O abandono do mal. Até quando?

Um trato vem sendo desfeito. De um lado, os animais honraram o acordo em amar seus humanos. De outro, humanos não. Desde o início do ciclo pandêmico tornou-se comum a cena de animais abandonados em esquinas, datas vazias e áreas rurais de Campo Mourão. Apesar da situação já acontecer antes de 2020, pode-se afirmar, sem medo, que os números cresceram. E muito. Mas agora, algo está diferente. Famílias inteiras – felinos e caninos -, passaram a ser “despejadas” de seus lares. Mas o que fazer?

“O abandono aumentou muito. Acreditamos que pela pandemia. Muitos animais adultos, idosos. Antes era comum achar caixas de filhotes. Agora abandonam a família inteira”, revela Amanda Tonet, da Associação dos Protetores de Animais Independentes (PAIS). Ela explica que tem muita gente maldosa. No entanto, a maioria deixa na rua por não ter condições financeiras para bancar com rações.

No Avelino Piacentini, felinos abandonados numa caixa de papelão

Também existem casos de bichos “semi domiciliados”. Ou seja, que tem casa, mas muito acesso à rua. “Acredito que para buscar comida, acaba virando um bicho semi-domiciliado”, acredita ela. Mas o abandono, literalmente, é quando animais são encontrados em caixas, sacos, geralmente longe da cidade. Há alguns dias, uma gatinha foi encontrada no interior de uma caixa de papelão. Lá, estava com a ninhada toda. Foi encontrada próxima a estação da Sanepar, no Avelino Piacentini.

Relatos do Ministério Público também indicam que muitos animais são “despejados” em sacos de sementes. Como último toque de maldade: amarrado. Isso aconteceu por algumas vezes nas mediações da Vila Franciscana, na estrada à Araruna. Lá, segundo informaram os freis, é comum encontrar bichos abandonados. À mercê da própria sorte. O último caso foi há um mês. Uma gata estava em uma caixa, com todos os filhotes, recém nascidos. “Por se tratar da Vila Franciscana, as pessoas os deixam aqui pensando em São Francisco, que é o padroeiro dos animais”, disse um frei. Uma cadela, abandonada pelo dono, passou a ser o xodó da Vila. Já os gatinhos foram adotados.

Amanda acredita que apenas a conscientização e a castração podem resolver a situação. Ou, pelo menos, amenizá-la. “Temos que fazer trabalhos em escolas. E buscar programas voltados à castração para não aumentar tanto. Iniciamos um trabalho de formiguinhas. Visitamos escolas e buscamos programas de castração. Mas isso tem que ser permanente”, disse.

A cidade conta com muitos voluntários dedicados a adoção. O fato é que filhotes sempre são doados, quase 100%. Já os adultos, não. Quando isso acontece, o destino é ser acolhido junto a outros tantos sem lares. “A maioria dos sem raça definida (SRD) são de médio porte. São esses que vivem anos no canil, e acabam morrendo por lá”, explicou Amanda.



Hoje, a PAIS não resgata animais só por estarem na rua. Isso acontece apenas em casos quando estão machucados ou doentes. A entidade mantém um abrigo com mais de 200 cães adultos. Há alguns dias, uma família de cães foi encontrada abandonada na Estrada do Barreiro das Frutas. Amanda destaca que as pessoas não precisam descartar seus animais como uma espécie de lixo. “Quem está pensando em abandonar pode nos procurar. Vamos ajudar a doar”, disse. E a bem da verdade, é o mínimo a se fazer. Principalmente, a quem sempre honrou o compromisso de amar humanos.

Ministério Público dá exemplo

Já tem algum tempo, o Ministério Público (MP) de Campo Mourão, em sua sede, próximo ao Centro Social Urbano, vem colaborando ao bem estar dos animais de rua. Juntos, promotores e funcionários fazem uma vaquinha e compram rações. Eles também colocam pequenas caixas, vasilhas com água e comida no quintal, tornando-se um chamariz aos mais desesperados, famintos e, porque não, “sem lar”.

Um deles foi “Francisca”, uma gatinha que lá apareceu machucada e com fungos pelo corpo. Extremamente dócil, foi imediatamente acolhida. Recebeu comida, foi levada ao veterinário, curada e, mais adiante, castrada. Virou a mascote do MP, ao ponto de transitar livremente pelas salas do órgão, inclusive, durante audiências.

Francisca, antes de ser adotada, fazendo pose nas repartições do MP

“Uma vez ela estava na poltrona durante uma audiência. A pessoa até se propôs a adotá-la. Os animais interagem com a gente. Sempre tem um gatinho passando por ali”, disse a promotora Rosana Araújo. Ela explica que o MP não possui um abrigo, em si. Mas um local capaz de amenizar a fome e sede dos bichos. E isso, não tem preço.

A promotora diz que os animais que chegam são bem vindos. Sem distinções. Como a atual “hóspede”. Uma gatinha que comeu, bebeu e, por fim, teve os filhotes ali. Segundo ela, a maioria come e desaparece. Mas os que preferem ficar, são sempre presentados com ternura e carinho. Em tempo: “Francisca” foi adotada e hoje recebe o carinho de humanos. Ela agora tem um lar.

Serviço

O telefone da PAIS é (44) 99937-7075