O dia em que Lucas não sorriu. E Débora apareceu
Tudo começou em 23 de junho de 2024. Era o dia do aniversário de Lucas de Meneses Alexandre. Naquela tarde, ele trabalhava normalmente quando a dona da empresa o surpreendeu com um bolo. Velas acesas, refrigerantes e a paralisação dos serviços. Ao seu lado outros tantos colegas para prestar a homenagem. Até aí, tudo normal. Mas, a partir do vídeo feito através do celular de uma das pessoas ali presentes, a vida dele mudou. E “angelicalmente”, para melhor.
O vídeo com a comemoração dos seus 29 anos acabou postado no Instagram. E à sua grata surpresa, uma cirurgiã dentista o assistiu por inteiro. Ela poderia não ter acessado. Ou, nem ter dado bola. Mas diferente disso, não só o assistiu como o analisou por algumas vezes. Lá em Goioerê, onde mora, percebeu que Lucas sorriu diante dos amigos. Mas ao voltar o rosto à câmera do celular, fechou a boca, imediatamente.
Sim, Lucas tem vergonha do seu sorriso. Ele mantém um grande espaço entre os dentes da frente, o chamado diastema. E , após analisar o seu comportamento, a dentista Débora Matheus Andrade, enviou uma mensagem à dona da empresa, que havia publicado o vídeo. E, como a um anjo tocando as trombetas, ofereceu o tratamento por inteiro ao jovem garçom.
“Doeu meu coração. Porque ele abriu o sorrisão. Mas quando viu que estava sendo filmado, fechou o rosto na hora. Eu vi que ele tinha um espaço enorme entre os dentes. Ou seja, pude ver que ele tinha vergonha de mostrar os dentes. E foi por isso que eu ofereci o tratamento. Aquela cena mexeu comigo. Senti a tristeza dele”, explicou Débora, que é formada há 26 anos.
Então, Lucas entrou em contato com a dentista. E feliz da vida com a oferta, começou o tratamento em outubro. Já são quatro meses de idas e vindas ao consultório de Débora, em Janiópolis, distante 33 km de Campo Mourão. “Eu tenho certeza que ela é um anjo. Quem nos dias de hoje faz isso? Dar um tratamento caro a alguém. Ela é diferenciada sim e bastante profissional”, afirmou Lucas.
Aos 29 anos, o jovem mora em Campo Mourão, onde trabalha como garçom, desde os 17. Sempre foi vaidoso. Mas a dentição realmente é um tabu. Algo que o incomoda. Tanto é que, por muitas vezes, sofreu bullying pelos colegas. Alguns apelidos nem podem ser colocados aqui. Mas agora, a vida mudou. E, com o tratamento, o diastema já começou a diminuir. Vida que sorri.
Lucas sempre foi um menino pobre. Foi abandonado pelo pai quando criança. E, com a morte da mãe, há quase dez anos, teve que se virar ainda mais. Então aprendeu o ofício de garçom. E nunca mais parou. Hoje, morando ao lado do irmão mais novo – o qual se sente responsável -, banca a casa sozinho. “Eu não tenho condições de pagar o tratamento dentário. Sempre quis. Mas achava que nessa vida eu não o faria. Mas o destino é cheio de mistérios e surpresas. Estou feliz com o anjo que me apareceu”, disse. Sem exceções, todos os amigos de trabalho de Lucas afirmaram que ele merecia receber o tratamento. Principalmente, por ser um grande profissional e uma excelente pessoa.
Diastema
O diastema é uma das principais características que comprometem a aparência do sorriso. Considerado por muitos como um charme, também pode ser a porta de entrada de uma série de problemas bucais, na falta de uma higiene adequada. O diastema nada mais é do que um “espacinho” avantajado entre dois dentes, normalmente, os frontais superiores.
Por possuir um forte impacto na arcada dentária, normalmente o diastema é considerado por muitos como uma marca registrada. Contudo, essa fresta pode ser uma área propícia para que haja o acúmulo de placa bacteriana. E, desta forma, o aparecimento de outros problemas bucais como cáries e gengivite.
Além disso, o diastema é considerado como um problema bucal ao invés de um charme. Já que em seu contexto de causa, se mostra como um problema de desarmonia do sorriso. Dessa forma, é muito importante que se investigue a causa principal que está por trás dessa característica.
Especialização ao tratamento
De acordo com Débora, o diastema é um problema direcionado à Ortodontia. “Quando o profissional faz uma especialização, além do tempo de estudo ser maior e mais abrangente, ele tem uma visão diferenciada dos tratamentos a serem feitos. Tem mais bagagem , mais experiência e até mais qualidade técnica”, disse ela.
No caso do seu paciente, Lucas, o diastema além de causar problemas gengivais, também lhe causava e, ainda causa, um imenso incômodo social. “Ele tinha vergonha do seu sorriso e isso o constrangia. Acredito que quando o tratamento terminar, ele ficará bem mais contente e terá mais segurança ao sorrir e falar com as pessoas”, concluiu. A ortodontista explica que os procedimentos para o tratamento de Lucas perdurarão por mais um ano. “Temos muito serviço pela frente”.
Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR)
Quando se trata de problemas de saúde, incluindo o aparelho mastigatório, uma vez não diagnosticados ou planejados corretamente, o paciente pode ficar com sequelas importantes. Até mesmo, em alguns casos, irreversíveis. De acordo com Ricardo Moresca, vice-presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), a preocupação vem de encontro à atuação de pessoas não qualificadas no setor. “É muito importante que qualquer tratamento ortodôntico, seja dos mais simples aos mais complexos, seja sempre abordado por pessoas qualificadas”, disse.
Segundo ele, a ABOR prima por zelar por uma ortodontia de qualidade, principalmente, através de uma qualificação de seus profissionais. “Isso tudo para melhorar também os serviços levados à toda população”, explicou.
Moresca ressalta que problemas dentários podem levar a uma série de transtornos às pessoas. Seja na mastigação, nas articulações da mandíbula ou, até, gerando dores de cabeça. “Problemas ortodônticos podem dar origem a consequências muito inconvenientes. Além dos problemas estéticos”, disse. Fora isso, algumas deformidades também ocasionam problemas sociais, como o caso de Lucas, narrado acima, quando a auto estima passa a ser afetada.