida. Estava feliz.

Mas naquela manhã, Silvio não apareceu para trabalhar. Possivelmente, a única falta em mais de 20 anos. Ao deixar a casa da namorada, não mais que alguns passos, na Avenida Parigot de Souza, acabou morto por disparos. O primeiro tiro veio pelas costas, direto na nuca. Caído, já praticamente sem vida, recebeu o segundo. Agora na cabeça, como uma espécie de execução. Um crime passional. Recheado de ódio e ciúme.

Na época, populares afirmaram terem visto um homem vestido de preto, utilizando uma motocicleta. Ele teria esperado a vítima chegar até a esquina e efetuado os disparos. A polícia constatou que o crime teve motivação passional e teria sido cometido pelo agricultor, e ex namorado da mulher, Hildeson Sambati, também conhecido como Hildo. Após o crime, ele fugiu. Mas dias depois, após deixar o flagrante, acabou se apresentando à polícia. Também confessou a autoria, em legítima defesa. Mas saiu em liberdade, conforme as leis brasileiras.

No próximo mês o crime completará sete anos. Hildeson jamais foi preso. E a família vitimada clama por justiça. Há quatro anos, em entrevista à TRIBUNA, a mãe de Silvio, Lourdes Onhibene da Silva, lamentou a morte do filho. “Queremos Justiça, isso não pode ficar impune. Um pedaço da família se foi com a morte dele. Uma parte do meu corpo parece que foi embora. A Justiça tem que fazer a parte dela”, clamou. A dor da mãe foi tamanha que não suportou tanto tempo de espera. Ela morreu em setembro do último ano. E sem ver a justiça ser feita.

Segundo as investigações da polícia, à época dos fatos, Hildeson não aceitava o fim do relacionamento com a mulher. Acabou perdendo a cabeça e, com ela, todas as demais razões. Familiares da vítima também revelaram que o mesmo vinha ameaçando Silvio há mais de uma semana antes do homicídio. A polícia também encontrou a arma do crime dentro do guarda roupas, na casa do assassino.

“É um caso passional. Por questões de ciúmes depois do fim do relacionamento do casal, o autor dos tiros passou a acompanhar a rotina da ex namorada. Inclusive, pulando o muro da casa dela. Também vinha passando em frente à casa da vítima de moto ou de caminhonete. Identificamos a moto usada no dia do crime e já temos a arma e munições que foram usadas no homicídio. Enfim, todas essas informações já estão no inquérito e as medidas necessárias foram tomadas”, disse na época, à imprensa, o delegado que conduzia o inquérito, Nagib Nassif Palma.

“Queremos justiça. Meu irmão foi covardemente assassinado. E o criminoso, réu confesso, até hoje não foi preso”, cobrou o mecânico industrial, Dionísio Ribeiro da Silva, irmão de Silvio. Segundo ele, a impunidade só aumenta o sofrimento da família. Dionísio reconheceu que a polícia fez a sua parte, identificando o autor do crime, elucidando também a causa do mesmo.

Silvio era o irmão do ‘meio’ de sete irmãos, quatro homens e três mulheres. Segundo Dionísio, ele deixou um filho tetraplégico que dependia dele para tudo. “O meu irmão hoje está enterrado. E o cara que o matou vive numa boa, curtindo a vida”, disse Dionísio. Silvio foi descrito por ele como uma pessoa especial. “Todo mundo o conhecia na cidade, era uma excelente pessoa. Mas parece que estamos vivendo em um mundo de faroeste. O sujeito mata, foge, o advogado usa sua estratégia de esconder o réu. Depois ele aparece e fica respondendo pelo crime que praticou em liberdade, como se nada tivesse acontecido”, desabafou.

Histórico de agressões

A mulher com quem Hildeson manteve um relacionamento, em Campo Mourão, revelou em entrevista, a um canal de TV ainda em 2016, que era frequentemente agredida. “Ele bateu minha cabeça no parabrisa do carro que chegou a quebrar o vidro. Também me deu um soco no olho. Tive que mentir à minha família que tinha caído”, disse. Segundo ela, após terminar o namoro com Hildeson, ela permaneceu seis meses sozinha. Passado o tempo, conheceu Silvio. E iniciaram uma relação um mês depois. “Eu tinha medo do Hildo porque ele me ameaçava, mesmo depois de terminarmos”, disse.

Após o crime, em 2016, Hildeson se mudou para Gaúcha do Norte, no Mato Grosso. Lá, teve um novo relacionamento, agora, com uma radialista. Na convivência, tiveram um filho. No entanto, segundo a mulher, agressões aconteceram. “Ele me deu um soco no rosto. Foi uma discussão nossa. Mas mesmo assim, ele não tinha o direito de me atingir”, revelou à uma emissora de TV.

Em outra ocasião, ela também teria recebido uma joelhada na barriga, sentindo muitas dores. “Após me agredir, ele simplesmente virou as costas e saiu”, afirmou. Na época, ela o denunciou à polícia e ganhou uma medida protetiva. Hildo acabou detido. Policiais também encontraram um revólver na casa dele. Foi preso por posse ilegal de arma de fogo. Mas pagou a fiança e saiu em liberdade.

Justiça

O processo do assassinato de Silvio Ribeiro da Silva já foi pronunciado pelo juiz, e encaminhado ao Tribunal de Justiça do Paraná. Ou seja, o juiz do caso reconheceu a materialidade do crime e, consequentemente, os indícios de sua autoria. Uma vez confirmada a sentença do magistrado, pelo TJ, possivelmente, Hildeson irá a júri popular. Mas não há uma previsão de quando isso ocorrerá.

Na época, Hildo confessou a autoria à polícia. Mas anos depois, em audiência à justiça, exerceu seu direito de ficar em silêncio. O recurso está com o relator do TJ desde 16 de fevereiro de 2023 para pedir a data do julgamento.

O que diz a defesa de Hildeson

De acordo com o advogado Márcio Berbet, Hildeson Sambati se apresentou espontaneamente à autoridade policial, confessando a autoria do delito. Por sua vez, alegou uma ação de legítima defesa. “Ele é pessoa conhecida, e não possuía antecedentes criminais quando da ocorrência do delito”, explicou.

Segundo ele, o processo teve sentença de pronúncia, que é a decisão que, por indícios de materialidade e autoria, levam o denunciado ao Júri Popular. Da referida decisão houve recurso junto ao TJPR, a qual está para decisão. Posteriormente quanto a outros dois delitos de agressão, há que registrar que o mesmo não possui condenação, havendo Transação Penal e também Acordo de Não Persecução Penal.

A defesa também esclarece que Hildeson continua convivendo maritalmente com a mulher que teria sido vítima, no Mato Grosso, com a qual possuí um filho. “Ninguém pode ser considerado culpado sem que se tenha uma sentença trânsito em julgado em seu desfavor. Aguardaremos a decisão do TJPR, e caso seja mantida a defesa recorreremos às instâncias superiores”, disse.