Padre engraxa poste para evitar furto à fiação

Nos últimos meses, ladrões não tem dado trégua ao Padre Nilson Reis. Responsável pela Igreja Católica do Lar Paraná, dia a dia, ele vem colecionando prejuízos já, aproximados aos R$15 mil. Gatunos levaram de tudo, desde panelas a fiação elétrica. Esta última, inclusive, deixou a Casa de Deus às escuras. No entanto, pelo menos em relação aos fios, o padre não esquenta mais a cachola. Isso porque, com a ajuda de um vizinho, passou graxa no poste. Assunto encerrado. “A ideia funcionou. Nunca mais levaram a fiação”, disse, aliviado.

São inúmeros furtos. E de todas as espécies possíveis. Roubam de tudo. Dias desses a câmera gravou um indivíduo, de cara lavada, retirando e levando a lixeira de ferro. Ele não se incomodou por nada. Nem mesmo fazendo o que fez, em plena luz do dia. Os furtos somam-se na igreja, como na casa paroquial, na mitra diocesana e na obra, ainda em construção.

Numa outra gravação, a câmera flagrou outro sujeito, também de cara limpa, pulando os muros da construção com ferramentas elétricas. Ali, já foram levados botijões de gás, cadeiras, motores de betoneira, fiação, maquita e bicicleta. “O que mais senti foi perder meu notebook. Perdi vários documentos da igreja. Tudo foi levado”, revelou. O aparelho estava em seu escritório, na secretaria da casa paroquial.

Segundo o padre, as ações são sempre independentes. E não têm hora a acontecer. Para ele, grande parte dos furtos é cometido por pessoas adoecidas pelas drogas. As quais furtam para trocar por entorpecentes. “Aqui no Lar Paraná existem umas 30 bocas de fumo. Uma situação difícil de reverter”, disse.

O pároco lembra que ao entorno da Paróquia Nossa Senhora do Caravaggio não falta policiamento. No entanto, a ousadia dos ladrões é maior que o temor pela lei. Há uma semana, uma secretária do padre avistou um grupo de jovens no interior da obra, chamou a atenção, e pediu para que deixassem o local. Não prestou. Foi agredida. “O mais curioso é que um menor de 14 anos liderava o grupo”, disse.

Até há algum tempo, o padre fazia boletins de ocorrência junto à polícia, os conhecidos “Bos”. No entanto, como jamais surtiram efeito, deixou de fazê-los. “Nunca encontraram nada que foi levado daqui. E mesmo os flagrantes, com o rosto dos ladrões em vídeo, não adiantam de nada. A polícia os encontra. Os leva até a delegacia. Mas, minutos depois de serem ouvidos, são soltos. É desanimador. Lamentável”, disse.

O advogado Márcio Berbet explica que, no Brasil, pessoas punidas por crimes de até quatro anos de reclusão, são passíveis por responder o delito em liberdade. “Mesmo crimes mais graves, pode o acusado, no entendimento do magistrado, aguardar o julgamento em liberdade. Isso porque a lei permite. Deveria ter alteração na legislação, com agravamento das penas. Mas, não somente isso. Um programa no qual o infrator viesse a realmente se recuperar e ser inserido no mercado de trabalho”, acredita ele.

De certa forma, Padre Nilson e muitas outras pessoas da cidade, estão de mãos atadas. Enquanto leis mais severas não são formuladas, o jeito é dificultar as ações dos ladrões. Como a graxa passada no poste. Uma atitude até cômica, não fosse trágica. É o que tem pra hoje.

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