O motoqueiro Andreiow continua o mesmo

Cristiano Andreiow sofreu um acidente em 2018. Estava de moto quando um carro bateu contra ele. Na colisão, acabou sem os movimentos do braço direito. Mas o sujeito que sempre ganhou a vida arrumando a parte elétrica de veículos, continua fazendo o que aprendeu. Prova de toda a superação humana, se reinventou. Criou e desenvolveu ferramentas. Nem mesmo as dificuldades o pararam. Hoje, três anos após a colisão, é um destemido profissional elétrico. E a bem da verdade, exemplo a muita gente.

Aos 33 anos, Cristiano mora numa casa pequena, no jardim Ipanema, em Campo Mourão. Ao lado da esposa, Aline, não cessou os desejos da vida. Então, montou a própria oficina no quintal. Lá, num ambiente completamente organizado, tudo está no local. E ele faz questão em mostrar. Afinal, é ali onde satisfaz um dos propósitos terrenos: consertar motocicletas.

Conta que estudou pouco, até a oitava. Mas ainda menino, jamais almejou um diploma. No seu pragmatismo, queria mesmo trabalhar. Então, desde os 13, arregaçou as mangas e partiu pra guerra. Iniciou em oficinas da cidade. Ficou craque em chicotes elétricos. Se especializou em motos, carros, caminhões e ônibus. Nunca mais parou. O destino estava decretado.

Com fama de bom profissional, trabalho não faltava. A grana vinha alta. Ele estava feliz. Pelo menos, até novembro de 2018. Numa das ruas próximas ao cemitério São Judas Tadeu, uma motorista bateu em sua moto, uma Suzuki 750 cilindradas. Não fosse o capacete, certamente, não estaria mais para contar a própria história.

Naquele dia, quebrou a clavícula, duas costelas, a omoplata e quatro ossos do braço direito. Foi ao hospital, permanecendo 12 dias na UTI. E não foi só isso, não. As más notícias não paravam em chegar. Dias depois descobriu-se que o plexo braquial – conjunto de cinco  raízes nervosas, que se originam na região cervical e formam um emaranhado nervoso que segue próximo à região da clavícula – havia sido comprometido. Os movimentos do braço já eram. Mas as dores, até hoje, permanecem.

Fora do hospital, na luta até sua recuperação, a vida não podia parar. Ele sabia disso. E, como toda superação, dos ditos humanos, se reergueu. Principalmente, ao lado de Deus, a quem não se separa. “Eu sempre tive duas paixões: andar de moto e consertar moto. Descobri que podia continuar. E foi o que eu fiz”, disse. Agora, com apenas um braço, percebeu que, andar de motocicleta, passou a ser perigoso. Mesmo assim, improvisou freio e acelerador na mão esquerda. A missão, embora difícil, não foi impossível. Já os consertos não eram problema. Ele adaptou ferramentas em sua oficina. Arruma e constrói tudo. Não há obstáculos. Cristiano sempre se virou. Ainda mais, ao lado do bom e clássico Rock and Roll.

Da Suzuki que andava, não restou quase nada. O que sobrou, vendeu como sucata. Mas, destemido, batalhou novamente. Em janeiro deste ano, iniciou o projeto para construir o próprio triciclo. Amigos o ajudaram com peças. E, de pouco em pouco, terminou a obra. E é com a nova máquina, que pretende continuar com os planos ao lado dos companheiros, motoqueiros: o Clube Abutres Raça em Extinção.

Cristiano conta que faz parte do clube já, há alguns anos. Trata-se de um time espalhado por 22 países, com mais de oito mil membros, cuja sede fica em São Paulo. Em Campo Mourão, ele é o sub diretor. Leva na farda o sobrenome, Andreiow, uma espécie de nome de guerra. “Pertenço ao clube com muito orgulho. Fazemos muitas ações voltadas ao próximo. E isso não tem preço”, revela.

Agora, sobre o imponente triciclo, com motor de Fusca 1300, pretende colocar Aline no banco de trás, e rumar ao lado dos amigos, por estradas infinitas. Percorrer o país numa busca que somente os Abutres sabem. Não há limites a Cristiano. Não existem obstáculos aos humanos. E, quando a vida para, por algum motivo, é hora de se reinventar. De recomeçar.