Estado deve assumir gestão de recursos da Santa Casa de Campo Mourão
O Governo do Paraná, por meio da Secretaria Estadual de Saúde, deverá assumir a gestão de recursos do Hospital Santa Casa de Campo Mourão. O hospital está há um ano sob intervenção administrativa do município. De acordo com o interventor, Sérgio Henrique dos Santos, existe diálogo bastante avançado neste sentido entre o município, Regional de Saúde e Estado. Ele concedeu uma entrevista à TRIBUNA nesta sexta-feira (14) para fazer um balanço da intervenção e foi questionado sobre o tema.
Campo Mourão é gestão plena da saúde. Na prática, em vez de o município contratualizar os recursos recebidos do SUS, via Ministério da Saúde e do Governo do Estado, com a Santa Casa, Hospital Pronto Socorro e Instituto do Rim, o Estado é quem passaria a fazer esta função. “Não se trata de assumir a gestão administrativa do hospital, mas sim a gestão dos recursos”, ressaltou Santos.
Caso a medida seja efetivada, o interventor avaliou que, teoricamente, seria mais vantajoso para a Santa Casa. “O estado do Paraná é o mais organizado financeiramente do Brasil. Onde hospitais trabalham desta forma, com gestão estadual, estão muito avançados na questão das cirurgias eletivas e de serviços de alta complexidade. Para as prefeituras, isso fica mais limitado. Se isso acontecer, a Santa Casa vai entrar numa fase ainda melhor do que ela vive”, prevê Santos.
Referente a um ano de intervenção administrativa, Santos fez um balanço positivo. Disse que queria ter feito mais, mas acredita ter atingido seu objetivo para o período. “Completou um ano de intervenção administrativa. É um ano de muito trabalho, muita luta e conquistas também. A gente olha há um ano e lembra da situação do hospital: cenários constantes de desassistência, problemas em plantões médicos, alas fechadas, capacidade operacional pela metade, pacientes precisando de leitos e até o fechamento da UTI neonatal”, recordou.
Segundo ele, o hospital estava completamente desabastecido, tanto de estoque de alimentos quanto de insumos e medicamentos hospitalares, médicos há vários meses sem receber, funcionários revoltados com consignados, problemas estruturais, entre outros. Hoje, segundo ele, o hospital está “respirando”. Destacou, por exemplo, a reabertura da UTI Neonatal em apenas 15 dias de intervenção. Nesse período, mais de 400 crianças foram atendidas na ala.
O interventor frisou que, ao longo desse um ano, conseguiu renovação de parte dos equipamentos, como aquisição de focos cirúrgicos, camas hospitalares, entre outros. “Estamos agora em busca de recursos para fazer uma manutenção preventiva da parte estrutural. A parte estrutural ainda é um desafio”, disse, ao lembrar que assumiu a intervenção do hospital no momento em que a unidade vivia a maior crise de sua história. “Hoje, de certa forma, tiramos o hospital dessa crise. Conseguimos reativá-lo e estabelecer um fluxo dentro da unidade, atingindo uma certa organização financeira”, resumiu.
Santos reconheceu que ainda há muitos desafios pela frente. Por exemplo, o hospital tem uma dívida próxima a R$ 60 milhões, o fluxo mensal de caixa não é o esperado e as características do serviço hospitalar do ponto de vista cirúrgico não são o que a equipe gostaria. “Mas dentro deste período de um ano, podemos dizer que foi um dos mais promissores da última década ao hospital”, complementou.
A maior dificuldade, segundo ele, continua sendo a questão financeira. O hospital deve a fornecedores, médicos ainda têm um passivo muito grande a receber, ações trabalhistas, entre outros. “A questão financeira impacta muito. Temos feito negociações com médicos, recebemos constantemente ações trabalhistas movidas por funcionários devido a questões de FGTS, indenização trabalhista, toda uma situação que faz o fluxo de caixa descontrolar”, disse.
Outra situação grave, informou, é a estrutura mal planejada do hospital e, somado a isso, o parque de equipamentos com situação ainda deficitária. Para se ter ideia, para retomar o funcionamento da UTI Neonatal foi necessária a aquisição de 10 novas incubadoras. Foram adquiridas no período também camas, poltronas e raio-x. “Toda a estrutura estava muito antiga e sem cuidados preventivos para funcionar”, lamentou.
Ao ser questionado se continua no cargo, já que a intervenção foi prorrogada por mais dois anos, ele falou que, assim como os demais secretários, colocou o cargo à disposição quando houve a mudança de gestão. “Fica a critério do prefeito atual a nossa manutenção na intervenção. Mas até segunda ordem, continuo no hospital”, disse.