MP diz que empresas de vereador preso eram utilizadas para venda de mercadorias desviadas

A promotora de Justiça de Maringá, Juliana Stofela da Costa, que participou da Operação “Força e Honra”, que culminou com a prisão do vereador de Campo Mourão, Sidney Ronaldo Ribeiro (PSD), mais conhecido como “Tucano”, afirmou em coletiva de imprensa, que as empresas do vereador eram utilizadas para a venda de mercadorias desviadas por policiais rodoviários presos na ação.

“O vereador preso tem empresas que eram utilizadas para a venda dos equipamentos eletrônicos desviados destas apreensões que eram feitas pelos policiais rodoviários. Os produtos eram vendidos e o dinheiro dividido entre os membros da organização criminosa”, afirmou.

Segundo Juliana, as investigações iniciaram em agosto de 2020, a partir de um relato de um comprista do Paraguai. Ele denunciou que fazia sistematicamente o pagamento de propina a equipes de um posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), em Cruzeiro do Oeste. “A partir daí iniciamos uma força tarefa com a Corregedoria da Polícia Militar e com o Gepatria de Umuarama”, informou.

Na operação, o comandante do posto da PRE também foi preso. De acordo com as investigações, ele recebia valores mensais de propina para manter as mesmas equipes que atuavam mais efetivamente no desvio das mercadorias. Ainda segundo a Promotora de Justiça, os compristas faziam o pagamento de propina a estas equipes mesmo sem necessidade de abordagem. “De ante mão já paravam no posto antes mesmo de comprarem as mercadorias para o pagamento de propina porque os policiais já sabiam”, falou.

O comandante geral da Polícia Militar do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, também falou à imprensa sobre a operação. Ele disse que nos 11 meses de investigação, foram interceptadas ligações telefônicas autorizadas pela Justiça que comprovam a existência de um esquema criminoso.

“Apuramos que realmente havia um esquema de pagamento de propina para facilitação de escoamento de contrabando pelas rodovias do Estado nesta região. Os policiais recebiam para permitir ou fazer vista grossa a este tipo de crime. Com a desarticulação desta organização criminosa pretendemos mudar a realidade atual da região”, falou.

Detido provisoriamente, o vereador Sidney Ribeiro, disse que está surpreso com a ação, assegurou o advogado Élcio de Souza Novaes. Segundo ele, os motivos da detenção ainda não foram detalhados. “Ainda não temos conhecimento sobre as denúncias”, disse.

“Tucano” foi levado da Câmara até a 16ª Subdivisão Policial de Campo Mourão, e lá permanece a disposição da justiça. De acordo com o advogado, ele está isolado dos demais presos. “O que podemos garantir é que a ação do Gaeco não tem nada a ver com a função parlamentar”, ressaltou Novaes.

Vereador pelo segundo mandato, “Tucano” é também empresário no ramo de celulares. Ainda hoje, a defesa terá uma audiência de custódia. O objetivo é que Sidney saia em liberdade. Os policiais fizeram buscas no gabinete do vereador, na Câmara Municipal de Campo Mourão. O departamento jurídico do legislativo informou que enviará nota a respeito do caso.

Força e Honra

A Operação “Força e Honra”, foi desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná em conjunto com a Polícia Militar. Além de Tucano, as prisões tiveram como alvo 15 policiais rodoviários. A ação cumpriu também 54 mandados de busca e apreensão e 27 medidas cautelares de suspensão do exercício da função.

Os mandados de busca e apreensão envolveram residências de 36 militares, quatro estabelecimentos de policiamento rodoviário estadual (uma Companhia em Maringá e os Postos Rodoviários de Iporã, Cruzeiro do Oeste e Cianorte), seis residências de empresários e oito empresas.

A ação foi realizada nos municípios de Maringá, Cruzeiro do Oeste, Umuarama, Goioerê, Campo Mourão, Paranavaí, Maria Helena, Doutor Camargo, Mandaguari, Tamboara, Nova Esperança, Uniflor, Jussara, Mandaguaçu, Marialva, Guaíra, Cianorte e Iporã.

As investigações, feitas pela Corregedoria da Polícia Militar em conjunto com o núcleo de Umuarama do Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Gepatria) e o núcleo do Gaeco em Cascavel, foram iniciadas em agosto de 2020 e apuram os crimes de concussão, corrupção passiva, peculato, prevaricação, falsidade ideológica, lavagem de ativos e eventual receptação realizados por organização criminosa. Levantamento preliminar demonstrou incompatibilidade do patrimônio dos policiais – que chega a R$ 6 milhões – com seus rendimentos lícitos.

Propinas

É investigado principalmente o possível recebimento sistemático de “propinas” por parte de policiais rodoviários estaduais para permitir a passagem de veículos transportando mercadorias de origem estrangeira sem o devido pagamento de tributos (descaminho) e, em outros casos, para facilitação do tráfico de drogas.

Eventualmente, os policiais investigados liberariam infratores que não acertavam o pagamento de propina depois de ficar com parte dos produtos, revendidos depois para empresas especializadas em comércios de equipamentos eletrônicos e outras.

De acordo com as investigações, em muitas situações, os boletins de ocorrência eram registrados de modo genérico para facilitar a apropriação das mercadorias apreendidas. Está sendo investigado também o possível favorecimento na indicação de policiais para trabalhar nos postos de fiscalização, em troca de repasse de propinas.

O cumprimento dos mandados de busca e apreensão objetiva o recolhimento de distintivos, armas, coletes balísticos, cédulas funcionais, documentos diversos, equipamentos eletrônicos, aparelhos celulares, valores em espécie e veículos. Todos os mandados foram expedidos pelo Juízo da Vara da Auditoria da Justiça Militar e pelo Juízo da 2ª Vara Judicial de Cruzeiro do Oeste.