Seca persiste e já causa prejuízo bilionário na safra de verão

A grave estiagem, influenciada pelo fenômeno La Niña (que causa o resfriamento de água do Oceano Pacífico na Costa Sul do Peru), vem causando prejuízos bilionários com a perda da safra de verão na Comcam e em todo o Paraná.

De acordo com alguns produtores rurais ouvidos pela reportagem da TRIBUNA, a quebra nas propriedades já ultrapassam 40%. Em algumas propriedades a soja está morrendo ainda nova. Já em outras, não houve formação adequada devido ao déficit hídrico. O mesmo ocorre com o milho. A última chuva que caiu antes do Natal gerou aos produtores a expectativa de “estancar” as perdas em algumas áreas, porém, o cenário voltou a ficar preocupante, uma vez que não choveu e os dias estão com temperaturas cada vez mais altas. Combinações que vêm devassando as culturas de verão.

O secretário Estadual da Agricultura, Norberto Ortigara, divulgou um vídeo público, em que traz de forma resumida a situação no Estado. O cenário é bastante preocupante: uma quebra de 37,8% da safra de soja. Era para o Estado colher mais de 21 milhões de toneladas e já perdeu quase 8 milhões. A safra poderá ficar próxima de 8 milhões de toneladas. Um prejuízo superior a R$ 14,3 bilhões.

Também o milho, de suma importância para toda a cadeia, houve perdas bastante elevadas, conforme Ortigara: 42% da expectativa de produção não mais se realizará. São mais 1,7 mil de toneladas que deixarão de ser colhidas, um prejuízo de R$ 1,5 bilhão somente com esta cultura.

“Estamos enfrentando uma profunda crise hídrica há cerca de dois anos. Talvez a maior da nossa história neste último século. Em 2021 já perdemos muita produção. Mais de R$ 9 milhões do milho safrinha. Tínhamos expectativa de recuperar este prejuízo confiando que teríamos uma safra 2021/22 cheia. Ela começou a ser instalada de forma adequada, com boas condições, mas lamentavelmente o quadro de La Niña, combinado com elevadíssimas temperaturas fez a gente perder grande parte do esforço de produção”, lamentou o secretário.

Conforme produtores rurais, a cada dia sem chuva as perdas aumentam no campo. Para ser ideia, as primeiras áreas colhidas na região de Marechal Cândido Rondon estão refletindo em perdas consolidadas de 65% para a safra de soja e de 85% para a primeira safra de milho, com a situação podendo se agravar ainda mais. Algumas lavouras pontuais já foram colhidas e os resultados demonstraram uma produtividade de apenas 8 sacas por hectare.

Ortigara destacou ainda perdas significativas na produção de feijão, batata, e silagem que não foi colhida, o que afetará produção de gado de corte e leiteira. “Teremos uma redução consistente na produção de leite estimada em 200 milhões de litros”, lamentou. “Isso tudo já fez subtrair R$ 16,8 bilhões da nossa economia, dinheiro que fará falta no fluxo de renda do nosso produtor”, ressaltou.

O secretário lembrou que o Governo do Paraná decretou situação de emergência econômica, permitindo que os produtores rurais façam renegociações junto a fornecedores e bancos. “Estamos atentos junto com os municípios que são mais de 144 em situação de emergência para que juntos possamos enfrentar as dificuldades de abastecimento de água para animais e produção. Não temos ainda um conjunto de medidas efetivas. Estamos avaliando junto com os prefeitos para primeiramente estabelecer uma melhor condição de abastecimento de água para depois, cada um do seu jeito, buscar renegociar as dívidas”, frisou Ortigara.

Ele afirmou que as perdas são muito relevantes para a economia do Estado. “Mas temos plena condição de quem sabe nas próximas safras recuperar esses prejuízos. É um quadro ruim, não desejável, mas é realista. Vamos enfrentar com dor, mas com muita altivez porque faz parte do nosso jeito produzir agricultura, especialmente a céu aberto”, acrescentou.