O Natal de Nicolas foi abençoado. E com muitos biscoitos

Nicolas tem apenas nove anos. Mora em uma meia água, ao lado da mãe, Floripes e outros três irmãos. E é lá, na rua Santos Dumont, 1466, em Peabiru, onde iria passar o Natal sem alimentos e brinquedos. A família é bastante pobre. Com exceção de Deus, carente de quase tudo. Há alguns dias, o menino escreveu uma carta destinada ao Papai Noel. Deixou sobre o para brisas de um carro, em Campo Mourão. Nela, não pedia muito. Somente, biscoitos, a ele, e comida, à mãe. E, ainda, se fosse possível, um carrinho, para brincar. O pedido foi colocado nas redes sociais, até, thaynara Rosa de Moraes, se comover com a história.

Aos 25 anos, a jovem é tão pobre quanto a família de Nicolas. Mesmo assim, decidiu agir. Casada e mãe de duas crianças, ela não aceitou que o menino não ganhasse os biscoitos que tanto pedia. Então, fez uma ação no FaceBook. E conseguiu muitas coisas. Cestas básicas, brinquedos, além de muitos biscoitos. Salgados, recheados, de todo o tipo. Ontem, ela levou a encomenda do Papai Noel a Nicolas. E ele não acreditou.

Nicolas, segundo a mãe, é autista. Frequentou a Apae até esse ano. Mas, como toda criança, gosta de bolachas e chocolates. Sem os ter, o jeito foi pedir. E ganhou até mais do que almejava. A criança quase não fala. Tímida demais. No entanto, não conseguiu esconder a felicidade. “Somos muito pobres. Todo dia ele pede o biscoito. Mas, sem dinheiro, não posso oferecer”, explica Floripes. 

A família mora num imóvel ainda sem reboco, herança dos pais mortos. O teto, sem forro, revela buracos. Em dias de chuva, tudo molha. Além disso, a fiação é precária e está exposta. Na verdade, um misto de construções erguidas a quatro mãos. De um lado, reside o filho mais velho, com a esposa. Do outro lado da parede, restou uma meia água. Local onde Floripes mora com os quatro filhos menores. São dois quartos, um banheiro, sala e cozinha juntas. “Quando chove, é melhor nem entrar no banheiro. Tudo ali alaga”, disse. 

Conta Floripes que a vida nunca foi gentil. A mulher de 43 anos, possui nove filhos. Do primeiro casamento, nasceram seis. A união ia bem, até o companheiro se entregar ao álcool. “Ele bebia demais. E tinha momentos em que se mostrava bastante violento. Algumas vezes tínhamos que fugir para o mato. Dormíamos lá. Não era fácil”, revelou. Mais tarde, após a separação, encontrou outro companheiro. Nasceram mais três filhos. A convivência também não deu certo. Cinco filhos cresceram e casaram. Floripes ficou só, ao lado de outros quatro. Os menores.

Hoje, desempregada, ela vive com o auxílio emergencial do governo e de uma pensão de R$300, do ex marido. Com despesas diárias, a grana não chega ao fim do mês. Com o coração partido em não poder atender o apelo dos filhos, ela ajudou Nicolas a escrever a carta. Não sabia se seria atendida. E a surpresa veio ontem. Mais que presentes, um gesto de fraternidade. Humanidade. 

Thaynara é uma mulher bastante simples. Passou por muito sofrimento na vida. E sempre foi pobre. Não é errado dizer que já comeu o pão que o diabo amassou. Até pouco tempo, era muito despojada. Arredia aos rituais politicamente corretos da sociedade. Mas arrumou um companheiro. Casou. E teve dois filhos. Ela sabe o que é ter um filho pedindo algo que não se possa dar. “As vezes vejo crianças comendo doces, bolachas e deixando parte deles no lixo. Isso não pode. Quando vi o menino pedir um biscoito, não pensei duas vezes”, disse ela, chorando. 

Mas, desta vez, o universo parece ter conspirado pra que tudo desse certo. Thaynara, pobre, levantou a bandeira à família, carente. Floripes e os filhos terão um final de ano com alegria. Ao contrário de outros, quando comiam apenas arroz. “Esta menina e todos os outros que doaram são verdadeiros anjos. Não tenho palavras para agradecer”, disse.