Pet não convencional: Márcio e sua jiboia-arco-íris da Amazônia

A Evaah, uma serpente popularmente conhecida como jiboia-arco-íris da Amazônia ou jiboia-vermelha, cujo nome científico é Epicrates cenchria, é o pet não convencional ‘mais diferente’ que o biólogo Márcio Netto já teve. Ele contou à TRIBUNA um pouco da história do animal, de 7 anos de idade, e explicou como é a rotina com a serpente, que já “faz parte da família” há cerca de 6 anos e meio.

Não é de hoje que Netto gosta da natureza. Foi o trabalho do pai, Abelar das Carpas (in memoriam), que o instigou a querer conhecer mais sobre a natureza e se formar em Ciências Biológicas, pelo Centro Universitário Integrado, em 2015. Sobretudo na década de 1990, Abelar das Carpas era bastante conhecido em Campo Mourão por ter um tanque com centenas de carpas, em que ele “adestrava” os peixes.

“Desde que nasci, fui criado com vários peixes, e meu pai, desde sempre, me ensinou a amar e respeitar a natureza e seus elementos”, contou o biólogo. Há aproximadamente 6 anos, Netto mora em Chapecó, no estado de Santa Catarina, e trabalha na área de consultoria ambiental. Porém toda a família permanece em Campo Mourão. “Sempre que posso, venho para cá”, disse.

O biólogo não vem sozinho. “Todas as férias de fim de ano eu vim com minha esposa e a Evaah. Nesse último fim de ano, viemos eu, minha esposa, a Evaah e meu filho de dois meses e meio”, comentou. Para fazer viagens transportando a serpente, Netto precisa tirar o Guia de Transporte Animal (GTA), um documento emitido a partir de uma avaliação de médico veterinário.

Apesar de o biólogo já ter tido, no passado, aquários com alguns peixes, além de já ter cuidado de uma aranha-caranguejeira, a jiboia é considerada por ele o pet mais exótico que já teve. “O motivo que me levou a ter uma cobra como pet foi desde criança achar esses animais incríveis”, falou, completando que, agora, como biólogo, ele também desenvolve palestras voluntárias de Educação Ambiental em escolas, visando à ampliação do conhecimento, desmistificação e proteção desses animais na natureza.

Netto é tutor legal de Evaah. “Esses animais devem ser adquiridos de criatórios legalizados e autorizados pelo Ibama a comercializarem essas espécies”, enfatizou, destacando que é crime ambiental retirar qualquer animal da natureza sem a devida autorização do órgão ambiental para domesticar.

No Brasil, é possível ter algumas espécies de serpentes, lagartos, iguanas e diversas aves de forma legal, sendo considerados pets não convencionais. Porém, nenhuma espécie é comercializada legalmente no país se for peçonhenta. “Assim, a Evaah não possui nenhum tipo de peçonha/veneno”, ressaltou, ao acrescentar que, como há uma ‘serrinha’ nos dentes dela, é preciso apenas lavar a região com água e sabão, caso haja alguma mordida.

O biólogo contou que já teve pequenos acidentes com a cobra. “Nesses seis anos e meio que sou tutor dela, levei apenas duas mordidas, logo no início, mas foi por erro de manejo meu na época, e não por agressividade dela”, explicou.

A jiboia trouxe surpresas e certo receio para a família. Segundo Netto, a mãe dele chegou a dizer que, se ele comprasse uma cobra, ela não entraria mais em casa. Hoje em dia, ela tem um pensamento totalmente diferente, segundo ele, e até interage com o animal. Reação parecida teve a esposa dele.

Na época, eles namoravam, e ela ficou com receio da ideia. “Mas, com poucos dias após a Evaah chegar em casa, eu consegui passar confiança a ela. Hoje em dia, quando precisa, minha esposa me ajuda nos cuidados da serpente”, falou.

Ele sinalizou, ainda, que Evaah é bastante tranquila. Inclusive, em breve, farão até fotos do pet com o filho. Conforme o biólogo, a chegada recente do bebê não interfere em nada no manejo da serpente, visto que ela fica fechada em um terrário e todos os cuidados são mantidos normalmente.

Cuidados com Evaah

Netto esclareceu que os cuidados com a jiboia são bem diferentes dos voltados para um cão ou gato, por exemplo. “Apesar de as medidas serem ‘simples’, é necessário um certo conhecimento do tutor sobre a biologia e o comportamento natural de cada espécie”, frisou.

O recinto do animal pode ser um terrário, devendo ter, basicamente, uma toca e uma fonte de aquecimento para que o animal possa regular a temperatura corporal de acordo com suas necessidades. Além disso, é preciso manter a frequência adequada na alimentação e deixar água fresca disponível. “Inclusive, ela adora ficar dentro da água”, destacou o tutor.

O biólogo também informou que esses são animais ectotérmicos, ou seja, não produzem calor próprio. Por isso necessitam de fontes externas de calor para aumentarem o metabolismo. Uma das formas de o animal se acostumar com o contato humano e se tornar ‘dócil’ é fazer o manejo diário da serpente pet, conforme explicou Netto.

Atualmente, Evaah tem cerca de 1,70 metros e pesa 2,750 quilos

Características e curiosidades da “serpente pet”

O tamanho de Evaah, atualmente, é de cerca de 1,70 metros. Ela pesa 2,750 quilos. No entanto, a espécie da jiboia-arco-íris da Amazônia raramente supera 2 metros e 4 quilos, de acordo com o biólogo. A frequência de alimentação da espécie é curiosa. “Varia de sete em sete dias, quando filhotes. Quando adultas, se alimentam a cada trinta dias”, disse Netto.

No caso de animais como a Evaah, a alimentação recomendada é apenas roedores. A serpente pet consome um ratinho de cerca de 350 gramas, a cada 30 dias. “Os roedores eu adquiro já abatidos e congelados de biotérios”, esclareceu. Na natureza, essas cobras são predadoras naturais de pequenos mamíferos, principalmente roedores, mas também podem se alimentar de aves, anfíbios e lagartos.

Netto também comentou que há 2 momentos específicos que não se pode fazer o manejo da serpente. “Depois que ela come, tem que ficar pelo menos cinco dias sem manejo até ela completar a digestão. E mais ou menos, a cada 60 dias, quando ela troca de pele, que é sinal de crescimento”, disse, ao complementar que evita fazer o manejo dela nesse período.

Em cativeiro, a estimativa de vida dessa espécie é de 20 a 30 anos, mas na natureza raramente ultrapassa 20 anos, já que há maior chance de doenças e parasitas, além de a jiboia ser alvo de predadores.

A serpente pet já encantou todos na família. Embora a mãe de Márcio Netto não ter recebido muito bem a ideia do filho de ter uma cobra, na época, hoje ela até interage com o animal